~ Capítulo 25 ~

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Aos pés de Dionísio

   Juvêncio sentia-se angustiado por causa da humilhação pública que sofrera, ao presenciar Catulo sendo arremessado com tamanha truculência pelas mãos dos soldados romanos ao enxovalho dos cidadãos.
   Mas esse fato não foi tão ruim quanto a dura advertência de seus pais, que acreditavam nas palavras do centurião Caleno, ao avisá-los que Juvêncio sofrera abuso por parte do poeta.
   O gracioso rapazito esperneou contra a advertência dos pais, e alegou que nunca havia sofrido qualquer tentativa de abuso  do preceptor, ao contrário, ele contou aos pais que amava Catulo, e que por causa do romance de ambos vivido às escondidas, isso fizera com que as autoridades os visse como suspeitos de um crime ilegítimo.
   O Pretor Claudius Maximus não conseguia acreditar nas declarações do filho primogênito, e creditou tal paixão á uma insanidade que habitava a cabecinha do jovem Juvêncio. Mas o rapaz foi bastante relutante quanto á essa questão, pois acreditava que não estava louco, mas sim irremediavelmente apaixonado pelo poeta.

— Cala-te! Não sabes o que dizes, Juvêncio. Você é um moço incosequente, o meu filho amado que tanto roguei aos deuses que me desses tu, para ser um senador em Roma, um filho pela qual eu pudesse contemplar tua coroação como César no Império. Não permitirei que você consuma esse romance vil com aquele libertino miserável! — exclamou Claudius, indignado.
— Não! Eu não sou mais nenhum garoto! Sou adulto o suficiente para lhe dizer que amo Catulo e, é com ele que eu desejo ficar. Ele está sendo acusado de um crime que não cometeu! O senhor precisa interferir naquela humilhação que Catulo está passando agora. — falou Juvêncio, desesperado.
— Juvêncio, esqueça disso! Mesmo que esse crime dele não seja verossímil, a essa hora ele já deve ter padecido na crucificação. Meu filho, esqueça-te dele, quando for coroado César poderá ter quantos amantes quiseres, por hora basta e deixe a lei fazer seu ofício. — Disse Claudius, abraçando Juvêncio.
  Ao ouvi-lo, o jovem afastou-se dele com tamanha rudeza e disse-lhe: — Não! O senhor não pode pensar dessa maneira sórdida! Repito outra vez que Catulo é inocente! Se eles tiverem o matado, o senhor também não terá mais filho algum vivo e muito menos terá um César pra preencher essa sua ganância de poder!
   Dito isso ao Pretor, Juvêncio deixou a casa às carreiras e embrenhou-se no Jardim da propriedade. Ele corria aos pranteios, tentando se livrar da dor que rasgava seu peito, temia pela morte do amante e não tinha coragem o suficiente para seguir no calvário, o evento cruel pela qual o poeta fôra submetido.
   Juvêncio foi rogar aos deuses pela vida de Catulo.
   E seguiu todo esbaforido pro templo do deus Dionísio.
Ao chegar lá, lançou-se aos pés frio da escultura de mármore do deus Dionísio e pôs a prantear pela vida do amado.
   Passado alguns minutos, uma mulher de capuz vermelho adentrou o templo e fitava o rapazito prostrado aos pés do deus, e notou seus soluços abafados.
   Juvêncio estava inconsolável.
   O jovem notou a presença dela, e ergueu o rosto em frangalhos para olhá-la.
   Ela ergueu delicadamente o capuz mostrando o rosto grácil pro jovenzinho. Parecia lânguida e serena.
Ela foi a primeira a falar.
— Juvêncio, sei o quanto amas Catulo e isso é confirmado pelo seu sofrível pranteio. Mas quero que me ouças com atenção o que tenho para lhe contar.
— Quem és tu? Como sabe meu nome? — quis saber ele.
— Uma amiga de Catulo. — respondeu ela.
— Ele nunca me disse que tinha uma amiga...
— Eu o entendo. Mas existe muitas coisas que você não sabe sobre ele, meu caro jovem.
— Fale o que tens para me dizer, e depois saía, preciso rogar sozinho aos deuses pela vida dele. Pois homem íntegro e inocente sei que ele é. Nosso crime foi nos amar com ardor, e nossos beijos provocaram a ira dos invejosos. — Disse o rapazito, ressentido. A mulher içou uma das sobrancelhas e retrucou-lhe: — Entendo sua dor, Juvêncio. Antes de Catulo ser arrastado para a crucificação, ele pediu que eu lhe entregasse isto.
Ela puxou do decote do peplo, a adaga reluzente do poeta.
Juvêncio reconheceu de imediato o punhal que pertencia ao amante.
— A adaga do Catulo? — perguntou ele, surpreso.
— Sim. Essa adaga pertence ao Catulo. Ele pediu á mim que entregasse á você, e implorou com lágrimas nos olhos pelos açoites do flagelo do carrasco, que era pra você usá-la quando a dor de sua morte na cruz não pudesse ser suportado no seu coração e ele sabe que você não irá suportar a dor da morte dele. — explicou-lhe ela.
— O quê? Ele quer que eu tire a minha própria vida quando ele morrer na crucificação?! Isso significa que ele está morrendo, mesmo sendo inocente por um crime que não cometeu? — questionou o jovenzinho, ao pegar a lustrosa adaga das mãos da tal mulher.
— Infelizmente sim. Se Catulo sucumbir na crucificação, o que é certo que será, ele não deseja que você viva, Juvêncio. Ele não quer vê-lo vivo, sofrendo de saudades pela dolorosa partida de sua vida no calvário.  — falou ela, fitando Juvêncio, que acariciava a adaga contra o rosto na tentativa de sentir o perfume do amante.
— Não me restará mais nada a fazer em cima dessa terra, se o meu amor padecer na cruz. Só caberá me unir á ele na morte. Que seja feita a vontade dele! — exclamou Juvêncio, chorando desesperadamente.
A mulher de capuz vermelho fez uma mesura de cabeça em despedida, e deixou o templo resmungando para si em sussrurros, as seguintes palavras: " Meu amado Catulo, não sabes do que é capaz uma mulher rejeitada. Não sabes mesmo, porque se soubesse teria evitado a morte de seu adorável garoto de estimação."
 

Juvêncio ~ Olhos de Mel (Concluído)Where stories live. Discover now