A Surpresa

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Uma semana se passou desde que Antônio encontrou aquela moça chorando no lago e que teve a brilhante ideia de fugir. É claro que Vicente o ajudou, não podia confiar em Afonso para isso, e estava repassando os últimos passos para o plano funcionar quando decidiu que ia atrasá-lo mais um dia.

Ouviu seus pais deixarem escapar que os Albuquerque estavam organizando uma espécie de jantar de noivado e o coração mole de Antônio ficou um pouco sentido no que dizia respeito a fugir e deixar uma moça que ele sequer conhecia desamparada.

Não é que ele queria se casar com ela, longe disso, mas pensava ser injusto ao menos não se dar uma chance de conhecê-la.

- Você é um idiota. – Vicente afirmou, categórico. – Não se vai conhecer a pessoa de quem pretende fugir. Já raciocinou hoje Antônio?

- É o mínimo que eu posso fazer por ela, Vicente. – O advogado disse firmemente. – Afonso vai estar lá também, quem sabe ele não se interesse por ela e vice-versa?

- Você sabe muito bem que os interesses do seu irmão são outros.

- Ele vai precisar mudar de ideia em algum momento ou vai ser deserdado.

- E você acha mesmo que seus pais vão lhe manter a herança depois que fugir desse acordo? – Indagou o jornalista.

- Obviamente que não. – Antônio deu de ombros. – Ao menos eu tenho como sobreviver sem o dinheiro deles, Afonso não.

- Eu duvido que Afonso roube a atenção da moça, ou que ela se atraia por ele, ainda mais se ela for igual as outras.

- Vamos torcer para que isso aconteça, então ela não ficará tão desapontada quando perceber que seu pretendente original está há quilômetros de distância daqui, afinal vai ter um casamento garantido de qualquer forma.

Antônio tinha planos de retornar para Lisboa e conversar com Luís sobre algum emprego na Espanha ou até mesmo na França. Não teria como ficar em Portugal após fugir de seu pai, afinal iria ser encontrado uma hora ou outra e, quando isso acontecesse, talvez fosse destruído.

No entanto, iria sentir falta da Quinta do Girassol e dos caminhos criados pelas plantações de uvas onde havia crescido. Sentiria falta de cada canto dessas terras, sendo uma das mais recentes, a do lago da divisa.

Ele não entendia por que aquele lugar, aquela garota, havia ficado na sua mente. Fora uma coisa tão rápida, uma tarde qualquer. Não, qualquer não. Eles haviam partilhado um momento importante, haviam partilhado segredos, sonhos... Ela era a única pessoa, além de Vicente, que sabia de seu plano de fuga, que sabia que ele estava disposto a tudo para não se casar e não cumprir seu dever.

Antônio se pegava divagando sobre aquele momento diversas vezes ao dia, pensando em como aqueceu seu coração vê-la sorrindo. Desejou ter conhecido o som da sua risada também, mas ela estava triste demais para sorrir livremente, o que era uma pena pois deveria ficar ainda mais linda gargalhando.

O advogado precisou balançar a cabeça e afastar da mente aqueles pensamentos.

Não iam se encontrar novamente.

- Eu vou ao tal jantar de noivado, - Antônio levantou decidido e deu um sorriso maroto - mas ela não vai me querer.

- Antônio...

- Confie em mim, Vicente. – O advogado deu uma piscadela para o amigo. – Eu tenho um plano.

***

Catarina ainda não conseguia conversar normalmente com os pais e não fazia ideia de quando iria fazer isso novamente.

Seu pai a chamava para lhe ajudar nos assuntos da fazenda, mas ela sabia que era mais por culpa do que por necessidade. Trabalhar a ajudava a manter a mente no lugar e não pensar no seu futuro, então aproveitava bem o tempo focando em suas atividades, conversando com ele o mínimo necessário.

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