Hoje é Dia Dos Namorados? [DEGUSTAÇÃO]

Capítulo 01

Camila Vasques

Chicago está em baixo de ao menos um metro e meio de gelo na hora do rush quando preciso desesperadamente chegar do outro lado da cidade para entregar o bolo de casamento que passei o fim de semana projetando.

Foram horas e horas de trabalho meticuloso em uma encomenda para um casal famoso nas redes sociais, o que significa que, se algo der errado, minha carreira vai por ralo a baixo.

Pelos sete deuses de Westeros! Quem decide casar em pleno mês de fevereiro? AFF!

Estou tão mal humorada, tão rabugenta, que não sei como meus amigos/funcionários estão me aguentando esse fim de semana. Mas existe uma explicação para tudo isso.

Semana passada, eu finalmente criei coragem e contei para o meu amigo, Roger, que eu sempre tive uma queda por ele. Roger pareceu feliz com a revelação, e chegou a confessar q é recíproco, mas a verdade é que ele é um idiota que aproveitou minha brecha para entrar, literalmente.

Pois é, já faz uma semana desde o dia que eu dei feito uma cadela no cio para Roger e ele não responde minhas mensagens. O que eu acho muito estúpido da parte dele. Eu pensei que éramos amigos e que se as coisas não dessem certo entre nós, ele teria ao menos a decência de sentar para conversar. Mas não, ele preferiu dar adeus a nossa amizade por uma noite de transa, e simplesmente sumiu sem deixar rastros.

— Quanto tempo ainda falta para chegarmos ao salão de eventos, Chris? — Pergunto ao meu funcionário.

Não, eu não sou uma dondoca rica com motorista, Chris é meu braço direito na cozinha e, nesse momento, ele faz uma cara de incrédulo para mim através do espelho retrovisor enquanto estou com o bolo de quatro andares no meu colo.

— Na verdade, Camila, ainda estamos na esquina da loja.

— Meu Deus! Exclamo e me inclino levemente para saber o que está acontecendo nesse trânsito.

Meu celular vibra em meu sutiã e eu o pego para atender.

— Oi Sophie. — Respondo a minha irmã com uma voz cansada.

— Você tá bem? Por que está com essa voz de exausta? Hoje não era o dia de entregar o bolo de casamento do casal sensação da mídia? — Sophie tem a péssima mania de fazer um milhão de perguntas sem sequer respirar.

— Tô presa na bosta do trânsito. Sophie, se eu não entregar esse bolo antes do prazo estimado eles vão acabar com minha carreira de confeiteira! — Falo histérica.

— Calma, irmã. Você precisa relaxar senão terá um ataque cardíaco.

— Como eu posso me acalmar quando estou dentro do carro com a minha obra prima no colo enquanto não saímos nem da mesmo rua há uns vinte minutos? VINTE MINUTOS!"

Um barulho forte seguido de uma pancada faz com que eu me desequilibre brevemente, derrubando o celular de minha mão e trazendo minha atenção ao bolo ainda intacto no meu colo.

— Droga! — Escuto Chris sair do carro furioso indo ver os estragos que um idiota fez ao bater na parte da frente. Tenho certeza que se os carros estivessem em alta velocidade o estrago da batida teria sido catastrófico. Faço um agradecimento silencioso para qualquer ser divino que esteja escutando, mas logo em seguida lembro que eu já deveria estar chegando ao buffet com esse bolo.

Chris abre a porta de trás do carro e me olha com piedade.

— Sinto muito patroa, tenho que ficar e esperar o reboque. Você precisa pegar um táxi. Deixa eu te ajudar a descer.

A vontade de chorar faz um nó em minha garganta enquanto Chris retira o bolo de meu colo. Minhas pernas estão marcadas, revelando o peso que eu estava carregando e então lembro que provavelmente minha irmã ainda está na linha. Alcanço o celular enquanto uma das minhas pernas já está do lado de fora do carro.

— Camila pelo amor de deus, está tudo bem? Me responde! Você está bem?!

— Tô bem Sophie. — Ao menos fisicamente, mas não falo isso para não preocupá-la.

— Aqui, Cami. — Chris acena de uma calçada que parece ser um cafeteria, porém não tem ninguém sentado do lado de fora devido ao frio. Ele colocou o bolo sobre uma mesa pequena na calçada debaixo de um puxado de telhados me abrigando de qualquer imprevisto. — Sente-se aqui e espere o táxi. A dona do estabelecimento disse que eles sempre param aqui em busca de passageiros, assim você não tira os olhos da encomenda.

— Obrigado Chris. — Digo educadamente.

— Sinto muito Camila. — Ele fala novamente. — Não queria deixá-la sozinha, mas preciso resolver o lance do seguro.

— Tudo bem Chris, vai lá e resolve tudo. — Digo cabisbaixa e novamente lembro que minha irmã ainda está na linha.

Olho para o celular e descubro que ela desligou a ligação. Um minuto depois recebo uma vídeo chamada dela.

— Oi irmã. — Digo enquanto estou sentada sozinha naquele frio com o bolo na minha frente.

— Camila, me explica o que aconteceu

Conto tudo com lágrimas marejando os meus olhos.

— Me fala onde você está, vou mandar o funcionário do meu marido ir te pegar.

— Não precisa, Sophie. — Falo com uma sensação incomoda no peito. Sempre quis ser independente e me virar por conta própria, por isso abri minha própria fábrica de bolos que se transformou em uma confeitaria de médio porte e que depois dessa encomenda, entraria no mapa da alta sociedade de Chicago. Sophie se casou cedo com um grande empresário do ramo mobiliário, o que deu a ela uma certa estabilidade para que não precise trabalhar tanto. Não querendo dizer que minha irmã não trabalha, ela faz trabalhos incríveis com desing de interiores e acredito que ela seja a pessoa mais feliz que eu conheço. Admitir que preciso de ajuda, para mim, se torna algo muito difícil porque sei que se ela pudesse, me colocaria num potinho e me protegeria do mundo.

— É claro que precisa Camila, você não vai conseguir um táxi tão cedo e eu não vou permitir que você perca a chance da sua vida. Já liguei para o Jack e vou passar sua localização, daqui a pouco ele chega aí, beijos. — Ela desliga sem me dar tempo de recusar sua oferta. Será que todas as irmãs do mundo são assim?

Fico durante minutos angustiantes vendo o tráfego lento até que um Jeep estaciona próximo a calçada e um homem alto, com a pele alva e cabelos escuros desce e vem em minha direção.