Capítulo 44 - Fraturas, amizades e uma nova vida.

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Bem, ー Serpente trincou os dentes. ー Ela é minha mãe...

Aya piscou uma vez. Piscou mais uma. Curvou a cabeça e parecia confusa.

Sua mãe? ー Certo, Aya já havia visto muitas coisas inesperadas em sua vida. Mas uma relação de mãe e filha de uma forma tão secreta era novidade. ー Ela não me disse nada sobre.

Ela não sabe que eu tenho essa percepção. ー Disse. ー A primeira vez que vi Soraya, em um bar, ainda não tinha me dado conta. Então, após algum tempo... Percebi que as semelhanças eram muitas para eu ignorar os fatos que estavam se formando bem na minha cara. Soraya era o nome da minha mãe, e ela se parece exatamente com a imagem que eu tinha de quando a perdi, aos nove anos. Não, definitivamente é a minha mãe. Eu não tenho como negar.
Por que não diz a ela? ー Para Aya, o desfecho daquela história era óbvio. ー Ela vai ficar feliz em saber, não?

Eu estou um pouco chateada com ela. ー Lançou Serpente, sem rodeios.

E, agora, Aya entendia menos ainda. O que havia feito Soraya para aborrecer Serpente?

Por quê? Ela me parece uma pessoa tão boa... ー Talvez a enfermeira estivesse se aventurando mais do que lhe cabia naquele assunto... Mas Serpente não parecia incomodada, de forma que Aya ainda assim prosseguiu. ー Eu gostaria de ter minha mãe de volta. A perdi bem jovem, aos quinze anos...

Este o problema, Aya, eu também perdi a minha mãe. ー O olhar de Serpente era pesado; Ela parecia realmente estar aborrecida com o assunto. ー Pensei que ela estivesse morta aos nove anos, e desde então, nunca mais a vi. E, agora, ela está de volta... Por quê, entende? Por que nunca me disse que estava viva, me fez acreditar que eu era uma criança órfã e sem família por tanto tempo? Isso não faz sentido na minha cabeça. Eu poderia ter crescido com uma mãe ao lado, ao invés disso, tive uma infância turbulenta marcada por uma perda intensa. Ela me abandonou, essa a verdade.

Ela pode ter um bom motivo para isso. ー Agora, as coisas estavam mais claras para Aya. ー Porque ela parece te amar, de verdade. Se preocupa com você com tanto zelo e carinho... Não acho que uma mãe que simplesmente abandonou sua filha teria o cuidado que ela tem por você.

Pode ser. Eu ainda estou tentando amadurecer a ideia, me sinto rejeitada. ー Serpente mordeu o lábio inferior. ー Mas, se é esta a questão... Por que ela não me diz? Ela sabe que é minha mãe.

Acho que essa é uma questão um pouco mais complicada do que parece. Talvez sua mãe tenha medo do seu julgamento, talvez ela simplesmente esteja tomada pela culpa. Perdoá-la ou não é uma questão sua com você mesma, e cabe somente a você essa decisão. ー Concluiu Aya, e Serpente fez que sim com a cabeça. ー Bem, de qualquer forma, você pode ir agora. Está livre.

Que pena... ー Em sua face, formou-se um sorriso malandro. ー Estou me sentindo tão encantada por esses seus lindo olhos verdes...

Aya franziu a testa e por pouco não se pôs a rir.

Isso é um cortejo? ー Um tanto quanto inusitado, por sinal.

Se você quiser, é. ー Serpente lançou-lhe uma piscadela. ー Se não quiser... Então eu nunca disse nada.

Desta vez, a enfermeira não conseguiu conter uma gargalhada.

Sinto que terei de recusar. ー Ainda que não estivesse apaixonada por outra pessoa, Aya não conseguia envolver-se com ninguém sem o vínculo adequado para isso. ー Mas obrigada pela proposta, eu acho.

Caos e Sangue | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora