6. Rabo de cavalo

577 42 31
                                    


Investigo as prateleiras na livraria.

Como você sabe que eram orgasmos de verdade?

Merda, né?

Minha autoconfiança que já tinha virado essa coisa frágil, agora ia precisar de ajuda pra sobreviver.

Nada em nenhuma daquelas prateleiras salta ao olhar.

Existe um conforto único em livros de romance previsíveis. Às vezes você só quer se sentir bem, não é? Só aquela sensação quente dentro do seu peito que leva um sorriso imenso ao seu rosto, do tipo que só é capaz quando a gente sabe que vai ficar tudo bem.

Vai ficar tudo bem.

Não dá pra ser mais ficção do que isso.

Na vida real, nem sempre fica tudo bem.

Na verdade, na vida real, as coisas se esforçam mesmo para ficar mal e você tem que fazer um malabarismo insano apenas para se manter de pé... quem dirá feliz.

É por isso que Tatiana era uma experiência estranha.

O provador, o sofá, o bar... Não foi como sexo.

Até porque não houve sexo.

Eu quero dizer que não foi só um alívio temporário pro estresse e caos. Não foi a rápida sensação de estar bem.

Tatiana no provador foi como Alice e o Conde que, desde o início, eu já sabia que iam ficar juntos.

Tatiana era como a vida deveria ser se tudo sempre fosse ficar bem.

- E esse aqui? - Laurie pergunta - "Duas irmãs apaixonadas pelo mesmo homem" - recita - "apenas uma pode ter seu amor retribuído".

- Não. - torço o nariz.

- Parece ser bem emocionante.

- Lala, eu quero um que eu saiba o que vai acontecer no final.

- Que graça tem isso?

- Não é pra ter graça.

- "O que ela pode fazer quando descobre que o homem que sempre amou é responsável pela morte do seu pai..." Credo, hein filha? - resmunga para o livro.

Tiro o exemplar da sua mão.

Laurie é nova em caçadas como aquela, mas eu sou experiente e sei exatamente do que preciso.

- Procura um que tenha gente pelada na capa.

- Que?

- Aqueles que tem homem sem camisa, exibindo uns músculos de photoshop.

Ela tem um sorriso de descrença roubando suas palavras. Reviro os olhos:

- Eu não ligo pra foto do cara.

- Tem certeza? Porque pareceu mesmo que essa parte era super importante. - ri.

- Esses têm o costume de ser clichê. Eu quero um que seja clichê.

- Que graça você vê nesses livros previsíveis?

- Que graça você vê nos imprevisíveis? De caótica já me basta a vida. Quando eu começo um livro eu quero mesmo saber que vai ficar tudo bem perfeito no final, obrigado.

- Esse daqui tem uma escola de sexo, um assassinato e uma herdeira de uma indústria pornô.

Faço uma careta.

- Não.

- Deve ter um monte de cena de sexo.

- Se você quer ler, leva. Não vou te julgar.

Ponto Com (Degustacão)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora