~ Capítulo 17 ~

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Catulo concebe seus escritos

      E sucedeu que na manhã seguinte, encontrava-se Catulo sentado de costas para mesa e tinha diante de si, um rolo de pergaminho aberto onde escrevia alguns rabiscos em latim com o auxílio da pena.

  O poeta estava despido e encoberto pelas sombras escuras que projetavam-se no recinto, onde era clareado apenas a parte do escrito, que estava sobre a mesa e por onde  os raios de sol iluminavam aquela pequena parte desse lugar de aspecto lúgubre, que era a moradia do poeta.

   Ao fundo do breu que reinava no quarto, podia-se vê algumas mobílias. Via-se uma única cama, um ataúde de madeira, canfôras, tinha também uma cadeira que ficava ao canto, e alguns cestos com rolos de pergaminhos que estavam amontoados perto da mesa onde Catulo escrevia suas elegias.

Ele Tinha também dispostas sobre a mesa algumas ferramentas que os escritores e escribas costumavam usar em seus textos e que era indispensável no momento de empunharem suas penas nos tinteiros e logo deslizavam em seguida no pergaminho.
   O que o leitor não percebeu nessas cenas descritas, foi a presença invisível de um ser que tinha a aparência humana disforme.

Ele estava acocorado no canto e completamente camuflado pelas sombras. tinha este ser uma aparência híbrida, os olhos eram felinos, e seus pés iguais ao de bode, sua protuberância masculina era generosamente grande, o que denunciava sua nudez, seus cabelos eram desgrenhado e ele tinha o aspecto sujo, porém, algo de belo esta criatura exibia em sua figura disforme.
Ele espreitava Catulo sem que este o visse no recinto, pois a presença deste ser era invisível aos olhos do luxuriento poeta.

  Catulo escrevia seus versos na embriaguez da paixão. Somente uma mente domada por sentimentos tenros, era capaz de transmitir aos pergaminhos, parágrafos magnânimos, impregnados pela lubricidade de sua ardente paixão que lhe transmitia amor e desejos aprazerados que o arrebatava rumo ao divino êxtase da escrita, que era o de criar palavras que descrevessem seus reais sentidos.
   Era isso o que poeta apaixonado fazia ali, em meio ao lúgubre e roto da escuridão do recinto, escrevia uma das suas mais belas e esplêndidas elegias.
   O que seria equiparado ao nascimento de uma vida, o calor da paixão desenhado em letras, sendo sua mais honrosa criação, o ápice da excelência dos versos.
Eis que nosso poeta era semelhança de deus. Do Deus que cria, que dá vida, que dá a razão, seja mal ou bem, é o que lapida as formas celestes e traça as mecânicas dos corpos celestes.
   É ser divino, augusto e celeste o que cria, ambos dignos de reverência se forem sentidos no âmago do espírito.
    Catulo permaneceria o restante do dia ocupado em seus escritos, concebendo suas criações, pois nem o próprio deus dos hebreus não criara o mundo em um único dia.
    Catulo estenderia suas ocupações por mais dois dias, tendo a companhia invisível daquele ser híbrido, que estava de cócoras ao canto, observando-o com admirável estima e sem arredar o pé dali.
Era como se ele fosse a própria sombra do sofista.

Juvêncio ~ Olhos de Mel (Concluído)Where stories live. Discover now