Capítulo 4

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   Hoje estava, surpreendentemente, um belo dia de sol, comparado com os anteriores. Apesar de parecer desconfortável trabalhar um dia quase inteiro sob a radiosa e escaldante estrela, é mil vezes melhor do que os dias chuvosos, onde a água molhada nos cai nas costas, onde muitos de nós ficam severamente doentes com gripes e pneumonias.

   A enxada estava bem assente na minha mão, enquanto lavrava a terra vezes e vezes sem parar. Era capaz de sentir todas as minhas glândulas sudoríparas formarem suor sob a minha pele. Sentia que estava prestes a perder as forças, e desmaiar aqui em frente a estes homens todos.

   Apesar das minhas fraquezas, continuei a fazer regos na terra lavrada, para que depois possamos comer alguns destes alimentos. Normalmente, uma ou duas vezes num trimestre, alguém lembra-se de enviar um saco de sementes variadas. Não sabemos se o que plantamos é, sequer, comestível. Mas valia a pena o esforço.

   "Toca a trabalhar, anormal!" Um dos guardas berra em plenos pulmões para um dos homens que se tivera sentado na terra. Podia-se presenciar à distância o seu cansanço e a sua fraqueza. "E tu, toca a trabalhar!" O guarda olha para mim com os seus olhos cheios de ódio.

   Dei um breve suspiro e voltei a lavrar a terra. Os meus pensamentos eram infinitos enquanto exercia algum tipo de tarefa, ajudavam-me a distrair e fazer com que o tempo passasse mais depressa. O que mais gosto de relembrar são os bons momentos que tive fora deste lugar. Apesar do tipo de pessoa que eu era, continuava a ter família, amigos e um namorado. Ele era igual a mim e, por isso, entendiamo-nos mutuamente, sobre as nossas necessidades sanguíneas.

   Não sei se ele continua por aí, a destruir mais famílias e vidas, ou se já foi finalmente preso. Na verdade, já não me valia de nada interessar-me pelo seu bem-estar. Nunca irei ser capaz de escapar deste lugar, esta será a minha última sentença, a minha última casa.

   Os meus ouvidos são captados pelos sons de assobios e pequenas provocações. Olho à minha volta, vendo um grupo pequeno de prisioneiros caminhar, com os seus rostos virados para baixo.

   "Quem são?" Interrogo intrigada ao homem que estava ao meu lado.

   "Uns recrutas psicopatas novos, mas aqueles são de pouco calibre." Ele solta uma gargalhada. "Acho que só têm entre vinte e cinco a trinta anos."

   "Sortudos..." Murmuro.

   "Tens saudades?" Ele mete conversa.

   "Às vezes. Sinto saudades de viajar e de ter o meu emprego." Bufo, regressando ao meu trabalho.

   "Tu estavas empregada?" O homem que, por acaso, tinha uma aparência normal, questiona.

   "Sim, trabalhava numa loja de antiguidades." Solto uma risada.

   "Alguma vez roubaste alguma coisa de lá?" Ele verga-se para escavar pequenos buracos nas carreiras.

   "Tantas..." Pensei nalguns objetos sem qualquer importância que cheguei a tirar. "Mas os donos eram velhotes e já não tinham percepção das coisas."

   Um silêncio constrangedor instalou-se no nosso pequeno diálogo banal. Eu não era daquelas pessoas que apenas gostava de dar informação. Eu era uma pessoa, consideravelmente, curiosa.

   "Então e tu?" Interrompo este momento desagradável.

   "Eu era um professor do ensino médio." Ele dá um sorriso. "Quando descobri que não me deram colocação na escola que eu queria trabalhar, peguei fogo a várias escolar do estado."

   "Tu és o-" Ia exclamar surpreendida, mas ele rapidamente me calou, atirando terra para a minha cara, de forma brincalhona.

   "Shh, não é preciso mais ninguém saber." Ele murmura entre dentes. "Eu estou arrependido."

   "Bem, de arrependimento está o inferno cheio." Declaro, baseando-me no que o povo costuma dizer, e com razão.

   "Por que estás aqui?" Ele questiona-me.

   "Matei algumas pessoas, tu sabes como é que é..." Tento desviar o assunto.

   "Quantas?" Os seus olhos estão presos a mim.

   "Desculpa?" Solto uma gargalhada seca, sem graça.

   "Quantas pessoas mataste?" O homem repete a sua pergunta.

   "Trinta e oito." Solto num tom baixo e firme, mantendo o meu olhar baixo.

   Consigo pressentir a sua cabeça assentir, fazendo o nosso diálogo morrer ali. O tema tivera entrado num campo mais pesado, onde o melhor era não voltar a mexer.

   "Acabou o trabalho, todos para dentro!" Outro guarda berra em plenos pulmões.

   O barulho de ferramentas cairem no chão era constante, e todos queriam ser o primeiro a sair debaixo deste sol. Normalmente, a seguir a tarefas árduas, vamos todos para os balneários tomar banho. Como já era de esperar, eu ficava sempre num local à parte.

   Fui guiada para o meu balneário. Empurraram-me lá para dentro, avisando-me que tinha apenas vinte minutos para me lavar e trocar de roupa.

   A água morna que me batia no corpo era de louvar. Já necessitava à bastante tempo de uns momentos sozinha. Infelizmente, os minutos passaram a correr, e assim que o tempo estipulado terminou, fui retirada de lá de dentro.

   Guiaram-me até à minha cela, onde lá estava o meu companheiro amável. Ele estava sentado em cima do colchão da sua cama de ferro. Ouvi a porta ser trancada atrás de mim, fazendo-me dar um pequeno salto com o susto. Soltei um grunhido e atirei-me para cima do meu colchão. O meu corpo estava estatelado em cima da pouco confortável cama, com um membro para cada lado.

   Nós não nos falávamos desde o incidente no refeitório. Ele era incapaz de olhar para mim, e eu era incapaz de lhe dirigir a palavra. Porém, eu iria ter que engolir o meu orgulho desta vez, ou isto poderia tomar proporções gigantestas com o Richard.

   "Conseguiste ir à farmácia?" Questiono com uma voz partida e cansada.

   Ele permaneceu a olhar através das suas mãos, ignorando-me na totalidade, fazendo-me sentir uma parva e inútil.

   "Podes responder, ouve lá?" Levantei o meu corpo. "Que eu saiba, tu é que me apertaste a garganta para conseguires informações, quando bastava apenas perguntar-me!" A fúria cresce dentro de mim.

   Os seus olhos verdes encontram os meus pela primeira vez em dias. Ele parecia esgotado, pouco nutrido, e que tivera dormido poucas horas.

   "Não, não consegui." Ele finalmente dá-me uma resposta.

   "Eu quero que saibas que aquilo não é para drogados, precisamos dos medicamentos para quando estivermos doentes." Explico de uma forma pouco convidativa.

   "E tu conheces-me o suficiente para saberes dizer se sou drogado ou não?" O rapaz de cabelo achocolatado solta uma risada seca e doentia.

   Ele tinha razão numa coisa: eu não o conhecia, mas era algo que iria mudar brevemente.

*
*

Desculpem ter demorado!! Mas eu quero que esta história fique bem escrita desde o início, e para além do mais tive imensos teste e relatórios este período! Felizmente que esta semana vai ser a última com trabalhos, e a partir dai eu prometo publicar regularmente :D

O que acharam deste capítulo? Parece que sabemos mais um bocadinho sobre a vida da Ava e pequenas pistas sobre a do Harry :)

Comentem por favor ♡
LY

Death Row || h.sWhere stories live. Discover now