To The Moon

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Eu conheci um garoto.

Eu conheci um garoto e de primeira eu achei que não tínhamos absolutamente nada em comum.

Na verdade, nós tínhamos uma coisa em comum: o dormitório na universidade.

Eu cursava letras, meu sonho sempre foi ser um grande escritor.

Ainda me lembro bem da primeira conversa que tive com meu colega de quarto - que eu logo descobri que se chamava Michael - era uma noite chuvosa de terça-feira, e meu segundo dia naquela universidade, até então não havíamos tido muito tempo para conversar, eu estive ocupado organizando as minhas coisas do meu lado do dormitório e ele... bom, ele sempre estava estudando, eu não queria atrapalhá-lo. Mas naquela noite ele estava em sua cama lendo um livro, não estudando, apenas lendo por entretenimento, e sobre livros eu entendia, me parecia a oportunidade perfeita de tentar falar com ele.

Michael estava lendo "Pálido Ponto Azul" de Carl Sagan, eu nunca havia lido esse, mas o garoto parecia empolgado falando sobre ele, então eu acabei me sentindo como se eu mesmo estivesse lendo um livro que amava muito. Para mim, era magnífico ver a empolgação de uma pessoa falando sobre seus livros favoritos.

— Eu estou cursando letras, não sou um especialista em astronomia, mas eu reconheço quando um livro é bom, e esse que você está lendo deve ser ótimo, ou você só é muito bom exaltando as coisas que gosta — eu falei, tentando ser amigável e tentando fazer com que a conversa fluísse, eu não queria que aquilo acabasse num silêncio desconfortável de duas pessoas que estavam começando a se conhecer.

— Letras? E você pretende escrever livros no futuro? — ele perguntou, realmente interessado, e eu assenti, gostando quando ele sorriu para mim — Então talvez eu esteja na presença de um futuro grande escritor? Isso é incrível

Eu acho que acabei corando, era algo tão bobo, mas eu não pude evitar.

— E você? O que está cursando?

— Astrofísica

Eu o olhei um tanto surpreso, era interessante ver que eu estava prestes a fazer amizade com alguém que - aparentemente - tinha interesse em uma área bem diferente da minha, e nós poderíamos acabar aprendendo um com o outro.

Talvez eu estivesse apenas sonhando acordado, e nem fôssemos ficar tão próximos assim, mas ainda era algo agradável de se imaginar. Eu sempre gostei de sair da minha zona de conforto e aprender coisas novas.

— Então talvez eu esteja na presença de um futuro astronauta? Isso é incrível

Foi a vez dele sorrir, e eu acabei sorrindo junto.

Essas noites acabaram se repetindo. De novo e de novo. E nós conversávamos por horas, até algum de nós cair no sono.

Durante o dia, não tínhamos muitas oportunidades de conversar, afinal o setor onde eram ministradas suas aulas era distante do meu, mas sempre que podíamos, nós dois sentávamos juntos no gramado do campus para almoçar. E num desses dias, nós tínhamos acabado de comer, e Michael estava falando alguma coisa sobre sua semana de provas, eu ouvia atentamente, até ele deitar a cabeça no meu colo. Eu achei a atitude adorável, mas eu estava surpreso, acabei nem ouvindo mais o que ele estava dizendo, pois estava num debate interno se devia ou não passar meus dedos sobre seus cabelos e fazer carinho nele. Eu decidi que sim, então levei uma das mãos até lá e passei pelos fios loiros, esperando para ver se ele reclamaria ou algo do tipo, mas isso não aconteceu, então passamos o resto do almoço daquele jeito: com Michael tendo a sua cabeça no meu colo e eu fazendo cafuné nele enquanto nós falávamos sobre nossas provas.