Capítulo 15 - Hogsmeade - parte 2

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Rhea respirou fundo e encarou os pés.

— Minha mãe era uma pessoa horrível, Sirius. Não só comigo. Horrível pra todo mundo. Se você soubesse as coisas que já escutei naquela casa... ela torturava pessoas lá, sabia? Ano passado inteiro. Trouxas, nascidos trouxas, tudo quanto é gente. Ela não era uma boa pessoa. E às vezes eu me pareço muito com ela.

— Você não é nada como ela.

— Você não sabe.

— Claro que sei. Por Merlim, Rhea, você não é nada como ela. Olhe só Bellatrix! Você vai dizer que são parecidas, também? Uma comparação dessas não deveria nem estar passando pela sua cabeça.

— Você não sabe! — ela tornou a repetir, quase gritando. Sirius se assustou, então Rhea limpou uma lágrima da bochecha e tornou a abaixar a voz — Você não sabe o que eu fiz.

Sirius a encarou, o frio deixando suas bochechas mais rosadas do que o normal e a ponta de seu nariz vermelha.

— O que foi que você fez?

Rhea balançou a cabeça.

— Não posso...

— Tudo bem, não precisa me contar — ele respondeu, observando o rosto da garota. Estavam muito perto, sentiam a respiração condensada um do outro — mas tenho certeza que não foi tão ruim quanto pensa.

Rhea apertou os olhos, dando seu máximo para conter as lágrimas.

— Foi — disse ela baixinho — foi, sim.

— Ela te obrigou a fazer coisas para Voldemort?

— Não. Quer dizer... bem, ela queria. Tentou. Mas não é nada disso. Não posso contar.

Sirius a estudava com cautela, seus olhos azuis estavam pousados nos olhos de Rhea. Rhea encarava o vazio. Os ombros se tocavam.

— Tem a ver com sua expulsão, não tem?

Rhea assentiu tão minimamente que pensou que Sirius nem perceberia — mas ele percebeu, e passou um braço em torno dos ombros de Rhea, puxando-a para mais perto. Rhea não conseguiu se impedir de deitar a cabeça no ombro do garoto, ignorando os gritos de seu cérebro para que ela se afastasse. Era o que Rhea queria fazer, é verdade, mas a curva do pescoço de Sirius era quentinha demais, e a pele aqueceu Rhea como uma lareira jamais conseguiu. E, quando foi atingida pelo cheiro do perfume de grife com resquícios de nicotina, ela sentiu seu estômago se revirar em mil e uma cambalhotas com um pensamento tão improvável e ridículo que ela tratou de logo afastar.

Mas e se Sirius também tivesse um cachorro?

Rhea quase riu com a ideia, lembrando-se da aula de meses atrás com o Professor Slughorn e forçando-se a pensar em Benedict, o verdadeiro dono do cheiro de sua Amortentia.

— Dumbledore jamais a teria te aceitado em Hogwarts se não te considerasse extraordinária.

Ela respirou fundo contra seu pescoço. Os pelos de Sirius se arrepiaram.

— Quando voltarmos para Hogwarts, podemos fingir que isso nunca aconteceu? Eu sei que você me odeia — ela disse.

Sirius deu de ombros. A mão livre acariciou os cabelos negros e gelados de Rhea, as pontas dos dedos deslizando delicadamente por sua bochecha. Rhea sentiu a respiração falhar. Certamente estava com péssimo condicionamento físico, porque seu coração estava ainda mais acelerado do que o normal após a curta corrida.

— Odeio. Considere isso uma trégua de Natal. Amanhã você volta a ser uma metida dona da razão.

Rhea sorriu, fechando os olhos. Não parecia um dia de inverno.

ilvermorny girl | sirius blackOnde histórias criam vida. Descubra agora