XVI- A união faz a força.

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O discurso de Gilbert abalou consideravelmente o conselho de medicina estabelecido em Toronto. A dúvida a qual não conseguiam sequer imaginar a resposta os abalava ainda mais.

Por quê um aluno com tanto intelecto e talento, arriscaria sua carreira para defender uma rebelde democrata ruiva e suas ideias inovadoras e questionadoras acerca da educação indígena imposta pelo governo?

Mesmo que ele não tinha dito isso diretamente, mas, suas ideias acerca de expor a verdadeira inspiração de sua pesquisa sobre os benefícios do mel, fez com que todos os orientadores o vissem dessa forma, já que o artigo impresso de Anne gerou grande polêmica e conflito na população com relação aos seus líderes.

Apesar de surpreso, o orientador mais próximo à Gilbert se opôs ao conselho que pensava seriamente em puni-lo, o fazendo perder a sua vaga.

— Pensemos... — sugeriu o homem mais velho e vivido — se realmente a medicina indígena faz uso de propriedades puras e naturais para impedir com tanta facilidade algo que para nós até então é algo irreversível que leva a morte, não deveríamos estar comovidos e entusiasmados para a pesquisa do jovem rapaz? Mesmo que isso a princípio traga escândalos um tanto, difíceis de lidar...

— Pensando por este lado, — interrompeu um dos diretores da universidade — acredito que a medicina indígena pode contribuir com nossos escassos conhecimentos, contudo, acho arriscado demais colocar o nome de nossa universidade em risco.

— Mas podemos ser os precursores dessa medicina moderna — ressaltou o orientador — ao mesmo tempo que investiremos na nossa universidade, daremos a ela uma nova roupagem, baseada em evidências. Sugiro que façamos ainda mais pesquisas, as pesquisas científicas irão elevar o nível de conhecimento médico instituídos aqui, podemos fazer isso em sigilo e se os resultados obtidos forem bons... Divulgamos mundialmente.

— Eu gosto de sua ousadia e determinação, doutor Spurling — declarou um dos renomados doutores da mesa — mas ainda acredito no poder da nossa medicina científica, métodos naturais indígenas não passam de crenças pré estabelecidas.

— O seu pensamento é infantil e preconceituoso, como médicos deveríamos aceitar todos os tipos de métodos, ressaltando que o que vale é o resultado positivo e eficaz, não quem o ensinou ou por quem é usado.

— Então, o senhor apoia veementemente a atitude vergonhosa de seu aluno? Sabe que essa instituição é mantida pelo governo e pelas igrejas, não sabe? Como resistiremos à isso se o seu aluno evidenciou o artigo daquela garota cujas atitudes são impensáveis?

— Em momento algum ele citou o artigo dos dois jovens da universidade em Queen's.

— Mas expôs a fonte de sua pesquisa em apoio a causa, você supõe que ele os conhece ou que ele foi influenciado por essa onda de rebeldia?

— Sabemos que Gilbert veio de Avonlea, indicado por uma jovem professora que acreditou nele e em sua capacidade intelectual. Possivelmente ele conhece a jovem garota, estive pesquisando sobre ela e descobri que a mesma também morou em Avonlea.

— Notoriamente essa professora teve grande influência para que ambos fossem tão ousados, deveríamos denuncia-la?

— Nosso intuito não é interferir na educação primária de Avonlea, — interrompeu o diretor presidente — e nem descobrirmos as raízes dessa jovem Anne, ou prejudicar sua orientadora na infância. A nossa reunião é para decidir o que faremos com o jovem Gilbert.

— Em minha humilde opinião — interferiu Emilly, a professora a qual faz parte do conselho e quem aceitou Gilbert na universidade — Muriel Stacy é uma professora excelente que ensina os alunos a pensarem de forma grande e liberal, não se apegando em regras arcaicas ou em pensamentos fechados e centrados em uma só realidade. Ela conseguiu transformá-los em grandes pensadores e precursores de ideias inovadoras. Acredito que a ideia de Gilbert foi com a melhor das intenções, venhamos a pensar... Sabemos que realmente essa estratégia governamental não é o que eles dizem que é.

(Des)encontros - SHIRBERT Where stories live. Discover now