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Giovanna conversava com as amigas na grande praça. Havia muitas risadas e gesticulações.

– ... Não! Quem ela pensa que é? Pergunto se quer se sentar com a gente e ela finge que não ouve? – Giovanna levanta as mãos e diz nasalada. – Está falando comigo? Estou satisfeita com meu lugar, obrigada!

– Gente! Que ridícula! – disse Cat, que era da turma Segundo-Ano A. Augusta ainda não estava entendendo.

– Mas por que ela foi tão má com você?

– Eu sei lá, Guta! – cortou Giovanna. – Talvez não exista educação no planeta dela! Você já viu a cara dela? Como se veste, como anda? Nossa...! E aqueles sapatos? – Então respondeu às próprias perguntas com risadas de escárnio. – Ainda se achando a Cara Delevingne!

Mais pessoas se juntavam ao grupo, impulsionando Giovanna a falar mais alto.

– ... E de onde veio aquele nome? – Adicionou xenofobia ao nasal. – Como vai? Me chamo Malena, e moro com mainha e mais nove irmãs. Malana, Malina, Maluna, Malene, Maneíde, Majânia... – Giovanna disse mais nomes do que pretendia, cada vez mais mirabolantes.

– O que a professora quis dizer sobre ela ser a causa de a sala estar mais vazia? – perguntou Maria Eugênia quando as risadas diminuíram. Giovanna respondeu, mas não de imediato.

– Vai ver, Magê, que ela fez os outros passarem mal na hora de se matricularem. Tenho certeza que não toma banho.

– Mas alguém sabe onde fica esse tal de Rui Bloem?

– O que tem o Rui Bloem? – perguntou Guilherme, aparecendo de repente.

Giovanna contou novamente o que dizia desde o começo do intervalo. Usava a mesma entonação, ou talvez ainda mais dramática do que a primeira vez, mas começou a se incomodar pela falta de reação de Guilherme ao saber daquele absurdo todo. Quando terminou, ele simplesmente resolveu sair sem dizer nada.

– Gui! Gui! Ei, Gui!

– Fala! – Guilherme virou aparentando estar irritado, enquanto se afastava.

– Você viu meu bebê? – Então Giovanna viu a expressão do Guilherme se tornar polida, respondendo educadamente com o dedo indicador pousado nos lábios.

– Desculpe-me, Giovanna, mas acho que eu não o vi. Talvez ele esteja lá em cima dando uns amassos numa safada que eu agitei. – Guilherme deu uma piscadela quando Giovanna o xingou, e então saiu antes de seu namorado, que estava prestes a encontrá-la, chegar.

...

Malena aguardava todos saírem da sala verificando as suas anotações da aula. Percebeu que apenas ouvia o ruído do professor de história guardando suas coisas. Era um homem grisalho, corpulento e de barriga avantajada, no auge dos cinquenta. Para Malena, foi uma aula melhor do que a primeira, sem muitas piadinhas enquanto era lecionada. Além disso, quando falava, sua voz grave e volumosa ressoava com paixão. Absolutamente evidente que o professor amava o conteúdo do seu ofício e, claro, o próprio ofício em si. Talvez estivesse ali um exemplo de alguém em quem Malena poderia se basear. Mas seria muito mais do que ele, obviamente. Não havia nada do mundo que a impedisse da vida que merecia.

– Com licença... – Uma voz soou como um trovão abafado, e Malena se assustou. – Perdão, não queria assustá-la. – Era o professor, que finalmente havia guardado todas as suas coisas e se aproximava de sua mesa. – Malena, não é?

Malena afirmou silenciosamente, enquanto as cogitações de não ser incomodada por ter conseguido a bendita bolsa se derramavam pelo ralo. Bom, pelo menos todo o mundo saiu. O professor continuou.

MalenaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora