ᴄᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ 13.

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Eu acordo com o som de batidas na porta, levanto da cama com preguiça, caminho na direção da porta com passos lentos, ainda estaria com muito sono. Quando eu abro a porta, encontro o Krystian.

- Krystian! - falo, olhando para ele. - Eu quero conversar com você.

Krystian ergue a sobrancelha.

- Eu descobri pelo Jeremy ontem à noite, você e o Eliot são irmãos? - falei, ele me encara. - Desculpa pela pergunta.

- Jeremy te contou? - ele franze a testa. - É... Verdade.

- Por que não me contou? - Falo, ele desvia o olhar.

- Não havia motivos para você ficar sabendo. - fala Jeremy.

- Claro que tem, você é importante para mim. - falo. - Você não precisa segurar a barra sozinho.

Os olhos do Krystian se arregalam antes dele flexionar as asas e suspira.

- Você tem razão! Eu vou corrigir isso agora. - fala Krystian .

Krystian respira fundo e seus olhos ficam sem emoção e distante, quando ele fala, eu posso sentir o quanto é difícil para ele.

- O Eliot, já foi muito diferente... Ele era bondoso, generoso, e amado por todos. - Fala Krystian, vejo tristeza nos seus olhos. - Era um irmão perfeito. O tengu ideal. Aí, um dia sem explicação, ele ficou completamente louco, ele saiu numa matança e assassinou inúmeros humanos.

Os punhos do Krystian se fecham, há lampejo de dor nos olhos do Krystian, eu me pergunto se ele testemunhou isso pessoalmente, meu coração começa a acelerar, eu deixo o Krystian terminar.

- De início eu não pude acreditar, pensei que era um mal-entendido, então tentei conversar com o Eliot. - fala Jeremy. - Mas, ele me atacou, quando olhei em seu rosto, eu vi...

Krystian cerra os dentes lutando para segurar as emoções, seus olhos só tinha tristeza e lampejo de dor.

- Eliot estava mudando, meu irmão bondoso virou um assassino. - fala krystian.

- Krystian... E os yokai não via problemas em ele matar humano. - falo, me aproximo dele.

-Eu não sabia o que fazer... Eu tentei impedi-lo. - fala Krystian. - Mas, não conseguia.

Krystian passou por tantas coisas, ele sempre fica quieto guarda tudo pra si mesmo, agora eu entendo o porquê. Eu duvido que o Krystian consiga confiar em mais alguém, exceto o Jeremy... Até hoje.

- Eu tive que contar com o Jeremy. Assim como eu tive que contar com você e com o Jeremy ontem. - fala Krystian, a voz dele fica baixa. - Eu ainda não consigo ficar contra ele... Essa seria a minha luta.

Krystian segura a cabeça com as duas mãos, sua máscara inexpressiva parece que está prestes a rachar, eu quero tentar ajudá-lo a se sentir melhor, mas, será melhor dá-lhe espaço, ele está passando por muitas coisas nesse momento. Depois de alguns tensos minutos, Krystian se vira pra porta, ele para antes de sair.

- Tem... Mas uma coisa. - fala Krystian, me olhando. - Vamos ter que decidir o que fazer com o Eliot.

- Bom, você tem que tomar essa decisão... - falo, coloco uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.

- Eu vou precisar de tempo. - fala krystian.

Krystian para por mais um momento e fica pensando, depois vai embora de forma abrupta. Fico ali naquele quarto sozinha, mas resolvi ver como está o Eliot, Eu bato uma vez na porta do Eliot, mas não há resposta, eu respiro fundo e abro a porta do quarto, logo entrando no quarto. Eliot está sentado no chão acorrentado, eu lentamente me aproximo.

- Eliot... - falo, seus olhos se abrem lentamente.

Sua expressão sem vida mostra um pouco de repugnância, mas mesmo assim ele não fala nada.

- Até um criminoso merece ter seus ferimentos tratados. - falo, checo as correntes. - Eu aprendi a tratar das pessoas, minha irmã era enfermeira, ela me ensinou tudo que eu sei.

