~ Capítulo 24 ~

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Perante César

       Esbaforido, Aurélio atravessou em rápidas passadas as escadarias de mármores do imponente edifício do fórum, que ficava no coração do Império romano.
  Mas ao aproximar-se do recinto onde estava presente o Imperador e sua comitiva, Aurélio foi barrado pela guarda pessoal de César.    
Não se dando por satisfeito, o Censor justificou-se aos guardas sobre sua posição no fórum para pôder falar com o Imperador. Mesmo assim, foi mais uma vez barrado pelas lanças dos legionários, que foram apontadas pro Censor, os guardas faziam a vigilância da porta do salão, onde encontrava-se César em reunião com sua comitiva.
    Tendo máxima urgência para livrar o estimado amigo da crucificação, Aurélio lutou contra todas suas forças para furar o bloqueio dos guardas e armou o maior alarido pra pôder chamar a atenção de César. Aurélio berrava o nome do poeta, e foi domado a força pelos brutamontes de elmo e lanças.
"Grande César! Catulo implora clemência! Catulo senhor, repito Catulo!"

    Do outro lado da porta, estava Caio Júlio César, sentado em uma confortável cadeira talhada em formato de pés de Leão e toda trabalhada em arabescos feitos de ouro, usava o Imperador uma estonteante capa vermelha e sandálias de tiras e fios de ouro nos pés. Sua vestimenta era a toga curta de  linho branco, que o remetia a figura de um homem austero, que fôra lapidado pelas mãos do ferreiro que lapida as armas dos deuses do Olimpo.
   A feição de César era firme feito um bloco de mármore, seus cabelos tinha fios grisalhos que cobria-lhe as laterais iguais raízes espalhadas e seus lábios eram finos, e o rosto tinha formato retangular. Não era grácil de rosto, tampouco tinha feições grosseiras, mas César era embelezado pela austeridade que carregava no pungente olhar, um olhar experiente de quem esteve em batalhas e que era considerado o maior conquistador de Roma. Ele era também magnânimo nos gestos e severo nas atitudes.
  Este era César, o maior conquistador de Roma.

   Enquanto ele proseava com três dos seus melhores generais no extenso salão, que era ladeado por colunas jonicas, tinha um destes homens que lhe mostrava um rolo aberto em mãos e que parecia ser um mapa, o Imperador lia tranquilamente as letras escritas ali, até ouvir os gritos e o tilintar de armas que misturavam-se aos ecos de "Grande César!" e "Catulo", este último nome despertou a atenção do Imperador, que imediatamente ordenou aos seus generais que trouxessem até a sua presença o tal homem que berrava implorando uma audiência com sua excelência .
   Resolvido toda a complicação do lado de fora do salão, Aurélio foi reconhecido pelos generais e estes trataram de relatar ao César quem era aquele homem e o ofício que ele prestava ao Império com o ofício de Censor, o responsável pela administração financeira pública de Roma.
   Com um meneio de mão do Imperador que indicava para que Aurélio se aproximava-se dele, os generais observavam com atenção a prosa que se travaria ali entre os dois, no salão principal do fórum em Roma.

— Ave César! Antes de fazer minha externação de clemência ao senhor, peço mil desculpas pelo escândalo que cometi. — Disse Aurélio, tentando recompor os ares, que estavam esbaforidos pelos passos acelerados que imprimiu na caminhada até sua ida ao fórum.
— Estás desculpado. Sei quem és, não precisa protocolos formais de apresentação, meus homens de confiança informaram-me que o senhor é o atual Censor das finanças de Roma. Esse fato o torna digno de merecer uma audiência comigo. Agora diga ao César o que veio fazer aqui, sua interrupção deve ser de máxima urgência... Se não fosse, o senhor não teria sido coibido pelos meus soldados mais bravos de batalhas. Agora, externe o seu pedido Censor. — falou César, dando a vez para que Aurélio pudesse falar sobre o seu pedido de clemência.
— Rogo-te clemência á Catulo, o poeta. — Disse o censor .
— Catulo? Que crime ele cometeu para rogar clemência á mim? Logo eu, a pessoa que ele tanto despreza com sutil arrogância! — retrucou César, incrédulo diante da menção do nome do poeta.
— Sim, excelência. Catulo, o poeta, foi acusado injustamente de estupro por uma testemunha que ninguém viu a face, a não ser pelo martelo dos magistrados, que acabaram sentenciado Catulo á crucificação. — externou Aurélio.
— Compreendo. As leis romanas são o flagelo contra os criminosos, se Catulo agiu hediondamente, nada poderei fazer se as provas testificam seu crime como verídico. Devo lamentar, pois nenhum outro poeta se equipara a ele em versos tão ousados e dignos de serem recitados até para as rolinhas que pousam no pórtico do fórum. Não poderei interceder por ele, a lei romana é marcial, e não deve ser infrigida. — Disse César, decidido.
— O senhor precisa conceder clemência á ele! És César, o todo poderoso e tem poder para tal ação. — retrucou Aurélio, deixando transparecer desespero na voz.
César franziu o cenho e disse ao Censor:
— Que tu és dele, censor? Amante?
— Excelência, não! Somos amigos, e em nome dessa amizade legítima, rogo pela soltura dele. — respondeu Aurélio.
— Foi o próprio Catulo quem mandou o senhor vir até mim e implorar por clemência? — quis saber César.
— Sim, ele fez o pedido porque deseja se defender de tais acusações falaciosas perante a corte romana. E ainda prometeu que, se caso César concedesse clemência á ele, escreveria uma epopéia e textos magníficos exaltando as Glórias do Imperador para as gerações futuras. — falou o Censor.
— Que interessante! Minhas glórias, todas conquistadas através da expansão do Império, muitas linhas de palavras que seriam escritas para perpetuar meus feitos gloriosos que não são poucos... Sempre admirei Catulo, mas ele nunca quis ceder aos meus pedidos, pois sempre soube que ele desaprovava minha eficácia gestão por causa de um mero capricho que os sofistas carregam consigo e que seus talentos de serem brilhantes em seus escritos, o tornam inigualáveis.
Censor, o que acabastes de me relatar aqui, muda as circunstâncias em que se encontra o seu amigo. Um homem da finura do talento de Catulo, não merece jazer numa condenação que fôra feita exclusivamente para ladrões.
Comandante Faustus, preciso de uma pena, pergaminho e um tinteiro. — falou César, dando ordens para um dos seus melhores  generais, que prontamente obedecera.
Aurélio viu quando César rabiscou algumas palavras no pequeno rolo de pergaminho, e selou o documento com uma forte pressão do anel que  carregava no dedo. Era o selo de César.
— Faustus, pegue um dos meus melhores cavalos e entregue este documento nas mãos do oficial responsável pela crucificação de Catulo. Fale em nome de César, e diga á ele que é uma revogação incontestável do Imperador. — Disse César.
O Censor sentiu o próprio coração inundar de júbilo diante de César, ao presenciar o revogo que ele acabara de despachar.
Logo mais seu amigo estaria são e salvo, e com um débito em aberto para com o Imperador.
— Que fazes aí parado? —  perguntou o Imperador ao General.
— Permissão para sair, Grande César. — respondeu o comandante .
— Concedido. — respondeu César.
O comandante bateu a mão em punho na armadura e deixou o fórum com o documento em mãos.
— Grande César, não sei como lhe agradecer por tamanha benevolência para com Catulo... — Disse Aurélio, fazendo uma mesura de cabeça ao Imperador.
— Não me agradeça. Não sou homem de fazer filantropias, sou César. Assim que o seu amigo for liberto, avise-o sobre a dívida para com o seu Imperador. Agora saia, preciso discutir alguns assuntos de Estado com meus generais. — externou o Imperador, e o Censor deixou o recinto exultante por causa da libertação do amigo poeta.

Juvêncio ~ Olhos de Mel (Concluído)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora