Capítulo 5 - Artur

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Quando Artur e Raelene perceberam que Quirino Zafar estava desaparecido em definitivo e suas tentativas de busca foram em vão, a primeira coisa que o garoto fez foi pegar a camisa favorita do pai e pedir para a mãe ajustá-la, para que ele usasse. Ainda ficou um pouco grande e Artur geralmente dormia com ela. Aquele dia tinha sido um dos únicos em que ele resolveu usá-la para sair de casa. Também se lembrou do que Raelene usava e que provavelmente foi o chamariz para o rastreador: a aliança de Quirino, em um cordão de couro em volta do pescoço. Ele contou isso, pesaroso, para Anele, Makai e Lucas. Makai se levantou e colocou a mão em seu ombro com um suspiro.

- Art, mais uma coisa pra você saber. Você chegou perto, bem perto do seu pai. Então não fique triste. Sabemos onde ele está. Aquele prédio cinza, sabe? É pra lá que as pessoas capturadas pelos rastreadores vão. Lá é onde chamamos de Central.

Os olhos de Artur se encheram de lágrimas. Quanta coisa num dia só!

- Quando os rastreadores são jogados no ar, eles se espalham e encontram lugares para se esconder, daí se camuflam. Você nunca sabe onde tem um deles. Quando detectam uma pessoa dentro dos padrões programados, eles se aproximam como imã. O processo de captura não é tão violento quanto o que você sofreu. Geralmente, é como um teletransporte, e a pessoa capturada vai direto para dentro daquele prédio. Você caiu nos arredores porque foi um erro, e o rastreador não detectou isso da maneira como deveria, simplesmente te largou pelo caminho. Deve ter acontecido o mesmo com a sua mãe, ela pode ter caído em outro ponto. Não sabemos muitos casos de pessoas que tenham sido capturadas juntas. - disse Lucas.

- Nós encontramos vários de nós pelas redondezas. Alguns em estados bem mais deploráveis. - Anele explicou. - Braços e dentes quebrados e essas coisas. Mas, até então, não havia chegado alguém tão novo quanto você. E isso é realmente preocupante. Se um rastreador capturar um bebê, por exemplo, o resultado não vai ser nada bonito. 

Mas Artur não estava ouvindo direito mais. Seu pai, agora ele sabia, estava vivo! Pelo menos isso. E ele queria ir até lá. Aliás, ele iria. De qualquer maneira. Começou a se levantar da maca.

- O que você está fazendo, garoto? - perguntou Anele. 

- Eu vou atrás do meu pai. Não estamos muito longe daquele prédio, estamos? - ele foi em direção à saída da barraca. Porém, Lucas foi até ele, e agarrando-o pela cintura, colocou Artur sentado de novo na maca.

- Sim, é claro que estamos. Você não acha que vamos ficar dando sopa pelas redondezas, não é mesmo? Anele e Makai estavam fazendo a ronda diária quando te encontraram. Há mais de vinte dias não aparecia ninguém caído por aí. Quando encontramos alguém, é de extrema urgência que sejam trazidos até aqui. Thiegan não sabe que essas porcarias estão dando defeito, mas Meridan sabe. Ele não deixaria passar um detalhe importante da sua própria invenção, só que, ao mesmo tempo, não pode deixar que seu chefe descubra que as coisas não estão saindo como o planejado. A ideia foi dele, ele seria responsabilizado e tudo poderia ir por água abaixo. Com certeza será impossível esconder isso por muito tempo, mas até lá, temos que ser cautelosos. Há também vigias do governo em pontos estratégicos em volta do prédio. Eles já prenderam pessoas que chegaram e ficaram perdidas e foi uma sorte você ter sido encontrado por nós primeiro. Inclusive, é isso que pode ter acontecido à sua mãe, Artur, na melhor das hipóteses: ter sido presa pelos guardas.

Artur respirou fundo. Sabia um pouco sobre o pai, mas não sabia nada sobre a mãe. Sentiu como se estivesse caminhando muito, mas sem sair do lugar. Tentou ponderar mentalmente o próximo passo, mas tudo o que conseguiu foi dizer:

- Por favor, eu gostaria de dormir um pouco. 

Só assim conseguiria se aliviar do susto e da quantidade impressionante de informações adquiridas em tão pouco tempo. Lucas prometeu que no dia seguinte o levaria para conhecer o resto do bando. Não era muita gente, e ainda havia muita coisa para ser compartilhada.         

Deitado na maca, Artur não demorou a pegar no sono. Antes, pórém, viu que Makai e Anele se ajeitaram no chão embrulhados com cobertores finos como o que ele tinha e que Lucas foi para fora da barraca fazer o primeiro turno de vigia. Dormiu um sono sem sonhos.

Crônicas da Nova Era - A BuscaWhere stories live. Discover now