- Bom, me sinto lisonjeada. - ela sorriu e beijou o marido, antes de começar a escrever o que ele dizia. 

Assim que terminaram a carta, colocaram-na em um envelope e pediram para que um criado que os acompanhava mandasse a carta para o primeiro navio que partiria para a Inglaterra. 

Endereçada a William, a carta chegou um bom tempo depois, mas Edmond e Tayla ainda estavam no Brasil, curtindo momentos juntos com seus filhos e se preparando para visitar a França, onde os parentes de Edmond estavam, e a Itália, onde moravam os parentes de Tayla. Depois disso se planejariam para viajar por entre o mundo, antes de finalmente voltarem a Inglaterra, para que as crianças continuassem seus estudos.

Em seu escritório, William abre a carta com um sorriso no rosto. Ele segurava no colo seu filho enquanto Daisy se sentava próxima para ouvir o marido ler em voz alta.

 A famosa carta que Edmond jurou jamais escrever, pois jamais acreditava que iria se apaixonar.

"Pois bem, seu patife. Eis o que tanto desejava. Logo que conheci Tayla, você me disse que não conseguiríamos fingir afeição e nos apaixonaríamos. Completou dizendo que eu escreveria uma carta, enquanto coloco nossos filhos para dormir, dizendo que me apaixonei por ela.

Você me avisou, mas eu não dei ouvidos, você tentou me alertar, mas eu julguei ser impossível me apaixonar pela mulher que agora me ajuda a escrever essa carta. No entanto, cá estou eu, ditando para Tayla uma carta de amor pra ela, pois meus olhos estão cada vez mais distantes, e estou mais perto de perder a visão por completo. Ainda sim, sinto o cheiro dela, seu perfume de lavanda enlouquecedor que quase me fez perder a cabeça tantas vezes. Agora ela está vermelha de vergonha pela descrição que fiz sobre seu perfume, e se ela colocar isto na carta, será tão corajosa como se mostrou ser desde que nos conhecemos. 

Quando soube que teria que fazer um pedido de casamento para a dama das chamas, eu fiquei, no mínimo apavorado. Ela tinha uma fama assustadora de querer colocar fogo em tudo, e você se lembra do que sugeriu, meu amigo William, sobre ela querer colocar fogo em minha cama, enquanto eu dormia? Tayla acabou de gargalhar pensando na possibilidade, e caro amigo, eu estou perdido, pois mesmo quando eu tinha medo dessa mulher, eu ainda a amava. Fui tolo de pensar que poderia simplesmente fingir que iria me casar com ela até que pensássemos em uma maneira de arruinar o casamento. Isso jamais ia funcionar. 

Quando fui visitar Tayla em sua casa e ela apareceu de camisola para receber minha família e irrita a sua, eu sabia que ela não estava entrando naquele jogo para brincar. Ela queria ganhar, era uma jogadora nata, e sabia que poderia tirar qualquer um do sério e me fazer desejá-la cada vez mais. Não sei como não a arrastei para seu quarto e a cobri de beijos quando a vi naquela escada. Talvez tenha sido a raiva que sentia dela, ou as brigas constantes que tínhamos, mas algo começou a nos afastar por um tempo. Até que eu fiz aquilo, na luta de box. Escolher Daisy ao invés de Tayla, beijar Rose, beijar Lisa. Tive uma sucessão de decisões erradas, mas ela também teve seus momentos de cometer erros, tentando colocar fogo em mim duas vezes, uma na noite do nosso pedido de casamento e uma em meu aniversário, além de ter quase arruinado nosso casamento quando quis sair no jornal ao lado de Oscar. 

Nós erámos imaturos, infantis, pensando em si próprios e sem imaginar que estávamos cada vez mais nos afastando, continuamos nos machucando. Quando chegou o jantar de casamento, ela estava linda, radiante e perfeita, mas eu fiz questão de não olhar para ela, para que soubesse o quanto eu estava chateado. Marcamos uma data e quando ela chegou, eu não podia estar mais ansioso. Tayla a essa altura já está chorando enquanto escreve a carta que estou ditando, então talvez algumas linhas saiam borradas de lágrimas. Nosso casamento foi a melhor decisão que já tomamos, e mesmo que tenha sido um pouco triste, tendo em vista as circunstancias impositórias que o envolviam, amoleceu nossos corações para que nos entregássemos um ao outro na lua de mel, deixando nossa armadura de lado para que pudéssemos nos amar.

Fomos abençoados com uma criança que infelizmente não veio a nascer, e até hoje me arrependo de ter acusado Tayla de ser a formadora do incêndio. Fui injusto com ela e sempre que me lembro, peço desculpas. Enterramos a criança que ela gerava em seu ventre na igreja que nos casamos, e nada parecia conspirar a nosso favor. Vivemos constantemente com a dor da perda de nosso filho ou filha, e até hoje nos lembramos dele com muito carinho, e sempre contamos para seus irmãozinhos de que houve um anjinho antes deles e que ele sempre estará no céu, protegendo-nos. 

Tayla foi muito machucada, e enfrentou tudo com uma coragem que eu sempre soube que ela tinha. Minha esposa me enche de orgulho todos os dias. Seja por desmascarar vilões, estudar medicina ou enfrentar os olhares julgadores da sociedade sobre as marcas de queimadura que ela ainda carrega. Eu ainda me pergunto todas as manhãs sobre o que fiz para merecer a sorte grande de uma mulher tão expendida ao meu lado, me ensinando a ser um pai, filho, esposo e homem melhor.

Ela e nossos filhos, que agora brincam calmamente na areia da praia brasileira, onde eu e Tayla selamos nosso amor uma vez, são o motivo da minha existência e do meu respirar. Além de cumprir uma promessa antiga e contar as novidades, acima de tudo, essa carta é uma carta de amor, como eu disse.

É uma carta de amor para Tayla, para que ela entenda o que fez comigo. Para que ela entenda o que enfrentei por ela e o que enfrentamos juntos. E para que ela saiba que continuaria enfrentando o que fosse necessário para continuar amando-a.

Eu superei barreiras e limites e lutei para conquistar o amor dela e manter o seu coração batendo junto ao meu. 

Acredito que seja isso que acontece, quando um conde se apaixona.

Meus melhores cumprimentos,

Edmond Hughes."





Quando Um Conde Se ApaixonaWhere stories live. Discover now