UMA PERFEITA DESVENTURA [CONCLUÍDO]

C A P Í T U L O XXVII

Katherine estava no paraíso.

Ela acordava sorrindo, tomava o desjejum sorrindo e passava o tempo todo sorrindo, apenas por estar casada com Lord Crentown. Se há alguns meses ela achava impossível apaixonar-se por aquele homem, hoje ela achava impossível ama-lo menos. Kate não conseguia nem ao menos imaginar que por pouco não se casou com outro homem. Era surreal pensar em viver em um mundo sem aqueles cabelos ruivos, sem os beijos macios pela manhã e sem acordar com aquela voz sonolenta murmurando um bom dia repleto de amor.

Ela havia encontrado o prazer em coisas simples. Em um toque, um gesto, um abraço em uma tarde ensolarada de lazer, apenas fitando aqueles olhos verdes por toda a eternidade. E quando a noite caia, o tempo esfriava e ela se refugiava embaixo dos lençóis, lá estava ele. Envolvendo-a em seus braços, beijando cada parte de seu corpo e fazendo-a experimentar sensações que ela nem se imaginava capaz de sentir.

Nessa tarde em especial eles estavam na sala de estar. Thomas lia o jornal e sua esposa um romance. Estavam no mesmo sofá, com a luz do sol estrando pela janela, alguns biscoitos em cima da mesa e Katherine com as pernas em cima das do marido. De vez em quando os dedos de Lord Crentown subiam sorrateiramente pela pele dela, fazendo-a arrepiar, mas logo voltavam para as páginas do jornal.

Katherine também provocava. Movia os pés, roçava-os sobre o tecido da calça do marido e dava risadinhas sempre que o desconcentrava. Era uma brincadeira extasiante, mas no qual a regra era clara: quem ceder perde. Assim, nem Katherine nem Thomas iam além das provocações por enquanto — afinal, eles pensavam que teriam o dia inteiro para resolver aquilo.

Pensavam.

Alguém estava á porta.

Antes mesmo que eles pudessem ajeitar-se corretamente no sofá para chamar o mordomo o convidado já estava no cômodo. Lady Crentown arqueou uma sobrancelha, nada surpresa com a atitude. Era Neval Rodger. Poderia alguém esperar qualquer coisa de um homem como aquele? Não seria Neval se não houvesse nenhuma atitude indelicada ou inconsequente. Assim, a anfitriã apenas levantou-se e com um sorriso e gesticulou em direção à poltrona.

— Sente-se. — Sorriu — Aceita chá? — Ela estendeu uma xícara em sua direção.

O Sr. Rodger abanou no ar. Ele estava ofegante, suando e com o penteado destruído. Algo havia acontecido. Ele não sairia de casa com o cabelo dessa forma se não houvesse um motivo realmente importante. Katherine encolheu-se de receio, olhou para Thomas que não esboçava nenhuma reação, apenas analisava o rapaz com um calculismo admirável. Ele poderia tanto estar contando quantos botões havia em seu paletó quanto poderia estar planejando um sequestro.

— Eu descobri o paradeiro da Srta. Foster! — Exclamou.

Lady Crentown deixou que a xícara caísse no chão. Por alguns segundos ela permaneceu confusa, pensando se chamava uma criada, juntava os pedaços da porcelana, ou prestava atenção no que Neval tinha a dizer. Ela escolheu a última alternativa.