Treze

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Percy entrou no trem muito antes de seus irmãos, já havia recebido a carta que avisava que agora era um Monitor-Chefe, mas não podia se importar menos com isso nem se tentasse. Tudo que ele queria era ver Oliver Wood e por isso, depois de dar um rápido oi aos alunos do vagão dos monitores, Percy seguiu para a cabine que esperava que Oliver estivesse. 

E ele estava. Seus cabelos, como sempre, estavam raspados, mas ele parecia um pouco mais alto e Percy sabia disso porque assim que abriu a porta, o garoto ficou de pé no momento em que percebeu que não era mais um colega de time ou novato perdido e sim Percy Weasley, a única pessoa que ele também queria ver. 

O ruivo fechou a porta da cabine atrás de si. Os dois já estavam com um sorriso inexplicável nos lábios e seria cômico se seus corações não estivesse batendo em uma frequência assustadoramente rápida e adoravelmente parecida. 

Oliver deu alguns passos à frente, não muitos – a cabine já era naturalmente miníscula –, e estendeu o braço, puxando a fita azulada que prendia as cortinas. Seus olhos castanhos estavam congelados nos azuis de Percy mesmo quando ele segurou o ombro magro de Percy e o puxou para frente, apenas o suficiente para conseguir fechá-las completamente. Não era preciso palavras. 

Percy também sentia vontade de isolá-los do resto do mundo. 

Até mesmo depois, Oliver e Percy gostavam de lembrar como seu primeiro beijo havia acontecido. Não havia sido como nas histórias românticas, na neve, na chuva ou depois de algum acontecimento grandioso, não. No minuto em que o olhar dos dois se encontrou naquela cabine, eles nunca mais se separaram. Era como se seus corpos apenas soubessem o que esperar e o que fazer, e talvez soubessem mesmo e há muito mais tempo do que os dois imaginavam. 

Havia sido natural como tudo sobre Oliver Wood e Percy Weasley. 

Oliver segurou o rosto de Percy com as mãos sentindo seu coração se aquecer quando o garoto abriu um sorriso involuntário. Era tudo tão certo sobre os dois, não era? 

Quando seus lábios se tocaram timidamente, Percy sentiu que havia sido jogado para o outro lado do trem. Talvez do mundo, porque aquela não podia ser a sensação que um beijo causava. Ele já havia beijado antes então por que estava tão surpreso?

E quando Percy desistiu de conter-se e deixou que suas mãos agarrassem a cintura de Oliver e tentasse aproximá-lo mais do que era fisicamente possível, ele se sentiu completo. Percy queria encontrar uma palavra melhor, uma palavra que não fosse tão clichê, mas não conseguia. Estar com Oliver Wood era isso: sentir-se completo e gostado – muito, muito gostado, mesmo sem saber o porquê.

Oliver terminou o beijo deixando pequenos selinhos nos lábios de Percy e encostando sua testa na dele.

– Perce, eu não quero te assustar caso você não tenha notado ainda, mas estou assim, totalmente apaixonado por você. 

Soltou uma risadinha baixa enquanto Oliver ainda acariciava seu rosto com os polegares. Suas vozes eram baixas e tão carregadas de emoção que pareciam até mesmo enfeitiçadas. 

– E eu estou assim, muito mais apaixonado por você, Wood, mas acho que você notou isso. 

Oliver soltou um suspiro de alívio.

– Eu tinha minhas suspeitas, mas não sabia o que eu poderia te oferecer para estar sendo tão ambicioso. 

Percy piscou. – Desculpe? Me oferecer? Ambicioso?

– Você é incrível, Percy. Inteligente, criativo, bonito e totalmente brilhante. Eu sei que sou uma pessoa legal, mas tinha medo de estar tentando algo que a minha vassoura não ia conseguir aguentar. 

– Você não pode estar falando sério, Oliver. O sem graça dessa relação sou eu!

Oliver engasgou, puxando o rosto de Percy para mais perto. 

– Sem graça? Você pirou? 

