Capítulo 24 - Viva, Bonnibel

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O verdadeiro significado de intimidade.

[...]

As aulas haviam voltado a poucos dias, mas os finais de tarde e fins de semana continuavam com o mesmo ritmo maluco para Marceline e sua banda. Com o festival marcado para o início de fevereiro, cada segundo de ensaio era profundamente precioso. Em outros anos, talvez Marceline tivesse se mudado para o estúdio até o dia do show, dormiria e acordaria abraçada ao microfone e ao baixo. Mas ela era uma garota de palavra, e ela já havia decidido que a banda não era mais sua única grande prioridade.

Então, aquela tarde era toda para Bonnibel. Mas a garota já não tinha tanta certeza se isso era realmente algo a se comemorar, já que Marceline estava claramente tentando matá-la.

"Será que a gente pode simplesmente ir ao shopping e tomar um café ou chocolate quente? Passar na livraria? Cinema? Qualquer coisa que não envolva risco de morte?"

"Ah, qual é Bonnie... você tem carteira para dirigir isso, o que significa que você já teve que pilotar uma pra passar no teste." - disse Marceline, revirando os olhos.

"E eu não pretendo nunca mais pilotar uma coisa dessas" - resmungou ela, olhando de canto para a moto de Marceline, os braços cruzados.

Ela tinha cometido o enorme engano de contar para Marceline que ela havia feito as aulas e tirado a habilitação para moto, mas no final decidira que era melhor aceitar o carro como presente de aniversário de 16 anos, já que era infinitamente mais seguro, de acordo com ela mesma.

Agora tinha que lidar com a garota insistindo em pedir para ver ela andando em sua moto, sendo o mais insistente e irritante que podia, de um jeito que Bonnibel já até havia esquecido que ela poderia ser.

"Ah, qual é! Só vai até o final da rua e volta. Eu só quero ver você pilotando ela uma vez" - pediu Marceline pela quinquagésima vez, tentando apelar para o biquinho.

"O que você ganha com isso, Marceline?

"De acordo com meus cálculos, uma puta de uma visão sexy" - respondeu ela, mexendo as sobrancelhas.

"Se é uma visão sexy que você quer, eu compro lingerie nova. Eu não vou subir nessa merda sozinha" - disse Bonnibel, séria. Normalmente ela era boa em apenas rir das ideias arriscadas da outra garota, mas naquele momento não tinha nada de engraçado. O corpo dela não estava respondendo bem. E ela já estava exausta daquela sensação de tontura, da falta de ar, da ânsia de vômito. Achou que essas coisas iriam embora quando ela tivesse Marceline do jeito que queria.

Não foram.

"Bonnie... Você tá pálida. O que aconteceu?"

Mas a garota já não tinha mais como responder. A mente já tinha parado de pensar do jeito certo. Ela tinha toda uma teoria própria sobre esses momentos de crise:

O pensamento normal anda em linha reta. Da ideia no ponto A, passando pelos pontos de reflexão lógica, até chegar na sua conclusão. Que podia ser no ponto C, ou J, ou Z, dependendo de quantas situações precisassem ser levadas em consideração até chegar a uma resposta que fizesse sentido.

Mas independente de quantos pontos precisassem ser analisados até chegar a conclusão, a mente trabalharia em linha reta, juntando coisas lógicas, que fazem sentindo, chegando à um resultado aceitável, crível, dentro da realidade.

Mas isso era uma mente normal. A dela não era assim.

Uma ideia externa serviria como ponto A, mas sua mente nunca seguia somente uma linha de raciocínio lógico. Ela puxava mais uma linha com possibilidades totalmente diferentes, para outros resultados. E depois mais uma linha, e mais uma, e a mais uma. E aí outras linhas começavam a surgir de pontos aleatórios dessas linhas extras, de forma que em questão de segundos havia uma teia de aranha na cabeça dela.

Agridoce - Bubbline AUWhere stories live. Discover now