03 - Segunda- feira, 4 de fevereiro

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06:07 - Manhã no Loft

Acordei agora a pouco e a Malévola já estava discutido com a Rosa na cozinha. A pobre da mulher invadiu o meu quarto e abriu as cortinas murmurando alguma coisa em espanhol. Rosa é como se fosse nossa governanta, ela é mexicana e ajuda o coroa a manter a casa de forma habitável, sem falar que ela era também a minha babá na época em que eu morava no Brasil. Resumindo, Rosa é a espiã da mamãe aqui em Nova York, acho que é por isso que a Malévola não gosta dela.
Disse para Rosa falar devagar que eu não estava entendendo nada, ela me acordou e eu pulei assustada com a mulher falando espanhol tão acelerado que deu um nó na minha cabeça.
Mas ela apenas disse que a Malévola queria que ela parasse de fritar o bacon e os ovos mexidos que o coroa gosta de comer de manhã e que desse para ele mais frutas.
Como se não fosse bastante interferir nas nossas vidas ela também queria mudar a nossa alimentação.
Me levantei da cama e fui na defesa de Rosa. Que sempre se esforçou para nos agradar. Eu ia colocar a Malévola no lugar dela, eu ia apoiar a Rosa. "Aguarde Rosa!" falei para ela confiar em mim. Ela ficou atrás de mim gritando um "señorita" alguma coisa que não entendi muito bem.

Vou contar exatamente como foi a cena. Quando eu cheguei na cozinha e vi Renée refazendo o café da manhã, colocando em um prato uns pedaços de grapefruit e jogando as coisas que Rosa havia cozinhado no lixo. Fui logo intercedendo. "Opa, Opa, Opa!" falei alto quando entrei na cozinha "Pode parando!", levantei a minha mão.

"Querida!", a falsa me fala, com a maior cara de sonsa. Lambisgóia! "Que bom que acordou! Vá se arrumar que depois do colégio iremos as compras", o sorrisinho de possuída pelo diabo na cara. Quem ela pensa que é para me dar ordens?

Antes que eu lhe dê uma resposta à altura o coroa entrou na cozinha com um sorriso de uma orelha a outra. "Bom dia minhas mulheres!", ele disse cheio de disposição. Aproveito para fazer a minha cena na frente dele, como diz a mamãe - "quem não chora não mama" - e de drama eu sou muito boa, bem melhor do que o olhar do gatinho do Shrek. "Pai! Eu quero o desjejum que a Rosa preparou!", cruzei os braços e bati meus pés no chão, e claro fiz o meu famoso biquinho.

Mas meu pai nem teve tempo de responder a Malévola se intrometeu querendo se justificar "Amor, hoje vamos comer algo saudável. Eu dispensei a Rosa da cozinha", ela o abraçou debaixo de suas asas de morcego. Aquela Vampira descarada!

Como se já não fosse o suficiente para enjoar pela manhã meu pai agarrou a Malévola/Vampira e lhe deu um beijo daquele estilo desentupidor de pia. Santo Cristo! Alguém me ajude a exorcizar essa mulher demoníaca. Eu não tenho dúvidas que ela enfeitiçou o coroa com magia negra das brabas. Que nojo! "Perdi a fome", eu falei antes de voltar para o meu quarto.

Rosa carinhosamente me levou comida depois que a Malévola parou de irritar e de comer sozinha com o meu pai. Tenho que correr agora, se não vou me atrasar pra escola, a escola que eu tanto amo, porque me deixam ser invisível em paz.

13:15 - Provador da Bloomingdale's

De acordo com a Malévola eu "Não tenho uma mãe que me ama, e nem um pai que saiba como lidar com uma filha mocinha", por isso ela está sendo como a minha mãe deveria ser pra mim. Acredita que essa mulher teve a coragem de falar isso na minha cara? Pois é a mais pura verdade, ela falou!

O que a fez chegar a essa conclusão são as minhas roupas "fora de moda". Confesso que não sigo modas, prefiro usar o que me deixa confortável, tipo moletom e pantufas. Tenho coleção de pantufas em casa, desde cachorrinhos fofos até dinossauros malvados. Mentira! Eles são fofos também, mas a que eu mais gosto é a de gatinho roxa.

O que eu posso fazer? Pantufas são confortáveis. Mas a Malévola disse "Lenna, você está quase com 17 anos, precisa se vestir como uma mulher para chamar a atenção dos garotos. Daqui onde eu estou nem consigo ver os seus seios! Me lembre de passarmos na Victoria's Secret, vamos encher isso aí com alguma coisa que engane pelo menos." - Sem tirar nem pôr! Foi assim mesmo que ela falou! Acho que você pode imaginar como a minha boca se abriu num tremendo "O", além de chocada eu estava super envergonhada porque estávamos na seção do Markus Lupfer e todas as mulheres à nossa volta olharam para mim. Senti o peso daqueles olhares e das balançadas de cabeça por eu não ter seios. Como se isso fosse um crime no mundo da moda. Até onde eu sei muitas modelos são como eu estilo "tábua de passar". Então por que todo esse preconceito com as minhas sementes?

Diário de uma dançarinaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora