Capítulo 2

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10/05/2019 - Nova York, Manhattan, Upper East Side.

[ Visão de Aya Millenis]

" — O que diabos há com sua família? Eles não só me desrespeitam, mas fazem de mim seu brinquedo, eu faço os outros de brinquedo, não quero ser um! — Livius I fala para Nike."

— Vai perder o horário, Aya? — desvio minha atenção da grande tela de vidro presa na parede de cor verde água ao ouvir a voz da minha irmã mais velha.

Fico alguns segundos a olhando sem entender, ela apenas ergueu as sobrancelha sem me dizer nenhuma palavra, e como se uma luz brilhando no fundo da minha mente me lembro da escola, olho no relógio da parede e vejo marcando sete e cinco da manhã, arregalo os meus olhos, virei a noite assistindo esse anime e nem sequer fiz a lição de casa e tenho apenas vinte e cinco minutos para chegar na escola.

— Merda! — xingo em voz baixa, mas os tímpanos de minha irmã são afiados, isso não é normal.

— Olha a boca Aya, ou conto pra mamãe — ela me ameaça e sai do quarto.

Com os anos se passando, eu e minha irmã não temos mais nada em comum, antes éramos amigas, mas hoje a nossa relação se trata apenas de implicâncias — sendo que a maioria vem da parte dela — não sei se fiz algo para ter afundado a nossa cumplicidade de pequenas. Mas enfim, se fiz algo, ela deveria ter me contado, como não falou, também não vou ficar perguntando.

Com dor no coração desligo a televisão, ontem comecei a assistir o anime "Soredemo Sekai wa utsukushii", é sobre um jovem rei, que mal saiu das fraudas, ele casa com uma princesa de outro reino bem mais velha que ele e que ainda por cima ela tem o poder de fazer chover quando canta, e sua voz é muito linda. estou roendo as unhas ansiosa para saber como isso termina.

Corro para o banheiro do meu quarto e nem tomo banho, apenas jogo uma água no rosto e escovo meus dentes, pego meu uniforme, a blusa tem sua coloração azul marinho e a saia é de cor preta, ela vai até um pouco acima dos joelhos. Volto para o quarto e pego minha mochila e o fone de ouvidos que estavam encima da cama.

Amo eles, eles tem duas orelhinhas de gato na cor azul, pra mim essa é a melhor cor do mundo, deixo meu cabelo solto e passo pela porta indo para o corredor que me levará para a sala, lá não tem ninguém, meus pais já foram trabalhar e minha irmã com certeza já deve ter ido pra faculdade.

Saio de dentro de casa, a escola fica a oito quarteirões, apresso meus passos, andar enquanto se ouve música é relaxante, tenho um gosto peculiar para música, gosto de ouvir sobre animes, raps de animes para ser mais exata, nunca encontrei ninguém além de mim que gostasse disso. Mas enfim, é o que eu gosto e fim.

Não sou muito sociável, não tenho amigas, estranho não? Mas depois de certos ocorridos prefiro ficar longe das meninas, elas são falsas e só pensam em si mesmas.

Não tenho amigos homens, sou feia demais para alguém querer ao menos que fosse amizade. Mas esse fato não me impediu de manter uma paixão em segredo por cinco anos. Conheci ele em uma festa social da empresa onde meus pais trabalham, eu já estava com doze anos de idade, me encantei por ele e dois anos depois, ele foi transferido para o mesmo colégio que eu, só faltei pular de alegria no meio da sala. Mas me contive.

Fiquei três anos apenas o observando de longe, ele é ótimo nos esportes e chama atenção de todas as meninas, elas praticamente babam quando ele passa, mas também, com o físico que ele desenvolveu é quase impossível não admirar.

A algumas semanas atrás, criei coragem e me declarei a ele, estávamos no corredor, era o final das aulas, quase todos já tinham ido embora. Fiquei parecendo um tomate mas botei em palavras tudo o que guardei por cinco anos. Nunca irei esquecer o seu olhar, frio... Ele se virou e foi embora sem me dizer uma palavra sequer.

