O Retorno

65 8 7
                                    

Antônio de Castro havia desistido da agitada vida em Lisboa por livre e espontânea pressão.

Ora, é claro que, como todo bom advogado recém-formado e possuidor de boas condições financeiras, o jovem estava aproveitando sua estadia na capital ocupando cada segundo dos seus dias, desde seu trabalho na empresa do amigo Luís Santos durante o dia, a festas regadas com bastante vinho e mulheres à noite.

E graças a Deus que os vinhos que regavam suas noites eram os vindos da cidade de Porto. Não precisava lembrar de casa todos os dias de sua vida ali. Não precisava lembrar que a Quinta do Girassol estava apenas esperando que concluísse sua graduação para retornar ao trabalho que infelizmente lhe era de direito.

Até que seu pai o lembrou.

Manuel de Castro não aguentava mais esperar que seu filho mais velho terminasse os estudos. Antônio tinha responsabilidades com a Quinta desde que nascera e seu pai realmente esperava que o jovem não se deslumbrasse com todas as festividades e mulheres que Lisboa poderia oferecer, ainda mais com a surpresa que havia preparado. Ele só esperava que o filho não o odiasse quando descobrisse o que estava por vir.

Antônio recebeu a carta de seu pai na manhã de uma quarta-feira de maio, quando estava no escritório a trabalhar.

"Antônio,

Percebo que você já não envia mais notícias tão frequentemente para casa. Tua mãe está a desfalecer de tamanha preocupação, não sabe em que te meteste ou com quem andas.

Ainda estás a trabalhar no escritório de Luís, não é? Ou esta mensagem será escrita em vão, pois será entregue ao lugar errado, visto que este foi o endereço que tivemos na última missiva que enviaste.

Pois bem, vou direto ao assunto: preciso que voltes para a Quinta do Girassol o mais rápido que puderes. Estou a fechar um acordo importante com José Augusto de Albuquerque e preciso que estejas presente. Tenho certeza de que é um acordo que irá beneficiar muito bem o lado de Albuquerque e, mais ainda, o nosso.

Espero-te em casa até o final do inverno.

Teu pai."

O jovem advogado não sabia o que esperar desse tal acordo que o pai mencionara na missiva. De que forma iria beneficiar os Castro? E os Albuquerque? Até onde Antônio se lembrava, José Augusto de Albuquerque era um dos homens mais poderosos da região de Alto Douro, dono da fazenda de gado mais prolífera da área. Não fazia sentido fazer um acordo de tamanho porte com uma vinícola, afinal, eram negócios completamente distintos, apesar de ambas serem famílias extremamente poderosas em toda Portugal.

O que será que seu pai estava tramando e o que Antônio tinha a ver com isso? Seu Manuel nunca precisou que o filho estivesse presente para fechar qualquer acordo que já fizera em sua vida, apesar de tê-lo forçado a participar de vários para "aprender o negócio da família".

Antônio estava com uma pontada de dúvida sobre o assunto. Iria mesmo largar o emprego estável em Lisboa para retornar a Alto Douro?

Depois de alguns dias refletindo sobre o assunto, ele tomou sua decisão final. Sentia que aquele assunto, o que quer que fosse, iria mudar sua vida para sempre.

- E vais mesmo voltar para o interior? – Luís perguntou ao amigo, que havia ido ao escritório comunicar ao amigo e chefe que precisava tirar algumas semanas para resolver os problemas familiares.

- Preciso ir, meu amigo. – Antônio deu de ombros. – Mas sabes muito bem que, se eu pudesse, deixaria toda a Quinta do Girassol nas mãos de Afonso e ficaria em Lisboa para sempre.

I'm with youWhere stories live. Discover now