Capítulo 11

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Sabe o que é ainda mais estranho do que acordar gritando de um pesadelo terrível? Acordar de um pesadelo terrível, berrando aos ventos dentro de um quarto completamente branco.

Olhei ao redor, alarmada tentando desesperadamente encontrar alguma coisa familiar. Nada. Mas pelo menos eu sabia onde eu estava. Um hospital, um hospício? Era algum desses dois. Em poucos minutos uma enfermeira abriu a porta e correu para mim, preocupada.

-- Por que estava gritando? -- ela perguntou e depois olhou para os lados. -- Algum intruso entrou aqui? Isso as vezes acontece.

Mesmo estando completamente assustada, neguei com a cabeça e ela se tranquilizou. Depois de me explicar onde ficava o meu banheiro, os meus remédios e um alarme caso houvesse algum problema, ela se despediu e saiu.

Ainda atônita com tudo aquilo, me levantei e fui para o banheiro. É, infelizmente eu estou com aqueles trajes hospitalares azuis. Encarei bem o meu reflexo refletido no espelho. Quem é essa? Brinquei quando olhei para o "eu" pálido, com olheiras e cansado. Eu estava só o resto como diria a minha mãe se ainda estivesse viva.

-- Raios...! -- resmunguei. Eu não gosto muito de falar e nem pensar na minha mãe. Faz com que memórias confusas venham a minha mente.

Lentamente -- por causa do meus músculos estranhamente doloridos -- tirei a minha peça de roupa e tomei uma rápida chuveirada. Aquilo ali era bom para relaxar... se eu deixasse, poderia dormir ali mesmo.

O banheiro não possuía muitos cosméticos, convenhamos. Havia apenas um shampoo, um condicionador e um sabonete líquido para o corpo e outro para as mãos encima da pia. Depois de lavar a minha simples e rebelde juba matinal, dei um jeito de enxaguar a boca só com água (já que não havia nenhuma pasta dental e muito menos uma escova).

Vesti novamente a roupa do hospital e saí do banheiro. O quarto também não era nada demais. Apenas uma pequena cama, uma poltrona, (o tão falado alarme ao lado da porta) e uma janela que não deixava um só raio de Sol passar graças as grossas persianas.

Percebi que não iria sair dali nem tão cedo, então me sentei na poltrona, olhando para o nada e pensei novamente no meu terrível pesadelo.

Como se eu tivesse vozes na minha cabeça, debochei mentalmente, e monstros? Isso só poderia ser um sonho mesmo.

As histórias do ilusório "Hifton" passaram na minha mente, junto com a minha ilusória "mãe" e também os olhos cinzentos do ilusório "Abhay". Lembrei também da parte em que eu não controlava meu corpo e da minha mão dentro so corpo do pobre punk.

Por mais que aquilo tenha sido bastante real, pensei, eu sei que não é real. Não é possível. Vozes? Contos de fada? Uma mãe nova e fria? Não, obrigado.

Ouvi batidas na porta e em seguida dois policiais entraram no quarto. Encarei os dois sem entender e eles continuaram a me fitar e a fitar o cômodo, impassiveis.

-- Com licença. -- um deles disse e me mostrou seu distintivo. -- Sou o investigador Loren e estamos aqui para perguntar a você sobre o seu envolvimento com James Naismith.

Quem é esse?, me perguntei, Será que eu tenho um namorado e nem sei? Poxa, que borbulhante!

-- Perdão, mas eu não conheço nenhum James Naismith. -- confessei com as sombracelhas franzidas. Ele me ignorou e prosseguiu:

-- Encontramos você desmaiada ao lado do corpo dele. -- ele comentou. -- Tem algo a declarar?

-- Desculpe, Sr. Investigador, mas eu realmente não conheço nenhum James e nem desmaiei ao lado de ninguém. -- eu respondi, confusa. O investigador e o outro policial se encararam por um momento antes dele perguntar a enfermeira que eu nem havia notado estar lá:

-- Tem certeza que ela está bem? -- ele sussurrou. -- Sem nenhuma concussão no cérebro ou amnésia repentina?

-- Não, senhor. Bem... -- a enfermeira se remexeu inquieta. -- Amnésia até pode ser, mas teremos que fazer alguns exames e testes para comprovar.

-- O que está acontecendo aqui? -- uma voz estranhamente familiar perguntou e eu me mexi para poder ver quem era. Congelei. -- Ah, meu Deus! A minha querida filha!

As mãos macias e geladas da minha suposta "mãe" envolveram meu rosto de uma maneira gentil. Ela acariciou a minha testa e depois me deu um beijo na bochecha, antes de piscar um olho e se virar para os policiais.

-- O que a minha filha está fazendo em um hospital? -- ela questionou. -- E ainda mais sendo interrogada por policiais? Sabem que ela é de menor, certo? O que ela fez?

-- Se acalme, senhora... -- o investigador pediu e me olhou com uma expressão perdida no rosto. -- Ela é a sua filha?

-- Ah, céus! Acabei de dizer que sim! -- ela exclamou de uma maneira dramática. -- E então? O que está havendo aqui?

-- Bem, senhora. Encontramos sua filha desmaiada ao lado do corpo de um homem morto. -- explicou o policial e eu o olhei com as órbitas dos olhos arregalados. -- Temos nossas suspeitas.

Elise ficou calada por um momento, absorvendo todas aquelas palavras, com um rosto inexpressivo. E foi aí que ela recomeçou o teatro:

-- Eu não acredito! Não acredito! -- exclamou. -- Ela foi assaltada? Provavelmente ele a desmaiou para fazer alguma coisa indecente e então algum inimigo de guangue o matou! Com certeza! Só pode ser isso!

-- Por favor, ainda estamos investigando. -- o policial falou. Elise o olhou de um jeito sofrido que as mães fazem quando você faz alguma coisa muito idiota e berrou:

-- Eu não estou ouvindo isso! Olhe bem para a minha pequena jóia! -- mandou e o investigador me olhou. -- Essa criança tem cara de ser uma assassina desalmada? Eu, por acaso criei ela nas melhores escolas católicas para isso? Me diga que não...

-- Eu não estou dizendo isso! -- o investigador indagou, parecendo um pouco envergonhado com a situação. -- É só que ela é a única prova do crime e testemunha.

-- Ah, sim, claro! -- Elise falou e secou uma lágrima. -- Querida, por favor, conte ao policial o que houve.

A enfermeira, o investigador e o outro policial me olharam, esperando uma resposta. O que eu falo? O que eu falo?

-- Eu só me lembro de fugir dele, bater a cabeça e logo em seguida, um homem encapuzado aparecer e fazer alguma coisa. Depois eu desmaiei. -- menti na cara dura. O investigador me olhou, cético, antes de concordar e perguntar:

-- Lembra-se de como é esse tal homem encapuzado? -- ele perguntou e eu neguei com a cabeça.

-- Estava muito escuro e eu estava quase inconsciente. -- reforcei e o policial agradeceu w saiu do quarto, deixando-me sozinha com Elise.

-- Então... me conte o que realmente aconteceu, Zara. -- a voz fria dela estava de volta.

As EstrelasWhere stories live. Discover now