Como no dia em que você partiu

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Uma tarde de domingo na minha cidade, eu, meus amigos e Helena estávamos exaustos de tanto brincar. Brincamos de esconde esconde, os mais variados jogos usando uma bola de futebol. Inclusive a minha preferida, na qual se usavam 7 pedras.
Estava um pouco tarde da noite, a maioria dos meus amigos já haviam ido para casa. Eu e Helena estávamos sentados em uma escada.

— Então quando crescer, você vai fazer faculdade de direito?

— Sim Nick, e você?

— Eu ainda não tenho certeza… Digo, eu queria ser jogador de futebol, mas as pessoas dizem que seria difícil para mim.

— Eu acho que você joga mal. Mas se esse for o seu sonho, eu vou estar lá na arquibancada assistindo todos os seus jogos e torcendo por você. Mesmo que perca.

— Sério?

— É uma promessa.

Desci as escadas da casa correndo e parei ao ver Luana se levantando no banheiro. Ela me olhou como se quisesse saber o que estava acontecendo.

— Ei! O que foi? Não disse a ela?

— Disse, mas…

— Entendi, ela desceu com o Diego, vai logo!

— Tá!

Segui o caminho até chegar na sala. Já não havia muitas pessoas na casa, a festa já estava quase acabando. George, Vitor, Lexia e o resto do pessoal que ainda estavam na sala me olharam estranho, preocupados.

— Que cara é essa Nicolas? - perguntou Lexia.

— Vocês viram a Helena?

— Ela já foi embora, o Diego a levou de carro.

— Não… De novo não…

Corri aflito pela varanda e abri a porta principal e vi o carro do Diego indo embora a uns 100 metros à minha frente. Pela segunda vez a vi indo embora sabendo que ela não voltaria e sem poder me despedir.

Ainda conversávamos na escada, quando o pai da Helena apareceu.

— Helena! Eu estava te procurando, está na hora.

Ela voltava pra casa nos domingos por conta da aula.

— Sim. Tchau Nick, eu prometo que quando eu voltar na semana que vem eu vou treinar futebol com você. Ela me abraçou e foi com seu pai.

Eu continuei na escada, eu não conseguia pensar em nada que não fosse os nossos melhores momentos juntos durante aquele dia. Do alto da escada eu podia observá-la indo embora. Antes de ir para casa com seu pai, os dois passaram em um bar onde o pai dela foi se despedir do amigo dele, que é o dono do bar. E então eles foram ajeitar suas coisas para voltar.
Eu notei que tinha dois reais no bolso e resolvi ir naquele mesmo bar comprar um doce de amendoim antes de voltar para casa.

— Olá, sr.Luís, me dá aquele doce de amendoim por favor.

— Claro. E você está bem Nicolas?

Ele parecia preocupado.

— Estou melhor do que nunca, e o senhor?

— Uau, achei que você fosse ficar muito mal com a notícia, mas fico aliviado que esteja bem.

— Ué, que notícia? Do que está falando?

— Que o pai da Helena vai se mudar para um outro estado a trabalho, e não vai mais voltar aqui nos próximos anos, e a Helena vai com ele.

Naquele momento foi como se tudo de bom que eu estivesse sentindo fosse arrancado de mim violentamente. Tudo ficou cinza sem que meus olhos notassem. Eu não conseguia falar, era como se meu maxilar estivesse travado. Acho que o sr.Luís notou pois também parecia preocupado ao notar que eu não sabia.
Eu abandonei o bar sem nem mesmo pegar meu doce ou o troco em moedas. Corri na direção da casa dela, que ficava alguns metros ao lado do bar. Ao sair do bar vi o carro do pai dela alguns metros à minha frente já em movimento indo embora. Eu o segui, corri mais do que já corri em qualquer outro jogo de futebol, corri mais do que em qualquer outra brincadeira de pega pega. Corri mais do que em qualquer outro momento da minha vida, naquele momento eu torcia que fosse apenas um jogo, uma brincadeira, mas não, eu corria porque a pessoa que eu amava estava se afastando aos poucos, indo embora, eu estava prestes a perdê-la e nem mesmo pude me despedir. Não havia nada que um garoto de 13 anos pudesse fazer. Naquele momento todo o meu coração foi para longe junto com aquele carro. Ao invés de sangue, eram lágrimas. Não havia como estancar uma ferida como aquela.

Era a segunda vez que deixei aquilo acontecer, era a segunda vez que meu coração doeu no mesmo lugar. E dessa vez ela foi embora por vontade própria, talvez seja esse o motivo de eu não ter ido atrás do carro dessa vez. Apenas permaneci parado vendo ela ir embora. Dessa vez para sempre. Era esse o fim, ela escolheu ir embora.
Henrique e Lexia vieram até mim correndo para saber o que estava acontecendo.

— Ei! O que está acontecendo?! Por que você está com essa cara? E por que a Helena saiu com tanta pressa que nem mesmo se despediu de mim?!

— Eu disse a ela…

— Disse o quê?

— Que a amava - respondeu o meu irmão por mim.

Vírgulas do amorWhere stories live. Discover now