Capítulo II - Sou um fã

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"O destino de duas almas machucadas é se encontrar dando consolo uma a outra, se compreendendo mutuamente

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"O destino de duas almas machucadas é se encontrar dando consolo uma a outra, se compreendendo mutuamente."

— Espere! — a movimentação ao meu lado chamou minha atenção e ao virar o rosto rapidamente vi um homem se retirar com seu cachorro, talvez tivesse falado comigo. — Me desculpe eu não posso ouvir, você disse alguma coisa?

Ele realmente parou ao ouvir meu apelo e logo se virou, meu olhar percorre seu corpo com curiosidade. A calça simples e o suéter claro lhe davam a impressão de vida despreocupada, parando no cachorro, noto que não se tratava somente disso. Meus olhos subiram um pouco mais, o rosto estava pálido pela ausência do sol e mesmo com os óculos escuros o semblante me causou um formigamento e uma sensação de familiaridade que não consegui ignorar, os cabelos castanhos estavam metade presos em um coque frouxo e o movimento lento dos lábios rosados me deixaram ansioso para ouvir sua voz... porém, obviamente isso não foi possível nem quando ele falou, me deixando apenas com a vaga lembrança de como era a voz de um antigo autor conhecido.

— Eu... — ignorando tal pensamento, me concentrei em ler seus lábios, ele parecia nervoso. — Eu apenas falei que a melodia que você tocava é bonita.

Sua declaração me fez entender o que havia acontecido e consequentemente me sentir um pouco constrangido por ter agido de tal forma, não que fosse minha culpa. Durante a infância aconteceu um acidente que me fez perder a audição gradualmente, ainda assim, não pude deixar minha paixão pela música, não me dando outra escolha senão encontrar meios de tocar mesmo sem poder ouvir normalmente.

Apesar da minha condição, não tive muitas dificuldades com a adaptação, aprendi ASL (linguagem de sinais americana) e leitura labial, mas nunca deixei de oralizar como qualquer outra pessoa. À primeira vista, não parecia haver nada de errado, o que resultava em pequenas situações onde parecia que estava sendo grosseiro por ignorar as pessoas a volta. No último mês estive vindo ao parque todos os dias, em horários diferentes apenas para tocar como uma forma de desabafo, para quem ou o que, não fazia ideia, pois não poderia ouvir. Soava como um grito que jamais seria ouvido, não importasse o quanto fosse alto.

Talvez devido ao meu nível de concentração, ou o que quer que fosse, eu facilmente me desligasse dessa realidade, então embora inicialmente tenha atraído alguma atenção, o fato de acabar ignorando tais pessoas acabou levando-as a manter certa distância e eu mesmo aprendi a não me sentir tão culpado ou constrangido com o fato, uma vez que não era minha culpa, não propositalmente. No entanto, senti a necessidade de tentar reparar isso dessa vez.

— Muito obrigado, eu não fazia ideia de que soava dessa forma, também não imaginei que tivesse alguém por aqui a essa hora — um dos motivos por visitar o parque em horários diferentes era para achar horários menos movimentados, assim poderia me perder em meu pequeno mundo, por isso foi surpreendente me deparar com alguém aparentemente guiado por meu som. Chegando para o lado no banco em que estava, estendo uma mão oferecendo o lugar, mas ao perceber algo errado com o homem a minha frente, volto a falar. — Por que não se senta?

O som do coraçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora