12 Zuri

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Merda.

Pensei controlando meu relógio. Eu estava 20 minutos atrasada para o trabalho, tudo por causa da Cida, que ficou dormindo, quando deveria ter dado a medicação a João essa manhã, que se encontrava doente e tínhamos que controlar sua febre. A maior parte das vezes ela esquecia que não era eu a mãe dele, e sim ela. Eu detestava atrasos. Faziam dois meses trabalhando para eles, e era a primeira vez que acontecia.

Corri ofegante e só quando entrei na casa e percebi o silêncio, indicando que ainda não haviam se levantado, eu me permiti a respirar enquanto trocava minhas roupas no quartinho.
Caminhei rápida até à cozinha colocando a água no fogo para o café.

— Chegou atrasada! — a voz seca de Francisca ecoou na cozinha detrás de mim. Fechei os olhos por uns segundos, de fato esse seria um dia Não.

— Desculpe, senhora. Tive um contratempo com meu irmão. — me virei para encará- la.

— Os motivos não me interessam. Se não quer perder o emprego, espero que não se repita. Eu lhe pago para que cumpra suas horas de trabalho. — ameaçou fria.

— Quase todos os dias eu fico até depois do meu horário e nunca reclamei. — me defendi.

As tarefas que eu tinha para fazer na casa eram tantas, que haviam dias que o tempo estipulado não era suficiente para fazer tudo o que Francisca exigia e assim eu ficava sempre até mais tarde para me assegurar que todas as suas exigências ficassem cumpridas. Por vezes eu achava que ela ainda acrescentava algo mais, caso visse que eu dava conta. Como se estivesse constantemente testando meus limites.

— Está reclamando agora, Zuri?

— Não, senhora. Só tentando fazê-la compreender que eu não estou devendo nada. — se havia alguém me devendo talvez fosse ela. — Quanto ao atraso não voltará a acontecer. — assegurei.

— Olhe aqui mocinha. — ela se aproximou ácida. Pelo seu tom eu percebi que estava ainda de mais mau humor que o costume. Hoje seria um dia difícil para mim, e justo hoje, eu tinha que ter me atrasado. Odiei um pouco mais Cida por isso. — Não ouse me responder novamente, ainda mais com essa audácia. Ouviu?

Estava prestes a responder mas Mauro, entrou na cozinha ficando estático quando percebeu o que estava acontecendo.

— O que houve? — perguntou fitando Francisca.

— Chegou atrasada e ainda se acha com razão para me responder.

Seus olhos vieram até mim dessa vez. Abri a boca para me defender, mas Mauro me cortou.

— Deixe-a trabalhar tranquila, Francisca.

— Está insinuando o quê, Mauro? — perguntou irritada.

— Absolutamente nada. Mas se continuar a entretendo esse café da manhã, saíra ainda mais atrasado. Deixe-a fazer seu serviço. 

Os deixei em mais uma das suas discussões, enquanto coloquei a mesa e passei o café.

— Não vê que está tirando minha autoridade diante dela?

Ouvi Francisca reclamar já na sala. Mauro inspirou fundo cansado. Eu não sei como ele aguentava tamanho fardo. Francisca era ranzinza, insuportável, enervante. Era preciso muito autocontrole para não perder a cabeça com ela.

— Com certeza teve um bom motivo para o atraso, já que até hoje nunca aconteceu. Não seja tão intolerante, ou vai fazer com que essa garota vá embora também por não aguentá-la. Depois não venha me azucrinar a cabeça, porque eu não vou estar nem aí.

Francisca bufou irritada, mas calou-se assim que me viu entrar na sala trazendo o café.

— Para que precisou do dinheiro, que levantou da conta ontem? — Mauro perguntou enquanto eu os servia.

— Dei para o Luan. — respondeu hesitante.

— Só pode estar brincando, Francisca.

Mauro devolveu a xícara tão rápida ao pequeno pires, que o café transbordou manchando tudo ao redor.

— Você tirou todos os cartões dele, ele precisa de dinheiro.

— Precisa? — questionou nervoso. — Luan precisa é de ocupação para deixar de ser malandro. Para quê aquela quantia absurda que retirou? — sua voz estava alterada.

— Porque sente tanta raiva?

— Porque eu dei uma ordem e você simplesmente a ignorou, Francisca. Me responda, porra! — gritou, fazendo Francisca se retrair. Algo que nunca via nessa mulher que parecia ter sangue de barata.

— Ele quer trocar de carro.

O olhar de Mauro sob Francisca inflamou, mostrando o quanto ele estava revoltado.

— Quero esse dinheiro de volta na conta até ao final do dia, Francisca! — Mauro avisou exaltado.

— Isso não vai acontecer. — ela o desafiou.

— Se esse carro aparecer aqui em casa eu mesmo o destruirei, pode ter certeza.

— Se fizer isso eu vou embora da sua vida. Nosso casamento acabará. — Francisca o ameaçou se levantando, seus olhos faiscando fitando os enraivecidos de Mauro, que depois de ouvir sua ameaça se tornaram amargurados. Fiquei quieta no meu canto, me sentindo desconfortável por assistir uma das suas brigas mais intensas. Até o ar na sala se tornou pesado.

— Pois vá! Estou farto dessa merda que a gente ainda chama de casamento. Não somos mais um casal faz tempo. Ultimamente parecemos até adversários. Vá Francisca, você também não é feliz do meu lado ou esse coração não estaria tão amargurado, sem que eu entenda o motivo. Nós tínhamos tudo, para que vivêssemos bem e felizes. Mas algo mudou, não é?

Francisca pareceu assustada com as palavras de Mauro agora também ele de pé. Talvez ela achasse que o tinha nas mãos, assim como achava que podia controlar  todas as pessoas ao seu redor.

— Se acalme, eu falei da boca para fora. Estou nervosa. — murmurou ainda em choque se voltando a sentar.

— Mas eu não estou falando da boca para fora. — seus olhos não saiam dos dela, a olhando com
uma profundidade como se sua alma gritasse todo seu tormento através deles.

— Sente, vamos conversar. — Francisca pediu.

— Sem tempo, estou atrasado. Quero o dinheiro de volta na minha conta ainda hoje. Se Luan quer trocar de carro que trabalhe para ele, eu não vou mais bancar seus luxos. Além disso ele ainda tem uma dívida comigo, pela tasca do Manuel.

— Ele não fez isso sozinho. — Francisca ainda tentou defendê-lo.

— Que se fodam, eu não tenho nada a ver com os outros delinquentes, e sim com ele que porta meu sangue, meu nome e me deve respeito.

Mauro saiu deixando tanto Francisca, quanto a mim perplexa. A verdade é que eu nunca o tinha visto tão alterado depois de uma discussão com Francisca. Ele sempre tentava fugir do confronto, talvez pela exaustão que tudo isso lhe causava. Mas dessa vez ele parecia ter chegado no seu limite. Olhei Francisca transtornada ainda fitando o vazio diante de si.

— Precisa de algo? — perguntei baixo.

— Não, saia. — falou seca.

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Será que é desta que esse divórcio sai?

Já estava na hora de Francisca ser colocada em seu lugar por Mauro, não acham ?

Espero que tenham gostado.

Bom final de semana 😘

Zuri ( 3/1/ 22 data de retirada ) Corre que ainda dá tempo! 🏃‍♀️💨Onde as histórias ganham vida. Descobre agora