Capítulo 7 - Mikael

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Paro o carro, mas não saio.

Victoria olha-me confusa.

- O que foi?

Sinto-me nervoso. Sei que se tomar uma decisão a minha vida vai mudar.

- Quanto tempo vais ficar?

Victoria suspira.

- Volto no fim-de-semana.

Bufo um riso e encosto a cabeça ao banco.

- Não quero exigir-te mais do que aquilo que me podes dar, sabes disso.

- Mas?

- Mas preciso de mais do que aquilo que me estás a dar. - Rodo a cabeça para olhá-la.

Encontro os olhos de Victoria com um brilho característico e ela foge aos meus olhando em frente.

- Eu sei. - O silêncio que se instala faz-me pensar em mil e uma coisas. Coisas que eu tentei manter afastadas a noite toda. - Dá-me tempo.

- Eu dou-te o tempo que precisares, mas preciso saber que existe um propósito para ele.

- Dá-me um tempo para conseguir dar de mim aquilo que a minha vida profissional precisa.

Demoro algum tempo para processar. Não posso ser egoísta ao ponto de a colocar entre a espada e a parede. Não posso dar-lhe a escolher entre a sua vida profissional e eu. Como posso ser hipócrita a esse ponto? Não posso.

A sua vida profissional é um projeto pessoal. Ninguém deve abdicar de um pouco de si por outra pessoa, mas uma relação é feita de duas pessoas e neste momento eu sou a única a sair prejudicada.

- Tudo bem. - Limito-me a dizer e abro a porta do carro.

Victoria segue o exemplo e saímos em silêncio. Caminhamos lado a lado em direção ao elevador e sinto a sua mão na minha. Aperto-a e puxo-a para mim. Contorno as suas costas e beijo-lhe o topo da cabeça.

Entramos no elevador sem trocar uma única palavra e pergunto-me se a terei pressionado ao ponto de agora não falarmos um com o outro.

- Queres que vá dormir na minha casa?

Fito-a.

- Não. Claro que não.

Ela sorri. - Ainda bem. Não tenho a cama feita.

Rio. Puxo-a para junto do meu corpo e ela encosta o rosto no meu peito. Vejo o nosso reflexo desfocado nas portas do elevador. O cabelo comprido de um tom ruivo eletrizante é o que mais se destaca.

- Sei que é complicado, Mikael, mas tínhamos os mesmos objetivos e prioridades. Por isso nos dávamos tão bem. Não sei o que mudou, mas...

- Não mudou nada. - Interrompo-a. - É só uma fase. Não estava à tua espera pelo menos durante mais uma semana, estou perdido. - Rio.

- Perdido?

- Sim. Ter-te aqui é o ponto diferencial do meu dia-a-dia, então estou a adaptar-me a ele.

Ela ri.

Chegamos ao apartamento e Victoria despe o casaco puxando a minha atenção para a sua silhueta no vestido preto cintado sem costas que está a usar. Se há algo mais perigoso que um vestido cintado preto sem costas num corpo daqueles, é juntar ao conjunto um salto alto.

Avanço para ela e afasto-lhe o cabelo das costas para o ombro esquerdo. Victoria olha-me sobre o ombro direito. O seu olhar brilha com tamanha intensidade que reflete o meu.

Provador Clandestino (EM PAUSA) Where stories live. Discover now