Outono

863 45 5
                                    

O outono chegou

O tempo esfriou

A árvore secou

E a rosa murchou.

A euforia do verão

Plana lentamente até o chão

Tomba como uma folha seca

Numa terra de cor preta.

E a brisa leva embora

Em um redemoinho

A folha morta

E o vento chora

Invisível e sozinho

Em um silvo descora

Um graveto, um ninho

Em um sopro devora

Um canto quentinho.

A secura dos galhos

Estala no passar da ventania

Um balança e sacode falhos

Diante da raiz sadia

Que fixa o tronco de carvalho.

Pessoas em parques de agasalho

Velhinhos descansando nos bancos de madeira

Pensando que tudo na vida é besteira

Diante do cabelo grisalho.

Plec, plec, plec

Pés esmagam

Folhas quebradiças

Em pegadas mortiças.

Nas árvores a vida se reproduz

Na frente de nosso olhar

Poucos param para admirar

O que nasceu

Cresceu e morreu

O que o sol alimentou

E o vento levou...

Outono

Logo bate um sono, um sonho

Uma soneca pela manhã

Um bocejo medonho

Uma preguiça de levantar

Pensamento tristonho.

Um cafezinho quente

Num dia frio, ventos cortantes

Um passarinho assobia de repente

Lentos instantes...

E a chuva que escorre da telha

Formando cachoeiras nas calhas

E pingos d'água na ventana

Aquele chuááá incessante

Intenso, moderado, distante...

A saudade bate mais forte no peito

O joelho enferruja e dói

A tristeza o coração corrói

O homem é imperfeito.

Olhe a sua volta como a morte é bela

Um festival amarelado, vermelho e dourado

Tornou-se morta a natureza

O óbito em acinzentado tom

Nascerá em breve um espetáculo de beleza

O fruto do outono.

Uma canção melancólica

Tocava em um canal:

Quando eu falava dessas cores mórbidas

Quando eu falava desses homens sórdidos

Quando eu falava desse temporal

Você não escutou.

Poesia & Outras PoesiasWhere stories live. Discover now