Capítulo 27

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-Pode se sentar.- meu padrinho falou quando entramos no escritório, um lugar tão comum para mim como qualquer outra parte do castelo.

-Estou bem assim,mas obrigada.

-Não precisa ser formal aqui querida, sou seu padrinho!

- E pelo o que sei as suas queridas são minha madrinha e a princesa.- falo cruzando os braços, mas na verdade estou tensa. Sabia que ia ser desse jeito, que ele me chamaria para conversar, e ficar abismado com minha, corrigindo, com a descobertamente de Lot.

Ele riu enquanto pegou alguns mapas na mesa e abriu. Haviam áreas pintadas de vermelhos, outras de azul e algumas poucas de amarelo.

-Tem alguma noção do que essas cores signifiquem?- ele perguntou, serio de um segundo para o outro.

-Mapa de batalha. A situação da guerra. Os vermelhos são as áreas que os rebeldes atacaram, azuis são as ainda seguras... Mas e as amarelas?

-Possíveis alvos. Todos eles apresentavam alguma coisa que talvez os rebeldes pudessem ter interesse. As residências das famílias das selecionadas, locais com armas, suprimentos... Mas nenhum deles parece estar sendo observado por eles, o que nos faz deduzir que estão com tudo o que querem em mãos.

-Ou esperando para ver a nossa reação.

-Exato. Você e Ana afirmaram saber o que eles vão fazer, qual o próximo passo. E qual seria ele? Qual a saída que não encontramos?

-Não há saída.- tinha de falar, não havia como esconder aquilo- Eles estão usando tudo não notou? Atacaram de baixo para cima, logo de forma para pegar as plantações. Depois atacam jovens, possivelmente ameaçaram eles e suas famílias se não cooperassem. Conseguiram se esconder nas casas e obter soldados,mesmo que contra a vontade destes. E por fim veio o irmão Violet. Isso tem dois propósitos aparentes.

Minha garganta estava seca, a saliva descendo como de rasgasse a pele, mãos ensopadas de suor. Não era nada agradável falar aquilo, tanto por ele ser meu padrinho quanto por ser o rei.

-Ou eles vão atacar as nossas famílias que estão concentradas, facilitando o ataque mesmo com todos os reforços que temos.- fechei os olhos e suspirei antes de falar a pior parte- Ou eles vão nos obrigar a colocar uma das suas na competição da Seleção.

Os olhos dele quase pularam das órbitas, incrédulos com o que eu havia pronunciado. Nada mais do que o esperado, eu teria ficado pior se tivesse escutado isso.

-Como? Como assim? Por que eles fariam tal loucura? Eles sabem que podemos simplesmente tirar a menina nas duas horas seguintes da chegada! Não tem sentido!- ele se levantou, assim como o tom de sua voz.

-Sei que parece loucura, mas tenho uma prova concreta para apoiar minha teoria.- peguei a foto que Lot me mandou, pedi que as meninas colocassem um bolso apenas para esconder o pacote até aquele momento.

-O que é isso?

-Isso é a maior reviravolta que este país já viu.- e com isso joguei a foto sobre a mesa, o grupo de rebeldes reunidos em uma parte da floresta, com Lilian no meio da roda.
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Lilian era nada menos que a minha inimiga definida. Tudo começou exatamente no aniversário de 7 anos de Nicolas, quando começamos com a Nicobel Annalas. Ela foi a menina que deu o xilique por Nicolas ter pisado no vestido. Três anos depois ela voltou com a família, e não largou Nicolas o dia inteiro, como se fossem melhores amigos a vida toda e esse é o MEU cargo!

Mais o que decretou o meu ódio por ela foi quando aos 15 anos ela veio visitar e estava usando um vestido decotado, curto que quase mostrava o desenho da calcinha dela quando agachava. Ela quase se esfregava no Nick, e finalmente o fez no baile à fantasia, quando beijou ele na minha frente. Eu gritei e comecei a bater nela, que também revidou puxando meu cabelo do coque da fantasia de fada. Na época não era ciúmes, e sim ódio por estar perto do meu amigo e ser tão oferecida. Fiquei de castigo por duas semanas e apenas eu descasquei batatas por um mês. Ver ela no meio dos rebeldes e tão próximos do castelo me fez ter raiva, ódio e receio, tudo ao mesmo tempo e com mais intensidade do que eu esperava.
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-Lilian? A princesa da França?- meu padrinho estava bestificado, quase a ponto de rir talvez- Isso é impossível! Temos ótimas relações com o país, nenhum motivo aparente para ela entrar na guerra civil...

-Acontece que não é o país dela que está na guerra, apenas ela. E eu acho que sei o porque.-com aquilo desviei o olhar, envergonhada por ser a causadora daquilo.

-Ela não entraria na guerra porque você bateu nela quatro anos atrás.

-Talvez não seja apenas isso. Talvez ela tenha entrado apenas porque agora eu e Nicolas...- parei quando notei o que estava fazendo. Eu tinha de contar, afinal ele é meu padrinho. E provavelmente minha madrinha ou o próprio Nick já deviam ter contado- Agora que eu e Nick não estamos mais apenas como irmãos, ou meros amigos próximos. Bom, não tanto agora , parece.- não consegui aguentar aquilo por mais tempo, falar de Nick sem chorar, sem lembrar a sua expressão de aversão quando me viu com Jake.

Meu padrinho não disse nada, apenas me abraçou e passou a mão sobre os meus cabelos. Quando finalmente parei de soluçar ele limpou as lágrimas com os dedos e me encarou.

-Vamos alertar os pais dela e vamos acabar com essa revolta sem pé nem cabeça.

-Não é tão simples. Não se lembra que eles pediram a entrega do lugar de Violet na competição? Vão colocar ela aqui... E não vai ser apenas isso. Eles...

Nicolas entrou na porta, o rosto pálido de um floco de neve. Quando me viu a situação pareceu piorar, como se ele falasse por pensamento que algo havia acontecido com algo relacionado com a minha família...

-Quem?- falei, as lágrimas já escorrendo novamente.

-Junior.- a voz dele era de dor e cansaço, provavelmente porque ele deve ter corrido para dar a notícia ao pai- Annabel eu juro que vou encontra-lo, vou encontrá-lo nem que seja a última coisa que eu faça.

Mas eu não ouvia suas promessas, apenas chorava alto como se fosse um animal ferido. Eles levaram meu irmão! Levaram o meu bebê! E eu vou encontrar quem fez isso, é fazê-lo desejar nunca ter sequer pensado na revolta.

A nova SeleçãoWhere stories live. Discover now