Herói

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Agustina Palma

Eu fiquei sem reação.

Senti o peso que aquelas palavras tinham para o André e posso afirmar que não era nada leve.

O assunto "pais" no nosso grupo de amigos normalmente não era tão abordado, justamente porque alguns de nós temos certos problemas envolvendo esse termo. André Lamoglia é um belo exemplo.

Eu não sabia muito sobre sua história, mas até onde eu saiba, ele tinha perdido a mãe com oito ou nove anos - acho que nove - em um atropelamento de carro. Seu pai a amava muito e, depois de perdê-la, mesmo que lutasse contra isso, muitas vezes acabava recorrendo ao álcool.

A última vez que o pai de André bebeu foi há quatro anos atrás, nessa mesma data. Depois disso, nunca mais.

-Ele está dormindo no quarto agora - o murmúrio do loiro me trouxe de volta à realidade. - Eu gostaria de ajudá-lo, mas... - suspirou.

Mas você também precisa de ajuda, pensei.

Eu queria ajudá-lo. Eu queria de alguma forma retribuir por todas as vezes que ele esteve comigo quando eu mais precisava, mas eu simplesmente não sabia o que dizer ou fazer.

E pensar que eu estava nervosa por causa de uma camiseta...

A camiseta...

"-Deixei sua camiseta no cesto de roupa suja do banheiro lá de cima. Peguei emprestada uma do irmão da Isa, já que ele deixou aqui da última vez que veio. Você pode usá-la no lugar daquela.

-Obrigado, Agus, apesar de que seria interessante chegar lá e dizer que eu saí da Fenda do Biquíni.

-Ainda não esqueceu o Bob Esponja?

-Não, e farei questão de te lembrar até você assistir."

De repente, eu tive uma ideia.

Não, eu não sabia se seria uma boa ideia fazer o que eu queria fazer, mas era a coisa mais próxima que eu conseguia pensar no momento para ajudá-lo.

Rapidamente eu passei pelo espaço que tinha entre ele e o portão, entrando em sua garagem sem nem mesmo pedir permissão.

Eu estava mesmo fazendo isso?!

-Agus? -André me encarou com confusão iminente, tentando me entender.

Nem mesmo eu estava me entendendo. Não é de meu costume fazer uma coisa dessas sem pensar muito bem antes, porém...

Eu não queria simplesmente deixá-lo sozinho num dia desses.

Respirei fundo.

-Sabe... Seria suspeito demais dizer que hoje é o único dia livre na minha lista de afazeres nestas férias? - o encarei com um sorriso sugestivo.

Se eu estava fazendo o certo ou não, um sorriso se manifestou em sua face. Um sorriso Lamoglia.

-Seria suspeito demais se eu dissesse que estava prestes a ir assistir Bob Esponja?



[...]

Enquanto as pipocas começavam a estourar na panela, eu distribuía o suco da jarra entre dois copos, tomando cuidado para não derramar na mesa.

-Não sabia que você vinha aqui hoje - comentou o brasileiro escorado numa cadeira logo á minha frente.

-Pois é, nem eu - respondi, sorrindo ao ver que eu tinha conseguido deixar a mesma quantidade de suco nos dois recipientes. - Foi de última hora, tanto que eu nem mandei mensagem para avisar.

O Desafio dos 30 DiasDonde viven las historias. Descúbrelo ahora