Capítulo 7: A Coragem Para Discordar

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  • Dedicado a Elde Bueno
                                    

Não era a mesma masmorra que Estranho havia destruído, porém uma outra bem mais apertada, praticamente um cubículo. Deixaram Mahir sem comer nem beber, em estado máximo de exaustão para que não pudesse conjurar nenhum de seus feitiços. Theos agora o tinha em suas mãos. Sem mais truques sujos. Encaravam-se, analisavam-se. Mahir era um pesquisador da Academia do Tempo, foragido da Coroa Hiperbórea, e assassino confesso.

Ambos sentados frente a frente em uma mesa de ferro. Os braços de Mahir estavam razoavelmente livres, mas presos por grilhões que os conectavam às paredes claustrofóbicas do cubículo.

- Você matou sua esposa após a confissão dela de ter tido um caso com um dragão? - perguntou Theos.

- Sim - Mahir respondeu com os olhos negros como sua pele, resolutos e totalmente lúcidos. Não havia nem um pingo de remorso em suas palavras. - Ela foi infiel o suficiente para me trair, mas não para esconder isso de mim o resto da vida. Ela me disse, e eu a estrangulei até a morte.

- Quem era ela?

- Trishia, uma barda humana famosa em Siena. Conhece?

Theos já tinha ouvido falar do talento de uma barda humana ao norte do continente. Devia ser a mesma pessoa.

- Acredito que já.

- Quando começamos a morar juntos em Hiperbórea, ela conseguiu o prestígio da Corte, talvez a primeira humana a conseguir tal feito... - disse o elfo negro, com um pouco de amargura.

- Mas onde essa história se conecta com dragões?

- Talvez por influência minha e do que eu estudava, ela começou a se interessar em compor músicas e declamar poemas que falassem sobre dragões. Começou a viajar para lugares onde havia histórias deles, escrevendo-as todas. Chegou a ir ao Império Etheleno para saber como eles conseguiam sempre expulsar o dragão Rubro de suas cidades. Acaba que estudávamos juntos.

- Entendo. Foi então numa dessas viagens que ela voltou, e você soube?

- Sim. Ela ficou com o dragão tempo suficiente para parir a maldita da criança. Não disse quem era o pai, mas eu sabia que ela tinha viajado para a região de Varelser, e nós sabemos a que dragão Varelser pertence.

- Tudo faz um pouco mais de sentido agora - disse Theos. Mahir perdera toda a graça, não era mais o piadista de antes. Estava sendo obrigado agora a mostrar todas as suas chagas, seus pecados, sua tragédia.

- Por isso agiu como nosso aliado natural quando chegou - Theos inferiu -, mas em que momento iria nos dar as costas?

Mahir ficou quieto por um tempo. Algo nele sabia que tudo isso era errado, mas não havia remédio, o ciúme e o ódio tinham de ser consumados.

- Até achar o filho. Fiquei esses malditos vinte anos procurando por essa aberração, matando cada soldado de Hiperbórea que se colocasse em meu caminho. Já tem muito tempo, tenho que concluir isso. O híbrido deve morrer.

Theos analisou a relutância de Mahir. Era um homem que havia escolhido um caminho que talvez até tivesse volta, mas o trilhara por tempo demais. Não havia recuperação.

- Nesse momento, meus soldados estão por Adelaide fazendo pequenas queimaduras em todas as pessoas que se enquadram no perfil da aparência, mas também em qualquer uma que esteja na casa dos vinte anos. Entende o quanto todos estão desesperados? É a única possibilidade que nós temos para que ele vá embora e o povo seja salvo. Temos menos de 72 horas para isso. Sequestrando o filho de Vulcano de nós, você estaria condenando uma cidade-estado inteira à morte.

Mahir ficou em silêncio.

- Por que você direciona seu ódio a uma pessoa que não tem culpa alguma, em vez do verdadeiro culpado? Dragões são mágicos. Ele pode ter enfeitiçado sua mulher...

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