Capítulo 16 - Sobre sentimentos

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— Então o Rayan ainda controla esse lugar? — indago com o cenho franzido.

— Aham — murmura dando de ombros. — E eu espero que continue assim, ainda quero ser o dono desse lugar — Kevin deixa a fumaça escapar.

— Tem alguma corrida acontecendo agora? — pergunto, jogando o cigarro em uma poça d'água formada pela chuva contínua.

— Agora não, mas tem uma marcada para daqui uma hora — conta olhando o relógio em seu pulso. — Está pensando em correr? — penso um pouco na resposta.

— Não sei — cruzo os braços, apoiando as costas na parede cinzenta do galpão. — Quem vai correr agora? — pergunto. — Você sabe, não posso correr com os veteranos — reviro os olhos, me lembrando de que já fiz parte desse lado.

— Entendo. Os novatos vão treinar para a corrida do final de semana. Todos querem um lugar entre os eminentes.

— Não estou com o meu carro.

Kevin ri, negando com um aceno.

— Para de se fazer, Collins. Metade desses carros são seus. Pode escolher qualquer um, vai ser uma honra para qualquer novato poder correr com uma lenda como você — ele aponta para os carros estacionados próximos a pista, onde alguns garotos conversavam, bebiam e fumavam apoiados no capô.

Uma lenda. Uma lenda podre.

Encaro o relógio no meu pulso.

— Bem, não tenho nada melhor para fazer.

O relógio marcava uma e vinte seis da madrugada quando passei pela coordenação e adentrei o campus vazio, sendo iluminado apenas pelas pequenas luzes no gramado indicando o caminho pelos pedregulhos

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O relógio marcava uma e vinte seis da madrugada quando passei pela coordenação e adentrei o campus vazio, sendo iluminado apenas pelas pequenas luzes no gramado indicando o caminho pelos pedregulhos.

Quando virei o segundo corredor, senti a curiosidade exígua se embolar com ansiedade demasiada quando escutei a voz transtornada, assustadoramente conhecida por mim, retumbar no corredor da direita.

— Não faço idéia do que está acontecendo — poderia facilmente reconhecer aquela voz em qualquer lugar. Anna Liz. —, e vocês sequer parecem estarem cogitando a ideia de me contar a porcaria da verdade! — por instinto, segui na direção do falatório.

Por um momento, o silêncio se sobressaiu, até Arthur rebater com a voz cortante:

— Você não é a única com feridas abertas aqui, Anna Liz.

Como se fossemos um, senti meu coração quebrar dolorosamente.

— Ao menos eu não me escondo atrás de segredos por medo de ser julgada — as palavras saíram vacilantes.

— Mas se esconde atrás do passado — Arthur voltou a dizer assim que virei o corredor. — Admite, Anna Liz. Admite que você morreu junto com a Helena naquele dia, e que... — ele foi interrompido quando um estalo o acertou no momento em que os vi ao chegar no corredor onde estavam.

Anna Liz acabará de acertar um tapa certeiro no rosto de Arthur, o impacto o fez virar o rosto para o lado esquerdo.

Hilary também estava ali, os olhos arregalados com a cena, sem saber o que fazer.

— Não fala o nome dela! — Anna Liz grunhiu com a voz forte enquanto batia contra o peito de Arthur.

Atravessei o corredor com pressa, me aproximando o suficiente até poder segurar a sua cintura, tentando puxa-la para longe de Arthur que mal se movia, não movendo um músculo para se defender dos golpes.

Um soluço armagurado escapou da garganta dela enquanto ela se esperneava nos meus braços.

— Chega, Anna Liz! — tento apaziguar. — Sai daqui, Arthur, porra! — ele recuou alguns passos antes de seguir pelo corredor.

Vagarosamente, suas tentativas de se soltar cessaram. Ela fungou baixinho, e usou os pulsos, escondidos pelas mangas compridas do casaco do escola, para secar as lágrimas.

Meu peito se apertou em vê-la chorando.

Ela não se virou para mim, nem quando minhas mãos deixaram a sua cintura.

— Liz — Hilary se aproximou a passos oscilantes, tocando o ombro dela com cautela, respirando fundo. —, quer que eu vá pegar uma água pra você? Ou...

— Não — sussurrou. —, estou bem. Só preciso... de ar — ela tentou andar em direção a saída, mas a impedi, segurando a mão dela junto a minha.

Anna Liz se virou para mim.

Precisei lutar contra o impulso de secar a lágrima solitária que fazia caminho por uma de suas bochechas vermelhas.

— Eu vou com você.

Ela não negou a minha companhia, nem aceitou. No entanto, quando ela soltou nossas mãos e acenou para o lado de fora, entendi que era um pedido silencioso para mim segui-la.

Hilary sorriu pequeno, acenando com as pontas dos dedos enquanto seguia em direção aos corredores que levavam aos quartos.

A brisa fria nos recebeu quando colocamos os pés no gramado desértico.

— Eu sei que você invadiu o meu quarto e roubou as minhas cartas — emito suavemente.

Subitamente ela deteve os passos, o que me fez parar também.

Silenciosamente Anna Liz levantou o olhar em minha direção ao se virar.

Por tempo ínfimo, nossos olhares se conectaram através de uma linha tênue, insegura. Meus olhos vagaram por cada detalhe inolvidável do seu rosto.

Quebro o contato visual quando um arrepio invulgar percorre o meu corpo.

— Cartas? Que cartas? — estreito os olhos quando ela se faz de desentendida. Anna Liz suspira, empurrado os fios claros para trás. — Me desculpe. Que vergonha.

— Tudo bem — interrompi, sorrindo de canto. — Elas são suas — conto sincero.

— Não são não. Você escreveu.

— Sim — considero dando de ombros. —, escrevi para você. Então, elas são suas — concluo, vendo suas bochechas corarem.

Ela parece palmilhar o meu rosto com certa curiosidade.

— Você deveria parar de fazer isso — sibilou baixinho.

Ergo as sobrancelhas.

— O quê?

— Se aproximar e depois se afastar — retorquiu trocando o peso do corpo para a outra perna. — De ser legal em um dia e no outro me tratar com insignificância — ela respirou fundo. — Deveria parar de fingir que se importa.

Desgraçado.

Sou a porra de um desgraçado de merda por tê-la deixado acreditar que a presença dela na minha vida não tem importância, quando tudo que mais quero é tê-la do meu lado todos os dias novamente.

No entanto, aquela mesma voz presa no fundo da minha mente que me fez afastá-la tantas vezes, continuava ali.

Anna Liz negou com um aceno diante do meu silêncio, se afastando a passos tranquilos.

— Boa noite, capitão.

Involuntariamente, segui os seus passos, e quando cheguei perto o suficiente, segurei sua mão, a trazendo para perto e, habilmente colando os nossos corpos.

Sem esperar por uma reação e, sem pensar nas consequências, eu ergui uma das mãos, colocando sobre o lado direito do seu rosto para afastar os fios de cabelo que pendiam próximos aos seus olhos.

Ela não se afastou quando aproximei o meu rosto do dela, nem quando tomei a iniciativa de beija-lá.

Só Mais Um ClichêOnde as histórias ganham vida. Descobre agora