Capítulo 2 - Tess

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Estou a fazer a reposição quando reparo que uma das peças é a fralda que Mikael comprou para a irmã e começo a rir. Estamos habituadas a ter clientes do sexo masculino que não fazem a menor ideia de como comprar roupa interior feminina, mas a expressão de pânico com que ficou foi hilariante.

- Acho que ele saiu daqui traumatizado. – Diz Mathilde, ao colocar uma caixa com mercadoria nova ao meu lado.

- Qual deles? – Pergunto-lhe na expectativa.

- O bonitão que atendeste.

Rimos.

- Acho que esse nunca mais volta.

- Impressão minha ou ele estava a fazer-se a ti?

Paro o que estou a fazer e fito-a. – Impressão tua.

― Talvez, mas o olhar dele preso em ti, isso não foi impressão.

Sinto o coração acelerar. Uma loja de lingerie como a nossa, é como uma sexshop. Há os que compram para uso próprio, os que compram para a mulher ou para a amante, e depois, os envergonhados. Mikael, como o amigo lhe chamou, é definitivamente o último caso. E podemos excluir o segundo porque fez questão de esclarecer que era para a irmã. Pergunto-me se ela terá gostado da fralda que ele insistiu em levar.

- O amigo dele também não tirava os olhos do teu rabo. E da tua boca. – Mostro-me pensativa. – Oh e acho que do teu peito.

Mathilde abre o olhar surpresa. – Aquele idiota acompanhado da Barbie? – Confirmo. – Estão bem um para o outro. A Barbie e o Ken.

- O Ken vive às custas da Barbie. – Observo. ― Não sei se é o caso deste.

- Como não? Ela é advogada e ele um mulherengo.

- Estás a ser má.

- Realista, minha querida.

Quando acabamos a reposição fechamos tudo e saímos.

- Queres ir jantar lá a casa? – Pergunta-me.

- Não. Tenho que estudar. Tenho exame daqui a duas semanas e muita matéria em atraso. – Recuso expressando tristeza.

Entro no carro e expiro numa tentativa de libertar todo o cansaço que sinto consumir o meu corpo. É complicado e extremamente cansativo, mas parar para pensar é pior e, por isso, não dou um segundo do meu tempo à preocupação.

Moro num bairro na outra ponta da cidade e divido apartamento com Diana, estudante de psicologia. Penso que isso diz tudo sobre ela. Diana é a personificação de psicologia, se isso existir.

- Devias dormir mais, Tess. – Oiço-a dizer do sofá assim que passo a porta.

- Boa noite, Diana.

Vejo-a virar-se e ficar de joelhos para me olhar, com os braços abertos sobre as costas do sofá.

- Estou a falar a sério. A tua sanidade mental depende das horas de descanso que tens por noite. Repara, noite! – Diz a última palavra em slow motion e rio, enquanto preparo uma taça de cereais na cozinha open space com a sala.

- Eu sei. – Sento-me ao seu lado no sofá, colocando as pernas para cima, fletindo-as em mariposa. – São alguns anos de sacrifício para uma vida normal onde possa dormir oito horas por noite.

Diana não comenta. Senta-se novamente e olha para a televisão.

- Se quiseres falar, sabes que...

Provador Clandestino (EM PAUSA) Where stories live. Discover now