04 | Eu nunca mais quero ver vocês de novo

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Encontrá-las e convencê-las a aparecerem no jornal para darem a entrevista, com seus fatos da história, foi cansativo. Primeiro precisei encontrá-las, descobrir quem eram e que curso faziam. Isso me fez passar a manhã inteira indo de estudante em estudante, pedindo informações a respeito de pessoas que eu sequer podia chamar de próximas. E por isso, inventava qualquer desculpa, convincente o suficiente para uma garota de 21 anos estar desesperada atrás de três pessoas. Depois dessa sessão de mentiras, precisei procurar uma a uma nos prédios de curso, me deparando várias vezes com becos sem saída. Mas, quando enfim as encontrei, o desafio foi convencê-las. 

Eu mal havia finalizado o trabalho e já estava odiando a prática da profissão jornalística.

Kate Bennet cursava artes plásticas. Aquele curso combinava tanto com ela, que eu conseguia imaginá-la facilmente diante de uma roda de oleiro, moldando vasos com formatos de seios e vaginas.

— É, eu mudei de ideia — me expliquei pela segunda vez, segurando a alça da bolsa sobre ombro com impaciência. Odiava admitir que estava errada, por isso aquela situação me deixou nervosa e agitada. — Você vem ou não?

Ela me analisou dos pés à cabeça com um olhar julgador. Deixou a mão descansar no joelho, enquanto segurava um pincel sujo de tinta diante da tela colorida, e cogitou meu convite. Os alunos já haviam ido embora e éramos as únicas na sala.

— Tá — deu de ombros por fim, voltando a atenção para a tela. — Que seja.

Já Lin, a mais carrancuda, récem havia saído de uma das aulas do curso de Ciências Atuárias. É claro que eu não fazia ideia de que aquele curso existia, mas dizia algo a respeito de matemática e cálculos, com a probabilidade de algo dar merda dentro da economia. Pelo menos era isso que eu tinha entendido o professor explicar, antes que todos também saíssem da sala.

— Eu sugeri a mesma coisa ontem, mas você disse que não era problema seu — assenti, incapaz de me defender da minha própria ironia, usada contra mim. 

Em outra ocasião, já teria ido embora e pronunciado uma ofensa. Nas naquela situação de merda, não podia deixar meu orgulho tomar forma. Ao invés disso, tive que quase me desculpar. E foi difícil.

— Olha, foi mal. As pessoas cometem erros — assenti, olhando nos seus olhos redondos e indiferentes. — Se quiser vir, será hoje às três — e foi assim que eu dei as costas.

Roxana, a mais indiferente de todas, fazia cinema, e não era impossível imaginá-la com uma boina, sentada na cadeira de diretora de filmagem, gritando com todo mundo no set de uma gravação. Por incrível que pareça, ela havia sido, de todas, a mais esquisita.

— Olha Roxana, eu... 

— Tá — concordou, enquanto eu tentava alcançá-la no corredor onde a aula estaria prestes a começar. 

— Tá o quê?

— Eu dou sua entrevista. Que horas?

— Mas eu ainda nem falei da entrevista — observei, sentindo um calafrio arranhar minha espinha, e minhas pernas se recusarem a continuar seguindo-a.

— Deixa para lá — continuou, batendo os saltos no piso. — Eu descubro.

Havia convencido todas a aparecerem, ou pelo menos duas delas, mas aquilo já era suficiente para Duncan ter que se contentar 

Aguardava diante da porta da sala do jornal, checando as horas no relógio de pulso e dando um suspiro impaciente a cada 3 minutos. Não sabia por que não estava surpresa, mas elas estavam atrasadas. E, para ajudar, estava irritada com todas aquelas informações desnecessárias que havia descoberto sobre a vida de garotas desconhecidas, que eu estava me esforçando para ficar longe. Não podia me envolver, não sabia lidar com pessoas, e iria seguir a minha como se nunca tivessemos nos visto antes. Aquilo só precisava acabar logo, mas aquele atraso de dez minutos não estava ajudando.

Todas Contra Hawkinsحيث تعيش القصص. اكتشف الآن