Não consigo segurar as lágrimas e elas caem grossas pelo meu rosto.

Suzana apareceu com várias outras meninas, todas usando o uniforme muito mais curto do que o permitido, ela desfilou em seus sapatos e parou ao meu lado, ela disse que Leandro era muita área para o meu carrinho de mão, ela e as outras riram. Sai correndo de lá e fui pra casa, essas são lembranças que não gosto de lembrar.

Decido correr, ainda faltam três quarteirões, olho no relógio e faltam seis minutos, preciso me apressar. Quando chego o portão está quase se fechando, o porteiro está falando com alguém mas ele me ver correndo e novamente abre o portão falando:

— Opa! Mais uma que quase perde o horário.

Entro na escola e sugo o máximo de ar que minhas narinas permitem, estou muito sedentária, preciso resolver isso na minha vida.

— Bom dia, senhor Mouares — falo simpaticamente

— Bom dia, senhorita Millenis, melhor se apressar — ele fala e sei que está com toda razão.

Eu odeio chegar atrasada, preciso me apressar antes que o professor chegue e peça a atividade, não quero ter nenhuma nota vermelha só porque exagerei na dose de animes.

— Assim farei! — falo já recuperado parte do meu fôlego.

Não tenho tempo a perder, de cabeça baixa corro avoada pelas escadas, eu senti que tinha mais alguém lá, mas não tive tempo de ver e acabei passando sem nem cumprimentar a pessoa que fosse. Sei que foi falta de educação da minha parte, mas eu realmente preciso me apressar. Nota baixa, não é algo admissível para os meus pais. Eles sempre jogam na minha cara que se tenho algo é graças a eles, e que o mínimo que posso fazer é honrá-los de todos os modos possíveis.

Corro até minha sala e me sento em minha cadeira, gosto de sentar na primeira cadeira da última fileira perto da janela. Tiro meu caderno da mochila e faço a atividade o mais rápido possível, está bem fácil, sempre tirei notas altas em matemática e em qualquer matéria que necessitasse da matemática.

Quando termino a última questão começo a guardar meu material, sinto alguém me cutucar com a ponta de uma caneta. Olho para trás e me deparo com grandes olhos verdes e curtos fios loiros que vão apenas até a altura do queixo em um corte chanel.

— Vi que fez a atividade de matemática, quero as respostas — ela fala me dando "ordem".

Olho para ela com a minha melhor cara de desdém, só pode ser brincadeira. Ela é a garota mais popular da sala, talvez até mesmo do colégio, sua beleza não passa despercebida por ninguém e as suas roupas sempre são de cores rosas, definitivamente, ela é apaixonada por rosa.

Mas tento controlar o ódio que quer sair por minha boca, respiro fundo e para Suzana apenas respondo:

— Não — grossa mesmo, com isso volto a guardar o caderno na mochila.

— Não esqueça que eu sou amiga bem íntima de Leandro e que....

Sua fala é interrompida com a entrada do professor.

"— O que ela quis dizer com uma amiga bem íntima?" — saio de meus pensamentos ao ouvir a voz do professor que agora fala sobre o baile de verão.

O último baile de verão, ele será realizado daqui a duas semanas, é provável eu também não participar dele. Nunca tenho par... Sou tão feia assim? Pensar nisso me deixa triste, saber que todos me consideram feia e estranha é deprimente. Me refugio em meus animes e pronto. Lá não sou julgada e nem cobrada. É perfeito.

As aulas passaram rápido, os cinco primeiros horários já voaram e agora é a hora do almoço. A cantina fica no térreo, a passos preguiçosos desço novamente os degraus da escada. Mas no último degrau sou surpreendida, Leandro está parado bem na minha frente e está me olhando, e seu olhar não é frio como antes.

— Preciso falar com você — ele pronuncia com sua voz rouca.

— So..bre o quê? — sinto as pontas dos meus dedos gelarem e meu coração acelerar um pouco.

O Amor de um InvisívelWhere stories live. Discover now