Capítulo 3

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-- Zara? Zara! Você está bem? -- um par de mãos me sacudia e eu me forcei a abrir os olhos, mas tudo estava borrado, menos os olhos dele.

   Isso é culpa minha. Se eu pudesse ao menos...

   Arregalei os olhos ao ouvir a voz dele na minha mente. Me afastei dele, assustada e me abracei como se estivesse com frio.

-- O que foi? O que? Você está na minha... -- não consegui terminar de falar, minha cabeça começou a rodar com a voz do meu pai.

   Isso é culpa minha! E se ela não sobreviver? Vou perder tudo? Tudo? Eu não... posso perder ela.

-- O que foi, Zara? -- meu pai perguntou me fazendo para de olhar fixamente para os seus olhos. Assim que tirei meus olhos dos seus, a sua voz cessou da minha mente.

-- Pai, eu... -- Não conte! Por favor, Zara. Isso vai além do seu conhecimento, uma voz falou. Praquejei e olhei para as minhas mãos cortadas pelo vidro do espelho. Engoli em seco. -- Eu estou bem. O que aconteceu? -- desconversei sem olhar os olhos dele. O que está acontecendo?, me perguntei mentalmente.

-- Eu cheguei em casa e ouvi um barulho de uma coisa se estilhaçando. Quando vim para cá, a encontrei desmaiada e o espelho quebrado. -- ele respondeu, franzindo a testa.

-- Que es-estranho. -- falei, tremendo. Isso, muito bem. Se ele souber tudo estará acabado, outra voz falou e eu quase pude sentir seu sorriso atravessar as minhas memórias conturbadas.

-- Sim. O que foi? -- ele perguntou novamente, erguendo meu queixo e fazendo com que eu olhasse para ele.

   Ela está estranha. Será que alguém entrou aqui? Isso, só pode ser isso! Se eu não tivesse...

   Desviei meu olhar e o fixei na parede atrás dele. O que está havendo? Tudo está tão... confuso. Olhei-o de soslaio e vi que ele fitava a carta aberta encima da cabeceira. Peguei-a rapidamente e a coloquei junto ao meu corpo.

-- O que está escondendo? -- meu pai perguntou. -- Você está muito estranha, Zara. Quer que eu chame um médico?

-- Não, não. Estou bem. Só quero ficar um pouco sozinha. -- respondi gaguejando. Ele concordou e saiu do quarto sem falar nada.

  Muito bem, pensei, O que está acontecendo comigo?

  Quase que imediatamente, várias vozes começaram a falar ao mesmo tempo na minha mente.

   A carta... carta...
   Ela tem a resposta.
   Os olhos são o espelho da alma... alma...
   Se não quiser ver o que o espelho reflete, não olhe nos olhos... olhos...
   Ela é a resposta... ela é a única resposta...
  Vamos protegê-la. Não... não... não se preocupe...
  É muito perigoso... às vezes as pessoas escondem coisas... que é melhor não descobrirmos...
  Você não precisa se preocupar mais... mais...

  Respirei profundamente e fitei a carta na minha mão. O que são vocês? E por que estão na minha cabeça?

   Nós somos você... e ao mesmo tempo não somos nada...
   Sim, nada... nada...
   A carta é a resposta...
   Perigo! Perigo! Não!
   É perigoso perguntar...
   É perigoso ouvir e também ver... ver...
   Não podemos confiar em ninguém...
  Só confie em você mesma... mesma... só você.

   Apertei a carta na minha mão, frustrada. Eu não entendia nada. Do que eles estão falando? Por que eu estou ouvindo vocês?

   O senhor que escreveu a carta sabe...
   Sim, ele sabe de tudo...
   Ele mestre. Você a aprendiz.
   Confie nele e em você...
   Sim, ele é parte de você como nós...
   Só que nós vamos sumir... quando você o encontrar...

   Franzi a testa. Eu só posso estar louca... Por que?

   Perguntas são perigosas, mas vamos responder.
   Sim, nós vamos... vamos... sim, vamos...
   Ele é uma pessoa poderosa, assim como você.
   Ele tem muitos dons e muitos truques... truques...
   Ele é poderoso, mas você é mais... mais, muito mais...
   Nós vamos sumir porque não somos nada...
   Somos memórias, lembranças...
   Sim, memórias... lembranças...
  Quando você se lembrar nós iremos sumir.

  Lembrar do quê?, perguntei sem acreditar que eu estava falando com vozes na minha mente. Eu estou louca...

   Você não está louca... louca... não está...
   Não podemos dizer, mas acredite.
  Acredite no que parece ser mentira... ela muitas vezes é verdade...

  Mais flash's vieram a minha mente. Uma mulher loira de olhos castanhos brincando com uma criança, a mesma mulher sorrindo feliz e depois ela acenando para a criança enquanto pulava de um penhasco. Uma lágrima caiu na minha bochecha. Minha mãe...

    Sim... ela foi poderosa...
    Mais também muito ambiciosa e invejada...
   O invejado morre corroído pelo invejador...
   Muito cuidado... Ninguém pode saber...
   Ela era louca para os moralistas e uma líder para os revolucionários... sim, isso mesmo...
   Está lembrando? Lembre... lembre...

   Uma imagem em que ela conversava com alguma coisa no escuro apareceu. A garotinha gritou e a mãe a olhou assustada. Não grite, Zara! Seu pai vai acordar, minha mãe exclamou para o "eu" criança. Eu tapei a minha boca e olhei para o monstro de olhos brilhantes. Ele é preto, eu murmurei para a minha mãe e ela sorriu. A escuridão nem sempre equivale ao mal, assim como nem sempre a luz traz o bem, ela falou e o monstro piscou um olho.

   Ela se lembra? Lembra?
  Não... ainda não...
  Ela tem um logo caminho pela frente... frente...
  Sim, vá dormir pequeno pássaro...
  Isso, descanse... descanse...

   Fechei meus olhos ainda sem acreditar em tudo que eu estava ouvindo e vendo e me deixei relaxar. Vozes começaram a me desejar boa noite e depois tudo ficou negro e eu adormeci.

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