Capitulo 3

12.5K 836 73
                                    

Conversamos por quase cinco horas. E acho que essa foi a coisa mais estranha que eu já fiz na vida: Conversar por horas com um estranho. Há essa hora já tínhamos conversado de tudo, desde as trivialidades até coisas mais importantes. Não contei meus segredos mais profundos, meus medos e coisas do tipo. Eu tenho consciência de que ele, mesmo depois de tanta conversa, ainda é um estranho.

Talvez agora ele seja um conhecido.

Juro que a Babi vai enlouquecer quando eu contar essa história pra ela! Eu sempre fui certinha demais, careta demais. Babi é meu lado negro. Se eu fiz algo de errado, com certeza eu estava com ela. E assim como ela é meu lado escuro, ela também é meu lado divertido.  Eu nunca faço nada diferente, sou bem acomodada, por assim dizer. E talvez por isso que ela tenha ficado tão surpresa quando eu falei que ia me mudar.

Ela estava pintando a unha sentada na beirada da cama e quando falei que ia embora o esmalte preto caiu da sua mão e sujou todo o chão. Ela ficou em silencio por alguns segundos, como sempre, e logo após veio a explosão:

- Você está louca? Como assim passar um ano com seu pai? Você não consegue nem falar dele direito! Becky, você se esqueceu de todos os nossos planos pro último ano? Da formatura? De todas as loucuras que iriamos fazer?

- Podemos fazer quando eu voltar.

- PELO AMOR DE DEUS! VOCÊ SÓ VOLTA EM 2016!

A Babi era muito conhecida por suas crises de dramas. Mas naquele momento eu estava exatamente como ela, só que por dentro. Foi bem difícil ter que dizer adeus a todos os planos que nós duas traçamos desde a quinta série.

Eu e ela nos tornamos amigas por causa de uma briga. Na verdade não era uma briga de verdade, porque eu nunca soube me defender e sempre apanhava, fisicamente e verbalmente. Nesse caso a agressão ainda tava sendo pelas palavras. Lembro dos meus lábios tremendo e da minha tentativa, fracassada, de não demonstrar como aquelas palavras me feriam.

A Babi entrou no meio e começou a xingar. Acho que aquela foi a primeira vez que eu ouvi um palavrão. Lembro das garotinhas populares terem começado a gaguejar e os olhos arregalados de todos por causa da boca suja da Babi.

- Você tem que aprender a se defender menina, e eu não vou ser sua babá. Aliás, odeio gente que apenas se encolhe e escuta todas essas merdas enquanto chora.

Lembro de ter ficado com os olhos arregalados e com medo. Mas logo depois ela mudou de expressão e começamos a ficar amigas.

Agora estamos há quilômetros de distancia e a cada minuto ficamos mais longe. Podem dizer que verdadeiras amizades não morrem por causa de distancia, e tudo bem. Mas a verdade é que nunca é a mesma coisa. O contato fica mais difícil e cansativo. E é esse o meu medo. Nunca nos preocupamos em manter a amizade. Era algo simples e fácil, nos víamos todos os dias na escola e íamos dormir de madrugada nos fins de semana conversando no telefone. Nunca enjoamos dessa proximidade e nunca brigamos nem sequer nos afastamos. E agora tudo parece por um fio. É como se nossa amizade fosse um prato de porcelana na mão de um malabarista que está em uma corda bamba. A 30 metros do chão.

- O que foi? – Olho pro lado e vejo os olhos curiosos do Guilherme. – Acho que na estrada não tem sinal, tá esperando algum telefonema?

- Não, não é isso – Volto a jogar o celular no colo. – Só estava relendo uma mensagem.

- Ah... Namorado?

- O que? – Falo rindo. Até parece que eu tenho namorado! – Nãaaao. Sem namorado. É apenas uma mensagem da minha melhor amiga.

- Ah sim, entendi. Legal.

Legal? Como assim legal? Será que ele tava com ciúmes ou... Não! Ele não estava com ciúmes, apenas é curioso.

Just a Year - (COMPLETA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora