Capítulo 10: Encarcerada

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Acordo com um barulho estranho que vinha da janela. Decidida a continuar a dormir eu me viro na cama, com os lençóis enrolados no meu corpo e ignoro o bater persistente. 

Tinha passado alguns dias desde a minha chegada a este mundo. Muitas coisas tinham acontecido mas, o dia que eu conheci Abraão ficou vinculado a mim.  A minha mente persiste em me fazer recordar daquele sorriso maléfico nos seus lábios, o seu olhar frio e penetrante na minha direção como um falcão quando encontra a sua presa de longe. Acima de tudo, lembro-me do toque das nossas mãos que me levou a ter aquela recordação de mim quando eu era bebé. Eu queria saber mais de mim mesma e ele tinha as respostas que eu tanto ansiava ter. 

Outro abanão forte na janela me tira dos meus pensamentos. Paro e ouço com atenção o barulho que vinha do outro lado da minha janela. Fechei os olhos e escutei os barulhos ao meu redor.

 A chuva é acompanhada de ventos fortes que por sua vez criavam fortes correntes de ar próxima da minha janela. Era uma tempestade que fazia aquele barulho. Mas não era uma tempestade normal. Eu conseguia ouvir os sussurros de Abraão que eram trazidos pelo vento até mim. Ele sussurrava o meu nome persistentemente, me chamava vezes sem conta e me convidava a ir até ele. Eu resistia incansavelmente, e ignorava noite após noite o seu chamamento. 

Quanto mais eu ignorava mais persistente o chamamento ficava me levando quase à loucura pelas insónias que ele me causava. Muitas vezes eu corria para fora do palacete desesperada por ter um descanso daquele chamamento. Mas assim que eu passava pela porta, correntes mágicas apareciam por todo o lado e me prendiam com tamanha força que chegavam a cortar a minha pele. Cyrus me mantinha presa dentro do palacete wonder por um feitiço de aprisionamento. Da mesma forma como o feitiço me impedia de sair do palacete, ele também me impedia de chegar perto de Abraão ou ele a mim.

Eu fui abandonada à minha própria sorte dentro do palacete. Saeran aparecia uma ou duas vezes por semana para me trazer comida. A sua chegada era sempre estranha. Ele nunca entrava pela porta como pessoas normais. Na verdade, ninguém naquele mundo era considerado normal aos meus olhos. Mas existia sempre uma pessoa que superava as expectativas. E esse alguém era o Saeran, com a sua forma de ser unicamente peculiar. 

A janela voltou a tremer violentamente, como se alguém o estivesse a forçar a abrir-se. Eu estagnei de olhos esbugalhados de puro terror ao me aperceber que era justamente isso que estava a acontecer. 

Num pulo, saltei da cama e olhei ao redor a procura de algum objeto que poderia servir de arma para a minha proteção. A única coisa que estava disponível para esse serviço era o meu tênis preto. Era melhor que nada. 

Agarrei o par de tênis e fiquei estagnada na frente da janela. Eu odiava a sensação de impotência que me assola constantemente naquele palacete. E odiava ainda mais estar presa naquele lugar sozinha e como companhia de uma árvore possuída por um demônio com olhar gélido e sorrisos malignos. Independentemente do que irá acontecer no futuro próximo, eu estava decidida a lutar com todas as minhas forças. 

Determinada a me manter viva a todo custo, apaguei a luz e fixei o meu olhar na janela enquanto caminhei até ela. Quem quer que esteja do outro lado irá se arrepender de ter me acordado do meu belo sono. Abri abruptamente a janela e alguém espatifou  no chão do quarto. O vulto começou praguejar alto agarrado a sua cabeça. 

- Quem és tu - atirei um dos tênis na sua direção e pude ouvir o vulto a queixar-se desta vez agarrado ao seu nariz. 

- Aí. Calma, calma! Eu vim cá em paz. - reconheço de imediato a voz de Saeran e suspirei de alívio. 

- Saeran?! 

- Sim sou eu. Para a próxima avisa antes de abrir a janela. 

- Infelizmente não consigo ver através das paredes e nem consigo adivinhar. - acendi a luz e olhei para o rapaz a minha frente. - Deves ter um motivo especial para estar empoleirado na minha janela. 

- Eu ouvi um barulho estranho e vim verificar. 

- Que tipo de barulho? 

- Como se alguém estivesse a bater na janela. - ele caminhou até o espelho e observou o seu rosto. Ele suspirou de alívio ao perceber que estava tudo bem com o seu nariz. 

- Eu ouvi o mesmo barulho mas vinha de fora. Não estarás a tentar enganar-me? - Semicerrei os olhos com desconfiança 

- Porque eu faria tal coisa? - nossos olhos se encontraram através do seu reflexo no espelho. 

- Não sei. - dei com os ombros indiferente - Talvez queiras me assustar. 

- Não faz sentido nenhum. O que eu ganharia em te assustar? 

- Talvez tenhas razão. Mas se não foste tu quem fez aqueles barulhos, então quem foi? 

- Boa pergunta. Talvez não seja boa ideia deixar-te aqui sozinha. - ele suspirou e virou na minha direção. - Por precaução passarei a noite aqui no palacete. Se acontecer alguma coisa contigo, Cyrus me mataria com um piscar de olhos. 

Pela expressão de Saeran, ele estava a relembrar as últimas palavras que foram dirigidas a ele antes de Cyrus desaparecer dentro do portal. 

- É bom que ela esteja inteira quando eu voltar ou a próxima cabeça que irá rolar pelo chão será o teu. 

Pela forma como falou parecia que Cyrus tinha o péssimo hábito de cortar a cabeça das pessoas quando não estava satisfeito com alguma coisa. Muitas vezes ele fazia isso por pura diversão. Eu própria presenciei a sua ira contra um dos seus cavaleiros. 

Cyrus era nada mais e nada menos do que o comandante da ordem dos cavaleiros. Com o tempo percebi que o reino estava dividido por uma guerra que tem durado gerações. E que foi nessa guerra que Cyrus ficou sem a mãe. A ordem dos cavaleiros é uma organização criada pelo rei para proteger a Sacerdotisa. Mas por algum motivo a Sacerdotisa acabou por desaparecer misteriosamente sem deixar rastos. 

Eu ainda estou a tentar perceber que papel tenho eu nesse mundo e na sua história e porquê que Cyrus me mantém encarcerada dentro desse palacete como uma criminosa.

Decidi que irei descobrir todos os mistérios escondidos de Antalya. Incluindo a Sacerdotisa desaparecida. Se existir uma pequena chance de ela estar viva então serei eu a descobrir tudo. Só assim poderei voltar para casa. Eles terão a sua Sacerdotisa de volta e eu poderei ser livre.


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Olá voltei com mais um capítulo. Ficarei ansiosamente a aguardar pelos comentários e como é óbvio espero ver as vossas estrelinhas nesse capítulo. Os vossos comentários e votos são muito importantes para mim. Beijinhos 😘

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