CAPÍTULO 3

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29 de setembro de 1995.


"Estou apaixonada pelo Bruno." Foi o que Sofia me disse no dia em que eu finalmente iria me declarar para ela. Já faz dois meses que venho tentando superar este fato. Todos os dias acordo e sinto o peso da derrota. Mas nos primeiros dias foi tão difícil que precisei passar o restante das férias em São Paulo com meu pai, porque eu não conseguia encará-la e fingir que estava tudo bem.

Bruno é um cara legal. É um dos poucos amigos que fiz desde que me mudei para Campinas. Mas saber que ele é alvo da paixão da única garota que já amei, me faz sentir raiva e até um pouco de inveja dele.

Passei os últimos quatros anos ansioso pelo dia em que Sofia fosse mais velha o suficiente para perceber meus sentimentos, para ela vir e me dizer que está apaixonada por um cara só porque acha ele bonito.

Apesar de me machucar todas às vezes que ela vem falar dele para mim, eu simplesmente não consigo me afastar dela. Minha necessidade de ficar perto e encarar aqueles lindos olhos esverdeados é maior. Eu espero um dia poder superar esse sentimento de mágoa por saber que ela não consegue me enxergar da mesma maneira. Afinal eu já perdi as esperanças de um dia ter uma relação com ela além da amizade.

Eu só queria poder seguir em frente e me apaixonar por alguém da minha idade, mas o que sinto por Sofia é tão profundo que as outras garotas se tornam invisíveis para mim.

Hoje vai ter um baile de primavera no colégio e eu poderia ter chamado qualquer garota para ir comigo para ver se começo a me libertar desses sentimentos por ela. Mas não, eu tive que convidá-la antes de qualquer Mané se atrevesse a fazer isso na minha frente, porque sei que morreria de ciúmes de vê-la com outro cara no baile. E não quero nem pensar se esse cara fosse o Bruno.

Assim que chego ao ginásio para ajudar na organização do baile com os outros alunos, já visualizo Sofia inclinada sobre uma mesa decorando alguns cartazes. Como sempre ela ajuda com as partes que envolvem pintura e tenho que admitir que ela está ficando cada vez melhor nessa área.

Aproximo-me de mansinho para ela não perceber minha presença e fico observando os detalhes de sua arte atrás dela.

— Dave, seu cabeção está fazendo sombra no meu cartaz. — ela diz ainda concentrada em sua pintura.

— Mas como sabe que é meu cabeção se nem disse nada pra saber que sou eu?

Ela levanta e se vira para me encarar.

— Quem mais da sua altura iria ficar atrás de mim atoa?

— Poderia ser algum professor. — dou de ombros.

— Acho que eles têm coisas mais importantes para fazer do que ficar me observando, não acha? — ela estreita seus olhos e volta sua atenção para o cartaz.

— Bom, eu acabei de chegar, por isso não estou ajudando em nada ainda. — justifico-me. — Tem alguma coisa que eu possa fazer para te ajudar?

— Você pode recortar aqueles cartazes que estão prontos, mas cuidado para não sair torto.

— Até parece que não confia em mim, Soa. — digo fingindo aborrecimento.

— Desculpa, mas você sabe o quanto sou chata para essas coisas.

— Não se esqueça de que sou tão detalhista quanto você.

— Eu sei. — ela sorri. — Mudando de assunto, eu estava conversando ontem com a Sara e ficamos curiosas com uma coisa.

— Que coisa?

— É que a gente se conhece faz tanto tempo e você nunca nos disse se é afim de alguma garota aqui no colégio ou apenas uma que você ache mais bonita.

Profundo (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now