Capítulo 8

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-- Vocês demoraram demais. -- Hifton questionou olhando para o grande monte de livros antigos e mofados abertos na sua mesa.

-- Ela estava passando mal. -- Abhay falou e eu o olhei, agradecida. Hifton parou de ler os manuscritos e me olhou, preocupado.

-- O que? Você está bem? -- disparou me olhando a procura de algum ferimento. Sorri para ele e confirmei com a cabeça. -- Se você não estiver muito bem, não precisa vir aqui.

-- Não, sério, tudo bem. Já passou. -- indaguei e me sentei em uma cadeira ao lado dele.

-- Tem certeza? -- ele perguntou novamente e eu assenti. -- Está bem. Abhay, diga o Stay vir aqui, por favor.

  Abhay assentiu, me olhou brevemente e foi embora. O guerreira preferido de Durga, uma das vozes sussurrou. Franzi a testa. Durga? Deuses existem?, perguntei. Não existem. É só como ele é reconhecido. Acenei com a cabeça sem nem notar que Hifton observava meu comportamento estranho.

-- Zara? -- ele perguntou me fazendo voltar a realidade. -- Estava falando com eles?

-- Sim. -- Suspirei. -- Ainda é um pouco confuso, mas já não é mais tão bizarro.

-- Eu entendo. -- ele comprimiu as mãos, nervoso. -- Eu queria saber... quem são essas vozes?

  Olhei surpresa para ele. Como assim ele não sabia? Ele não era o mestre que ia me ensinar? Se acalma. Apenas diga que somos guias., a voz respondeu.

-- Eles são guias. -- eu respondi, surpresa por não gaguejar. -- Disseram que você é o mestre. Por que?

-- Ah, bem... -- ele coçou a nuca, envergonhado. -- Eu era um conselheiro dos espíritos da floresta.

  Fiquei encarando ele. Monstros, ok. Vozes na minha cabeça? Legal. Agora, espíritos da florestas? Dei de ombros. Por que não? , perguntei-me mentalmente.

-- O que você estava fazendo? -- perguntei apontando para os livros jogados em todos os cantos livres da mesa.

-- Pesquisando sobre os primeiros. Encontrei umas coisas bem interessantes. -- ele pegou um grande livro velho e o ergueu para que eu o visse.

-- "Os primeiros tinhan diversas habilidades com a mente que usavam em batalhas para fazer os inimigos se suicidarem." -- li o primeiro parágrafo e eu senti um estranho sentimento de bem estar ao ler aquelas linhas. Ignorei isso e me fingi de assustada.

-- Você vai ter que treinar isso. -- olhei para ele. -- Mas só se quiser.

-- Eu quero! -- eu disse sem nem pensar duas vezes. Me encolhi ao ver o olhar confuso de Hifton por causa da minha reação voluntária de uma hora para outra e dei um pequeno pigarreio. -- Quero dizer, sempre é bom saber todas as minhas habilidades e os meus limites, certo?

-- Ah, sim. -- ele disse me olhando estranhamente. -- Mas não é isso que eu quero te mostrar. Leia o terceiro parágrafo.

  Ele ergueu novamente o livro e eu procurei o parágrafo, um pouco envergonhada por me sentir nostálgica.

-- "Mais da maioria dos primeiros foi extinta com o passar dos anos devido a algumas complicações físicas de batalhas e do uso das habilidades. Os primeiros eram reconhecidos por sempre terem um defeito genético. Uma marca de nascença estranha, olhos com cores anormais, personalidade sádica e raramente coisas piores." -- engoli em seco ao ler a última frase. Ele colocou novamente o livro na mesa e me olhou, sério.

-- Vejo que você não tem olhos anormais e nem personalidade sádica. Você possui algum tipo de marca de nascença? -- ele perguntou e eu acenei, hesitante. -- Ótimo, temos que ver a forma para poder ver o seu tipo de habilidade.

  Corei mais ainda e arquejei. Ele me olhou confuso. Lentamente e com certa timidez, tirei uma alça da camisa e abaixei-a, deixando um pouco das minhas costas e do meu sutiã aparecendo.

-- Ma-mas...! -- Hifton guaguejou, mas quando eu me virei as suas palavras se perderam no ar. Senti seu olhar crítico olhar detalhadamente a imagem de um arbusto seco com um corvo na ponta. -- Impressionante. Não é uma tatuagem?

-- Não. Tenho desde que nasci. -- eu disse ainda relutante. -- É estranho, não é? Mas eu meio que entendo.

-- Como assim, Zara? -- ele perguntou e eu senti a ponta do calejados dedos dele percorrendo a marca.

-- Sempre gostei de corvos. -- confessei. -- Por mais que eu goste de vida e alegria, admito que esses animais conhecem mais sobre mim do que qualquer humano, monstro ou seja lá quem existir nesse mundo.

  Ouvi passos e logo em seguida Abhay entrou de vez no cômodo. Quando ergueu os olhos, congelou no mesmo lugar e eu corei. A situação era bem estranha. Hifton estava com as mãos nas minhas costas parcialmente nuas, isso deu para notar que Abhay percebeu. Ele franziu a testa, depois nos olhou confuso e foi falar alguma coisa, mas desistiu.

-- Abhay, venha ver isso. -- Hifton pareceu nem ter percebido a confusão dele, estava concentrado demais na minha marca. Abhay suavizou a expressão e pareceu entender.

-- Qual é a mar... ca. -- ele parou no instante em que viu a marca, isso deu para saber porque eu senti a tensão dominar o ar. Subi a camiseta e os olhei, confuso.

-- O que houve? O que foi? -- perguntei e sem conseguir me deter, levei a mão a boca e comecei a roer. Abhay estava chocado e surpreso, parado no mesmo lugar. Hifton me olhou com pesar e disse:

-- A marca da morte.

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