Capítulo 1 - Mikael

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Segundo os meus planos, estaria sentado numa esplanada a tomar uma cerveja bem gelada. Talvez a esplanada de um hotel, junto à piscina. Com este calor abrasador há motivos de sobra para ser o local ideal onde passar o fim de tarde. Mas Lilly ligou-me. Por quê uma irmã mais nova, Deus?!

- Vá lá, Mikael. Nunca te peço nada!

Fico incrédulo. – Nunca?! – Interrogo em tom alarmante. Assusto algumas pessoas que cruzam o passeio. – Lilly... - modero o tom – eu não te vou fazer isso. Pede a uma amiga!

- Elas não podem. Mikael, não te custa nada. Estás na baixa!

Reviro os olhos mordendo o interior do lábio. – Por que não fazes a surpresa ao Kyle amanhã e vais tu comprar?

- Quem te ajudou a conquistar a Victoria?

- Hei! O meu charme natural chegou perfeitamente! – Defendo ofendido.

Ela ri. – Por isso é que levaste fora durante semanas.

- Estava tudo estudado, maninha.

- Mikael!

Suspiro derrotado. – Tudo bem! Eu vou à Lounge. Ficas a dever-me um favor dos grandes!

Oiço-a rir. – Combinado.

- Vemo-nos em casa. – Despeço.

- Mikael! Quero pretas rendadas. – Gargalha.

- Os pais deviam ter-te trocado por um rapaz na maternidade.

- Idiota. – Exala desligando a chamada.

Lilly tem vinte e três anos. Formada em História de Arte. Trabalha numa das Galerias mais conceituadas da cidade e mora sozinha desde os dezoito. Alguns diriam emancipada, eu digo que a minha irmã é inteligente, responsável e independente o suficiente para saber o que quer e lutar por isso.

Faço dois quarteirões e vejo a loja com elegantes letras douradas em fonte manuscrita. Loungerie. A melhor loja de roupa interior da cidade numa rua que detém marcas como Prada, Gucci e Dior.

Aproximo-me. O que não faço pela minha irmã... Nem pela Victoria eu faço isto! Entro na loja como se fosse algo banal, mas olho imediatamente em redor analisando o espaço discretamente para garantir que não encontro alguém conhecido. Pelo que consigo apurar, apenas mulheres e casais que nunca vi na vida. Boa! Um homem sozinho numa loja de roupa interior feminina! As funcionárias devem estar a pensar para qual das amantes vai a cueca rendada.

É por isso que ofereço sempre flores, jantares e fins-de-semana em resorts.

- Boa-tarde! Seja bem-vindo à Loungerie. Posso ajudá-lo? – Pergunta uma das funcionárias com a típica boa disposição excessiva.

Mas ela nem é má de todo... morena, cabelo comprido castanho, porque para um homem castanho abrange todas as diversidades que as mulheres inventam para um castanho, olhos verdes, lábios carnudos... damn! Parece uma personagem saída de um romance erótico.

- Boa-tarde. – Cumprimento. - Por acaso, preciso de ajuda. – Acanho um sorriso.

- Qual o tamanho?

- Desculpe?!

- O tamanho. – Repete.

- Tamanho do quê?! – Consigo perceber a expressão de pavor no meu rosto.

Ela contém um sorriso. – A talha que a sua namorada veste para que lhe possa mostrar o que temos.

Lista mental de coisas a fazer antes de morrer: fazer figura de idiota numa loja de roupa interior, concluída com sucesso.

Provador Clandestino (EM PAUSA) Where stories live. Discover now