A coroação

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Pelas grandes janelas do palácio era possível ver o sol se escondendo por trás das escuras nuvens que povoavam o céu. Felix estava nervoso e era, provavelmente, o único dali que sentia aquela queimação incômoda no peito junto a secura na garganta.

Tudo poderia dar errado. Seu precioso castelo de cartas poderia simplesmente ruir em frente aos seus olhos em menos de três dias.

— Três dias...

Pelo que Changbin contava, aquela era a oitava vez, desde que os três irmãos mestiços foram ordenados a irem se deitar, que Felix repetia aquela mesma maldita frase, e se não fosse por ser o mais velho, já teria com certeza acertado o belo e delicado rosto do caçula.

— Felix, nós já sabemos que a coroação é em três dias. Se importa de ir logo se trocar para nós dormirmos?

Hyunjin disse em um quase bocejo, as finas olheiras abaixo dos olhos peculiares denunciando como a ansiedade do mais novo vinha afetando até a si mesmo. O moreno mordeu o lábio inferior, finalmente desistindo de sua crise existencial e se dirigindo ao banheiro do aposento para se arrumar e dormir.

O que não realmente adiantou, considerando que durante toda a madrugada ficou revirando por entre os lençóis de sua cama, a ansiedade corroendo seus ossos como um abrasivo, deteriorando sua carne e o enlouquecendo cada vez mais a cada segundo.

— Meu Deus, você 'tá com uma cara péssima.

O mais baixo dos herdeiros falou, espantado, quando o Lee adentrou a sala de jantar, este que lançou um olhar sarcástico para o rapaz com símbolos espalhados pelo corpo. Felix estava exausto e estressado. Os demônios em sua mente lhe haviam tirado completamente o sono e a vontade de sair da cama naquela manhã e, com certeza, o príncipe atenderia os desejos daquelas sórdidas criaturas, se não fosse por aquela manhã marcar a véspera de sua grande coroação, a que finalmente silenciaria as malditas vozes em sua mente que implantavam inseguranças sem fim.

O café da manhã era silencioso, pelo menos por parte do Lee, já que seu pai e seus dois irmãos mais velhos seguiram conversando sobre os mínimos detalhes sobre o evento do dia seguinte. Sua mente ainda fervilhava, absorvendo as palavras que sua mente insistia em repetir todas as noites, enquanto tentava amargamente digerir a refeição sem gosto. Tudo lhe parecia apático naquelas últimas semanas.

Poderia parecer um medo irracional e idiota. Afinal, por que exatamente Felix tinha tanto medo da coroação? Toda aquela insegurança havia sido plantada em sua mente no dia de seu aniversário de dezesseis anos, quando uma das serventes comentou em voz alta sobre uma bizarra lenda de que o príncipe caçula não era aquele que ocupava o terceiro trono e que o verdadeiro príncipe havia se perdido após o acidente que tirou a vida da rainha daquelas terras. Nervoso e confuso, durante longas madrugadas o moreno se dedicou a saber qualquer coisa existente sobre o acidente da rainha, achando estranho não se recordar de tal acontecimento.

Foi assim que as primeiras vozes começaram a gritar em sua mente.

E quando Hyunjin completou os seus dezoito anos e um de seus olhos mudou de cor, assumindo um tom escarlate vivo na íris esquerda, sua insegurança se agravou ainda mais. Nos meses posteriores tudo que se passava em sua mente era que sua peculiaridade deveria surgir, independente do quão estúpida fosse, era necessário. Mas para sua surpresa e decepção nada ocorreu, absolutamente nada em si havia mudado, e aquilo apenas aumentou a quantidade de vozes que berravam que era um farsante, um charlatão roubando o lugar de direito de outra pessoa.

Aquilo doía, por mais que não desejasse demonstrar, ser o único dos três príncipes sem uma peculiaridade, com um passado obscuro e desconhecido até por si mesmo. Ser o príncipe inseguro que poderia amargamente jamais subir ao trono com uma das três coroas negras.

A TERCEIRA COROAKde žijí příběhy. Začni objevovat