Eu me aproximo mostrando o tecido e os curativos que eu trouxe, Eliot debocha, eu fico com medo no momento, depois reúno minha coragem. Minhas mão trêmula delicadamente começam a limpar os ferimentos, meus olhos são atraídos por seu tapa-olho, Eliot percebe.

- Vá em frente. - fala Eliot, sua voz é sombria e eu sinto calafrios com seu tom áspero. - Tira.

Eu estou com medo, mas também estou curiosa, o que ele está escondendo ali embaixo? Será que ele perdeu o olho? Minha curiosidade vai acabar depois que eu remover o tapa-olho, então devo tirar. Eliot fica paralisado me olhando, eu consigo ouvir meus batimentos cardíacos acelerando, engole seco e lentamente puxe o tapa-olho pro lado. Sob o tapa-olho está um olho horripilantemente desfigurado, eu não consigo evitar de dar um passo para trás, chocada. Eliot riu da minha cara.

- Você é apenas uma humanazinha patética no fim das contas. - fala Eliot.

Minhas pernas tremem, eu quero correr daqui, mas tenho que ser corajosa, eu respiro fundo ainda tremendo de medo.

- O que aconteceu com seu olho? - gaguejei.

- Isso aqui? - fala Eliot. - Foi um presente de um humano igual você.

Eu olho pro seu olhar medonho dele, me sinto enjoada, mas o sentimento é de culpa, eu não consigo imaginar uma pessoa sendo tão cruel, e não foi apenas com o corpo dele... Krystian disse que Eliot costumava ser generoso e amoroso. Eu me lembro do Eliot destruindo ofertas no templo do amor, parece que tanto o corpo quanto o coração foram machucados, e foi um humano que fez isso com ele? As peças se encaixam e sinto a tristeza borbulhando no meu peito.

- Você... Sentia amor? - falo.

Eliot paralisa, no momento ele parecia chocado.

- Idiota! - fala Eliot com um olhar frio.

Seus olhos estão cheios de raiva. As correntes em volta dele se esticam quando ele se move para frente ligeiramente na minha direção, mas eu não sinto mais medo. Mesmo pra ele eu sendo tão fácil de matar quanto um inseto. O medo foi substituído por uma compreensão dolorosa.

- Não tem sentido gostar de criaturas desprezíveis. - fala Eliot. - Humanos não tem coração.

- Eu sei. - falo, Eliot para e me observa. - Eu sei como é...

Eu sinto as lágrimas se formando em meus olhos enquanto eu olho pra pessoa que o Eliot se transformou, ele simplesmente deixou a mágoa devorá-lo. Eu de repente não consigo suportar ver as correntes prendendo o Eliot, deve está doendo, eu tento puxá-las, para afrouxá-las e diminuir o sofrimento dele. Ele é assassino e cruel, mas creio que ele pode mudar algum dia, os olhos sem vida do Eliot estreitam enquanto me observam.

- O sentimento de ser traído por alguém que você amava... - falo, olhando nos seus olhos. - Não tem nada que dói mais, eu sei disso. Mas, matar humanos... Não vai curar essa dor que você está sentindo.

Limpo as lágrimas que descem no meu rosto, continuo mexendo nas correntes.

- Eliot... Parece alguém que eu conheço, acho que já vi uma foto dele. - pensei mentalmente.

Eu me afasto do Eliot, sinto que estou conectada a ele, as coisas não têm que ficar como são. Ele pode mudar, assim como eu mudei. Ele puxa as correntes, eu sinto medo, mas misturado com raiva e tristeza, Eliot estreita seu olhar pra mim, quando ele fala, sua voz é sombria.

- Você não sabe de nada, nenhum grande yokai amaria uma humana e sua bondade te deixa fraca. - fala Eliot.

- Não! Você não consegue ver que nem todos os humanos são maus! - gritei.

Ele se mexe e as correntes fazem barulho, eu fico parada olhando ele.

- Esse não era o meu plano, mas... - fala Eliot. - Eu vou gostar de te punir por causa da sua fraqueza.

Eliot me olha com um sorriso que beira a loucura.

- Matar você vai ser o meu maior prazer.

Eliot pula pra frente, arrebentando as correntes afrouxadas, eu finalmente levanto as minhas mãos para tentar me defender.

Coração de um Yokai (Em revisão) Where stories live. Discover now