– Literalmente todas as pessoas do castelo acham isso. Maldição, todas as pessoas da minha casa acham isso. Desde o primeiro ano eu imagino o dia que você vai perceber isso e dar o fora também. 

– Você é a pessoa menos sem graça que eu já conheci, Perce. Nunca mais diga isso. Desde o dia em que nos conhecemos, eu nunca, nunca mesmo, pensei em ficar longe de você. Amo ficar do seu lado até quando tudo que você faz é me atirar fatos aleatórios sobre leis mágicas, sabe por que? – Percy balançou a cabeça em negativa. – Porque tudo que você faz é interessante para mim. Sempre vai ser.

Agora foi a vez de Percy soltar um suspiro de alívio, tão forte, tão necessitado que até mesmo seus olhos começaram a arder ameaçando deixar que caíssem algumas lágrimas caso Oliver não parasse de ser tão... ele mesmo. 

– Você entendeu? – Perguntou o goleiro e quando o ruivo não respondeu, fitando o chão, ele repetiu. – Você entendeu, Perce, que é basicamente tudo que eu quero há uns bons anos agora? E provavelmente tudo que vou querer por muito, muito tempo? Você não precisa se preocupar com isso. Já conheço tudo sobre você e amo cada partezinha. Moramos juntos há tempo demais.

Percy soltou uma risada que poderia ser confundida com um choro baixinho.

– Entendi. 

– Ótimo. 

Antes que eles pudessem se afastar ou dizer alguma coisa, a porta da cabine se abriu e Oliver agradeceu intensamente por Percy tê-lo empurrado devagar durante o beijo, fazendo com que eles saíssem da entrada. Não que adiantasse. Seus corpos ainda estavam juntos e Oliver estava segurando o rosto do ruivo como se fosse a coisa mais preciosa e delicada que já vira na vida. Ainda assim, quando a porta se abriu, Oliver fez menção de puxar suas mãos. Não sabia até onde Percy estava confortável com isso e não queria arriscar, mas o monitor ergueu as próprias mãos e segurou as de Oliver quando percebeu que na porta eram apenas seus irmãos mais novos. 

– E aí, está vazia? – Questionou uma voz distante parecida com a de Lee Jordan.

George sorriu docemente para os dois e isso dificilmente foi uma surpresa para o Monitor-Chefe, como foi para Oliver. George sempre foi carinhoso. 

– Não, está lotada.

E sumiu de vista, deixando apenas Fred encarando o casal em silêncio. Percy podia demorar para dizer ao resto do castelo sobre isso, mas não esconderia da sua família, mesmo que eles mais o irritassem do que qualquer outra coisa. Nunca esconderia Oliver deles, mas também podia confessar que nunca sabia o que Fred estava pensando. Preparou-se para falar quando o garoto abriu um sorriso exatamente como o do irmão gêmeo, apenas um pouco mais travesso.

– Legal, mas se você machucar meu irmão, eu quebro você. E eu sei usar um bastão de quadribol muito bem – disse ele a Oliver, fazendo o garoto arregalar os olhos. Percy se afastou um pouco, soltando uma risada alta enquanto Fred fechava a porta novamente e saía.

Oliver não se aguentou e riu enquanto os dois se sentavam lado a lado no banco.

– Eu acredito nele. 

– Você deveria mesmo – provocou Percy. 

– Mas vou dizer que ele não precisa se preocupar. Jamais faria isso com você. 

Oliver se aproximou, beijando novamente os lábios de Percy enquanto Londres era deixada para trás na janela ao lado deles. Antes de se afastar de vez, beijou também suas bochechas e abaixo do seu olho, nas sardas espalhadas que ali haviam. 

– Finalmente pude fazer isso – sussurrou ele, as tocando levemente com as pontas dos dedos.

– Finalmente pude sentir isso – sussurrou de volta. 

– Beijos? 

Percy negou com a cabeça.

– Amor.

After The Game I PERCIVERWhere stories live. Discover now