Meus olhos, primeiramente, varrem o gramado cheio de gelo que, também, está cheio de pessoas. Alguns fumam, outros se beijam e uma pequena quantidade apenas joga para fora todo o álcool que consumiu na última hora. Logo em seguida, antes que eu consiga evitar, giro a minha cabeça a noventa graus com a única intenção de olhar para o loiro ao meu lado.

Ele está com um sorriso de canto em seus lábios e, claramente, está mais animado do que eu para a festa próxima a nós.

— O que estamos fazendo aqui? — indago, com os olhos fixos na grande casa à nossa frente.

É uma fraternidade, com certeza. As letras gregas e prateadas refletem o nome da casa mesmo a quilômetros de distância.

Upsilon Tau Sigma.

— Surpresa, Ven.

Automaticamente, enrugo a minha testa.

Para ser sincera, a quantidade de pessoas que parecem estar no local me assusta. É uma casa grande e cabe muita gente ali.

Merda.

— Uma festa? Quem disse que eu queria ir a uma festa, Ian? — Fixo meus olhos arregalados em seu rosto.

Ele apenas solta uma risadinha.

— Confia em mim, pirralha. — Me abraça de lado.

Suspiro, deixando claro que ele venceu.

Meu irmão mais velho, então, sai do carro, esperando que eu faça o mesmo quando, na verdade, tudo o que quero é sair correndo daqui. Entretanto, seria péssimo fazer isso depois de ter passado tanto tempo longe dele.

Esse é o terceiro ano de Ian na Great Lakes University e Detroit fica bem longe de casa. Por isso, Ian nos visitava apenas em feriados e nas férias. Era horrível ficar sem vê-lo por tanto tempo.

Não posso abrir mão de alguns momentos com ele.

Abro a porta e, logo, sou atingida pelo vento congelante que circula por todo o campus. Acho que a brisa fria foi capaz de congelar até os meus neurônios.

Tudo completamente diferente do que estou acostumada. Mas não posso negar que adoro.

Ao caminhar até a porta de entrada da fraternidade, não deixo de admirar o quão grande e imponente é a fachada do lugar. Quatro colunas gregas sustentam parte do telhado colonial e há tantas janelas espalhadas pela propriedade que desisto de contar. Por fim, cada detalhe é tingido de tinta branca e, quando a neve cai, como agora, tudo se mistura e se complementa ficando da mesma cor.

É surpreendentemente lindo.

— Surpresa! — Uma multidão de pessoas grita, ecoando pelo grande espaço ao mesmo tempo em que a música é silenciada.

Me assusto instantaneamente.

A princípio, não entendo absolutamente nada e chego a colocar a minha mão direita em cima do meu peito, percebendo que o meu coração está mais acelerado do que antes. Contudo, ao ver o meu nome estampado em uma faixa gigantesca logo ao lado da frase "seja bem-vinda", me dou conta de tudo o que está acontecendo aqui.

Eu vou matar o Ian!

Agora, dezenas de olhos estão fixos em mim, alguns curiosos e outros tão surpresos quanto eu. Com certeza, boa parte deles não fazem ideia de quem eu sou, então, em uma tentativa de me apresentar, eu dou um sorrisinho mínimo enquanto aceno ridiculamente com a mão.

Collin sempre foi popular, diferente de mim. Todas as meninas de Orleans Sungold queriam ficar com ele e o fato dele jogar hóquei no colegial ajudava um pouco a atrair a atenção. Todavia, eu nunca achei que isso se repetiria na faculdade. Claramente, eu estava enganada.

Fizeram uma festa a pedido dele, cacete!

Segundos depois, as pessoas parecem perceber que, talvez, eu não seja tão simpática quanto o garoto ao meu lado e logo desistem de mim. A música recomeça e os olhos que, antes estavam presos em mim, reparando-me dos pés à cabeça, se vão.

— Seja bem-vinda, Ven. Estou muito feliz em finalmente tê-la aqui — Ian murmura enquanto me abraça, erguendo-me minimamente do chão.

Não consigo evitar e acabo dando uma risadinha.

— Eu vou te matar por ter mobilizado esse tanto de gente para me receber — digo, retribuindo o abraço.

— As pessoas por aqui não perdem a oportunidade de ir a festas. Além disso, eu comprei toda a bebida. Ou seja, álcool totalmente gratuito. — Me lança uma piscadela.

Agora eu sei o porquê de a mesada dele acabar tão rápido.

— Obrigada por isso, ok? — Sorrio para ele. — Eu amo você.

— Eu também amo você, pirralha. — Em seguida, os olhos do meu irmão são focados em outro lugar e, por algum motivo, um sorriso torto cresce em seus lábios antes de ele dizer: — Até que enfim, Blackwell.

Movida pela mais genuína curiosidade, me viro para onde Ian olha neste exato momento, parecendo animado com o que vê e, sem aviso prévio, sinto quando o meu coração galopa de um jeito novo, acelerando tão repentinamente que chega a me assustar.

Do outro lado do cômodo, há um garoto de olhos cinzentos, gélidos como um lago congelado e completamente indecifráveis aproximando-se de nós. Seu cabelo, de um tom castanho amendoado, está bagunçado estrategicamente caindo em sua testa. E juro que posso ver pequenas sardas em seu nariz, mesmo que ele esteja tão longe.

Por alguma razão, estou sem ar e me sinto, de uma forma estranha, completamente atraída pela sua presença.

Sem dúvida, os meus olhos jamais presenciaram algo tão belo e atraente como aquilo.

E então ele sorri minimamente para mim, como se soubesse que, no momento em que os meus olhos fixaram-se nos seus, eu tivesse descoberto algo novo, totalmente encantador e fascinante. Algo esse que, a partir desse momento, praticamente me obrigasse a desvendar o belo e misterioso garoto do outro lado da sala.

Hamlet: peça do respeitável e influente dramaturgo inglês William Shakespeare que trata de temas polêmicos e relevantes seja qual for a época (corrupção, traição, incesto, vingança e moralidade)

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Hamlet: peça do respeitável e influente dramaturgo inglês William Shakespeare que trata de temas polêmicos e relevantes seja qual for a época (corrupção, traição, incesto, vingança e moralidade).

Playing For Him (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now