Mania do oráculo

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Congelei por um segundo –um segundo apenas, pois assim que absorvi suas palavras, com uma coragem e ousadia que não sabia que tinha, solte:

–Se depois de nove anos, de tanta investigação e energia gasta, segundo você, só conseguiram me descobrir agora, quando me descuidei, isso diz mais sobre seu reinado do que sobre mim. Talvez não seja alguém nessa situação sendo subestimado e, sim, alguém se superestimando.

Depois de ditas, tudo que eu queria fazer era pegar aquelas palavras e enfiá-las de volta pela minha garganta, no entanto, aquilo me fez sentir tão bem que eu não sabia que era possível. Observando seu rosto, eu notei surpresa em suas sobrancelhas, mas não era de forma negativa. Ela estava interessada em quem eu era. Depois de uma pausa, como se as paredes precisassem respirar assim como meus próprios guardas (principalmente Kai, não tendo viso seu rosto, apenas escutando seu ar sendo roubado dele), voltou com sua ferocidade para a discussão.

–Você fala como alguém já experiente e sua reputação a precede, grande demais para alguém tão jovem. Devo admitir, sua aparência me surpreendeu na primeira vez que te vi. –"E não seria essa a primeira vez que ela me vê?" pensei e logo costurando acontecimentos desde que furtei aquele maldito anel de borboleta percebi que eu passara um tempo desacordada. O que poderia ter acontecido durante essa lacuna? –Quantos anos você tem?

Ela se divertia comigo, constatei, então senti uma espécie maior de liberdade, ainda injetada com a estranha coragem, com o péssimo sentido de noção e com a adrenalina.

–Tenho mil. Sou um dos deuses de muitas faces, afinal. –Um sorriso ameaçava surgiu no canto de sua boca, entretida.

–Então esse é o seu nome favorito? –Sentia conforto pelo fato dela não conhecer meu nome verdadeiro, não conseguiria imaginar ela me chamando pelo meu nome de nascimento.

–Na verdade, prefiro Sombra.

–Com certeza, combina mais com você. –Quando ela se levantou do trono, pensei fortemente em desviar meu olhar, contudo, ela parecia magnética, não permitindo que meu foco fosse para outro lugar. Seus cabelos platinados prateados parecendo ondas metálicas caindo pelos ombros, seus olhos cinzas, como duas tempestades prontas a estourar a qualquer momento. Ombreiras metálicas extremamente ornamentadas em um trabalho excepcional, quase combinando com seus mechas e um vestido branco solto, mostrando muito bem seu colo e boa parte de sua perna esquerda, onde tinha uma fenda. Ela toda parecia surreal, como uma boneca de porcelana sem a parte do "delicada". –Sem mais delongas, gostaria de te explicar o motivo pelo qual você está aqui.

Oh, deuses. Com sua voz soando em todos os cantos da minha mente, minha cabeça finalmente fez uma última conexão: o rapaz que eu havia enfiado a minha adaga era importante? Digo, importante no nível que a rainha se importaria?!

–Antes que vossa majestade possa começar a dizer seu motivo, como está a situação do homem que... bem... eu esfaqueei? –Ela me encarou com uma sobrancelha arqueada, vendo-me, pela primeira vez, o mais próximo de defensiva que eu poderia estar para, logo após, dar um esboço de sorriso e se virar para Kai.

–Traga Nikolai para cá. –Olhei para trás, a fim de vê-lo e captei sua reverência cheia de respeito e devoção, o mais sério que eu já havia o visto e, resignado, se dirigiu à uma das entradas da sala do trono. Durante esse tempo, Miranda ficou apenas olhando para mim como se visse um animal com o qual você não está familiarizado com a espécie. Quando passos começaram a ressoar pelo local novamente, ela começou: –Sabe, realmente, creio que esfaquear o Auxiliar da Rainha não é tão sábio, mas dou créditos a você a se sentir em perigo e conseguir agir para se defender e, como pode ver, ele está em perfeitas condições.

O nome da sombra - Crônicas de sombra e luzWhere stories live. Discover now