[01] O amor que foi esquecido.

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Minha vida mudou muito depois que ele mudou para a cidade grande.

Não foi uma mudança radical nem mesmo de outro mundo. Apenas... mudei. Acho que cresci um pouco mais quando passei a comprar minhas próprias roupas. Não, acho que mudei mesmo quando me barbeei pela primeira vez. É... talvez. Quando estava com ele, gostava de roupas pequenas – shortinhos e blusas que batiam no umbigo e meias que iam até a canela – depois passei a vestir roupas maiores e mais largas. Acho que isso foi uma boa mudança, porque os shortinhos ficaram fora de moda depois de um tempo.

Mas acredito que esse seja o propósito de crescer, não é mesmo? Nós crescemos porque estamos mudando constantemente, porque podemos e devemos (ou devemos porque podemos, algo nesse sentido). Além disso, não mudar é quase impossível. Essa é uma das consequências de viver.

Quando o conheci, éramos criancinhas. Hoje, sou um homem adulto. Não foi só minhas roupas que mudaram. Fui eu, por completo.

Ele tinha dez anos, eu tinha sete. Nos conhecemos quando seus pais mudaram para nossa pequena cidade chamada Golden Fruit Land (na verdade, esse é seu apelido. Ela fica na costa de Seoul, bem interiorana e cheia de mata e barro e montanhas e verde). Ou seja, ele já foi da cidade grande antes de ser da cidade pequena, para, depois, ser da cidade grande novamente. Eles vieram porque seu pai havia recebido uma proposta de trabalho para trabalhar nos campos de arroz daqui. O dono majoritário era amigo de meu pai também, então eu sempre ia passear pelos campos de bicicleta. Foi num desses passeios que o conheci.

Ele estava vestindo uma blusa de botões amarela, aquelas que os turistas compram quando vêm visitar Golden Fruit Land, um calção de tecido e sandálias de dedo. Eu estava vestindo minhas roupas pequenas, com as meias arrebitadas até os joelhos, com estampas (não lembro qual era a estampa, mas deveria ser bem engraçada. Eu estava nessa onda naquela época). Ele estava andando de bicicleta no mesmo caminho que eu, e eu reclamei quando ele me ultrapassou como um foguete.

Eu disse:

— Olha por onde anda, babaca!

O que deve ter sido engraçado, porque eu tinha sete anos e tinha arrancado dois dentes de leite naquele dia, um sendo um da frente.

Ele freou bruscamente e olhou para trás. Vi o castanho das írises de seus olhos.

— Você que deveria se preocupar em estar andando por aí sozinho, tampinha! — Ele respondeu.

E eu não pude ficar mais ofendido.

— Com licença! — Ralhei, pondo as mãos nos quadris. — Eu sempre ando por aqui! E você?

— É a minha primeira vez — ele respondeu. — Estou conhecendo o campo enquanto meu pai conversa com o sr. Gru.

— O dono? — Perguntou.

— Uhum! — Ele respondeu.

Olhei ao redor.

— Eu posso te mostrar o campo — ofereci.

Ele sorriu para mim, revelando que também estava sem um dos dentes da frente.

— E eu posso te proteger enquanto você me mostra! — Disse.

— Sério?

— Sério!

— Então vamos!

Como éramos bestas nessa época! Hoje, quando lembro, fico olhando para além da janela e rindo como um idiota.

Depois desse dia, viramos carne e unha. Ele tinha esse costume de descer a colina onde ficava sua casa até a minha. Era muito formal, pedia para meus pais e tudo se eu podia passear. Minha mãe fazia uma cesta cheia de sanduíches e garrafas de chá verde para levarmos. Íamos de bicicleta mesmo, debaixo de chuva ou de sol.

Nosso amor perdido em Atlantis | Jikook.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora