C A P Í T U L O XIV

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Em dias de baile Katherine evitava o máximo conversar com Lady Abbey em casa. 

Assim ao menos ela teria uma desculpa para conversar com a cunhada durante o evento e permanecer bem longe da pista de dança— evitando assim convites indesejados para dançar. Alguns rapazes já sabia que Lady Katherine não estava dançando nessa temporada e nem faziam questão de convida-la, porém outros, os mais persistentes, eventualmente apareciam pedindo seu cartão de danças para tentar — em vão — agendar alguma. 

O problema em questão era que dessa vez Millicent tinha alguém para conversar melhor do que Katherine. O seu próprio marido. Desde que Arthur chegou eles se viram muito pouco. Lord Abbey passou um bom tempo descansando em seu quarto, Lady Abbey foi às compras e no final, encontraram-se apenas para jantar.

Millicent estava desconfortável em relação a isso. Lord Abbey havia retornado há quatro dias e desde então era possível contar nos dedos a quantidade de vezes que haviam se encontrado. E entre elas, apenas duas foram completamente a sós. Uma ao cruzarem-se no corredor em direção a sala de jantar e a outra, na cama, no dia em que tiveram suas núpcias. Depois disso Arthur nunca mais voltou a deitar-se com ela e isso estava apavorando Millicent de uma maneira descomunal.

Ela compreendia que ele provavelmente estava cansado e que tentava retormar a vida cotidiana, assim como era antes do acidente, além de lidar com as mudanças da Casa Abbey, mas sua mente insistia em apontar a única causa da ausência do marido como rejeição. Millicent estava mais do que certa de que não havia agradado Lord Abbey. Talvez ela fosse muito magra, ou talvez muito gorda, mas provavelmente muito magra. Talvez ela não estivesse suficientemente perfumada ou seus cabelos não fossem macios como deveriam. Arthur deve tê-la considerado feia, deplorável e repugnante ao ponto de não conseguir nem ao menos deitar-se com ela novamente.

Millicent queria chorar sempre que pensava nessa possibilidade. Ela havia ido para Londres com a única missão de casar-se com um homem, e agora, constatava que seu casamento seria um desastre. Ela seria uma mulher infeliz, sem uma vida conjugal, e no final, sem seus filhos. O que seria de Millicent se não conseguisse nem ao menos ter filhos? Seria terrível. Ela não tinha amigos, nem família e em breve nem marido. Não era digna do título que carregava.

E havia constatado isso em apenas quatro dias.

Mas ao invés de lamentar-se ela parecia demasiadamente comum. Essa noite ela usava um vestido verde-escuro e seus cabelos estavam parte trançados, parte soltos e caiam em uma bela cascata sobre um de seus ombros. A gola alta impedia que o belo colar de diamantes que havia ganhado fosse exposto, mas estava ali, embaixo de toda aquela imensidão de tecidos pesados.

Ao contrário dela, Katherine estava leve como uma flor. Seu vestido era jovem, delicado e sereno. Até o tecido era leve ao ponto de levantar com um mínimo vento. Ela tinha sorte de não dançar, pois era possível que em algum de seus rodopios suas saias se erguessem. Ela estava esplêndida, sem dúvida, mas como sempre havia outras pessoas mais esplendidas do que ela.

Danisha Collins era uma delas. Não era surpresa para ninguém que Danisha estava deslumbrante. Katherine conhecia Danisha desde pequena, tanto que elas frequentaram a Escolas de Moças juntas, então ela tinha propriedade para dizer que a beleza da loira era nata. Certa vez, passeando pelo parque para lições ao ar livre, em um acidente trágico Danisha caiu na beira do lago. Obviamente não se afogou, mas como não teve onde segurar acabou molhando todo seu corpo, inclusive o cabelo. Até mesmo molhada, com grama nas bochechas e o penteado destruído, ela era mais bonita do que qualquer uma das outras adolescentes em pé, completamente limpas e arrumadas.

E ao seu lado estava Regina.

— Lord Abbey! — Regina quase saltitou — Como é bom vê-lo. Já se sente bem? Está recuperado? Quebrou alguma parte de seu corpo? Consegue andar normalmente?

UMA PERFEITA DESVENTURA [CONCLUÍDO]Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora