Capítulo 14.2 - Lucas

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Quando tiraram o capuz de Lucas, ele precisou piscar várias vezes até entender onde se encontrava. A sala era bem iluminada, toda em tons metalizados. Instrumentos cirúrgicos, uma maca no centro, janelas bem fechadas. Apesar disso, o ambiente era frio e Lucas sentiu sua pele se arrepiando.  

Seus pulsos estavam amarrados com uma corda grossa e firme. Ele tentou se soltar. Tentou mover os pés, mas eles também estavam amarrados e ele caiu de boca no chão. O barulho que fez atraiu a atenção dos três homens que estavam com ele na sala. O gosto de sangue veio forte.

- Martin, esse aí não foi anestesiado. Ele está tentando se soltar.

Um dos homens parou de preparar uma seringa e olhou para Lucas, estirado no chão. 

- Droga - Martin respondeu. - Vamos ter trabalho com mais um. Gostaria de saber porque diabos alguns desses caras resistem tanto aos efeitos do rastreador. Assim não dá. Será que vale a pena tentar dar uma dose do anestésico direto na veia dele?

- Bom, - disse um terceiro homem. - Acho que não custa tentar. O máximo que vai acontecer é ele resistir novamente. Daí teremos que mandar esse cara direto para o Abate. Martin, termine de carregar esse troço com anestésico.

Lucas mexeu-se violentamente no chão. Tentou pronunciar algumas palavras, mas engasgou-se. Sua capacidade de fala estava interrompida e ele conseguiu emitir apenas alguns grunhidos. 

- Pelo menos você não está falando, campeão. - Martin riu, ajoelhou-se no chão e injetou a seringa com força total no braço tenso de Lucas. Ele desmaiou.

Acordou depois de sabe-se lá quanto tempo. Em uma sala não muito diferente da de antes, porém, completamente vazia. Estava pendurado em uma parede, pelos pulsos, com sangue escorrendo por toda a extensão do braço. A dor veio na mesma intensidade que a consciência. Gritou. Imediatamente, um homem com jaleco branco e óculos de plástico transparente adentrou.

- Ora, ora. Então quer dizer que o anestésico também não fez efeito em você, camarada.

- Onde é que eu estou? Que diabos é isso? Me tirem daqui! - Lucas disse, agressivo. Ouviu em resposta uma explicação sobre rastreadores, Viktor Thiegan, uma Nova Era; sobre ali ser a Central de recrutamento e preparo e sobre a formação de um exército potente para prosseguir com todos essas determinações. Exército do qual ele não poderia fazer parte, visto que todas as substâncias controladoras de consciência não faziam efeito nele. Ele não entendeu direito. Fez perguntas, levou tapas na cara. Ouviu a palavra Abate novamente. Por fim, foi deixado ali, pendurado.

No dia seguinte, vieram buscá-lo. Estava fraco e com os braços repletos de sangue seco, ao ser solto viu o estrago que o ferro das algemas tinha feito em seus pulsos, que estavam com cortes profundos em carne viva. Vomitou na própria roupa e levou mais um tapa. A muito custo, foi colocado de pé pelos mesmos homens que tinha encontrado da primeira vez, incluindo Martin, e caminhou sendo empurrado aos trancos por um longo corredor cheio de portas pretas, com os pulsos latejando novamente presos por cordas. Pensou ouvir gritos de homens por todo o caminho, mas concluiu que deveria estar alucinando. Foi levado até um pátio, cuja iluminação natural provinha de um teto todo feito de vidro. Agradeceu por enxergar o céu azul por ali mais uma vez. 

Dois dos homens saíram da sala e ele ficou sozinho com Martin, que o segurava e provocou:

- Agora vamos ver se você vai morrer, ou se vamos te colocar em algum servicinho pesado. Mas torço pela primeira opção. 

Dali a alguns minutos, um homem mais velho entrou na sala por uma porta lateral. Era baixo, careca, usava óculos de grau e carregava uma prancheta. Seu jaleco era verde claro, e não branco como o dos outros.

Crônicas da Nova Era - A BuscaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora