Galhada de cervo

233 39 5
                                    

Ele anda rápido demais.

O sigo mancando pela floresta, com passos cambaleantes devido a pata machucada, ela não está completamente curada.

Uma brisa suave rodopia por entre as folhas das árvores e chega até o solo, inclino o focinho para sentir ela passando por mim, traz aromas agradáveis de outras partes da floresta.

- Será que você pode ir um pouco mais devagar? Ainda estou mancando. - digo tentando não soar rude, ele diminui o passo no mesmo instante, seus olhos vermelhos parecem vibrar com alguma emoção desconhecida para mim.

Faço um gesto de agradecimento balançando a cabeça. Não muito longe de onde estamos, vejo galhadas de cervo se destacarem entre o capim alto, alguns brigam entre si, enquanto outros estão mais interessados em saciar a fome.

Rurik endireita o corpo.

- Vamos nos aproximar mais. - ele indica com o focinho uma trilha escondida por arbustos repletos de frutinhas vermelhas e brilhantes. - Pode observar escondida atrás de uma árvore.

Os galhos secos e miúdos dos arbustos se perdem entre meus pelos e quando Rurik inicia uma corrida discreta até um dos cervos isolados, paro e observo como ele havia me instruído.

Rurik é rápido como a flecha de um caçador, ele corta o capim alto como um barco sobre águas calmas, o cervo se dá conta da presença, os outros fogem desesperadamente - alguns passam por mim, os cascos fortes esmagam qualquer coisa que esteja abaixo deles, exibem galhadas grandes e bonitas.

O cervo que Rurik persegue, para se equiparar a ele em velocidade e os dois somem dentro do bosque mais próximo.

Sem pensar muito, saio do meu "esconderijo" - um tronco antigo, e sigo a trilha deixada pelos dois, com passos lentos, percorro o caminho que Rurik deixo aberto entre as hastes de capim.

Quando um vento forte sopra em direção ao meu rosto, percebo que está impregnado com o cheiro de sangue, ele conseguiu.

Não que isso seja uma surpresa, seria uma, se eu tivesse abatido o cervo.

Os aromas da floresta, ainda conseguem surpreender meu olfato, deixo que meu focinho se aproxime do chão, fico tão desatenta por alguns segundos que esbarro em algo, alguém para ser mais precisa.

As patas são brancas e olho para cima com uma expressão terrível de pavor.

Para o meu alívio é apenas Rurik, os pelos salpicados de sangue e a boca tingida de vermelho até o pescoço, ele também não havia me visto até aquele momento.

- Senti o cheiro de sangue. - digo ao passar tempo demais encarando seus pelos.

- Não pensei que ele fosse tão rápido, quase escapou. - ele sorri um pouco. - Vamos, antes que algum corvo apareça para bicar a carcaça.

Rurik obviamente, chega primeiro que eu ao corpo do cervo, espantando dois corvos que já espreitavam de perto a cabeça da presa abatida.

O lobo ao meu lado farejou o local, franzindo a testa logo em seguida. Curvou as orelhas.

- Tsk. Alguns lobos da alcatéia do meu irmão estão próximos. - ele andou rapidamente para a carcaça, arrancando um pedaço grande de músculo e sem perder muito tempo, copiei seus movimentos. - Vai demorar até chegarem aqui, mas por precaução, é melhor comermos rápido.

Assinto com a cabeça tanto por concordar quanto por agradecimento por ele ter caçado.

Os dois corvos se afastam, nos olhando com alguma irritação discreta.

Vou mordiscando a carne que recobre os ossos até que ela se solte, engulo sem mastigar muito, vários pedaços descem guela abaixo e depois de um tempo, meu estômago está tão cheio que a carne perde o atrativo para mim.

O vento balança meus pelos e traz o cheiro de outros animais e cervos.

Rurik ainda não parou, está mais faminto que eu. Enquanto ele arranca vários pedaços de carne, limpo minhas patas e focinho, o gosto do sangue selvagem é como um doce sobre minha língua.

Olho para o meu ombro ainda em estado lamentável, ao menos o cheiro ruim dele se dispersou.

Sento, esperando que Rurik termine de se alimentar, não leva muito tempo  e antes de partir, ele arranca um pedaço razoável de músculos do pescoço dos cervos.

Indicando o caminho com o focinho, deixamos a carcaça para trás, ouço mais corvos chegando e quando olho de relance para a carcaça, uma raposa avermelhada e solitária faz seu próprio banquete.

Percorremos a passos lentos um bosque repleto de esquilos nas suas árvores com folhas largas do tamanho da mão de um humano e Rurik deixa o pedaço de carne no chão para farejar o ar mais uma vez.

- Não estão por aqui. - ele vai abocanhar a carne, mas para no meio do caminho. - Conheço um lugar bom para descansar, mas tudo bem se quiser descansar aqui.

- Não iremos voltar para aquela toca?

- Não hoje, passo alguns dias afastado de lá, para que não possam me rastrear, não é bom lutar todo dia.

Ele morde a carne e como não me deitei em qualquer cantinho para descansar, ele segue em frente.

Não é uma vida muito boa, ser caçado dia a noite por alguém da sua própria alcatéia - seu irmão, me pergunto o que esse lobo sente por outros, talvez não veja nada além de obstáculos entre ele mesmo e o poder quase supremo de um alfa.

O que ele ganha com isso?

Apesar de estar entretida com meus próprios devaneios, posso ouvir o som de água corrente a uma certa distância e o ar parece estar mais fresco aqui.

Passamos por uma área inclinada e finalmente sou capaz de ver o dono dos ruídos aquáticos.

Um extenso braço de rio do azul mais profundo, corre rapidamente, cortando a floresta, provavelmente é o mesmo no qual eu quase me afoguei.

Mas a lembrança ruim não me impede de achar o lugar um paraíso secreto.

Além da floresta, é possível ver os picos das montanhas mais altas das cordilheiras, cobertas por uma neve tão branca quanto as nuvens que decoram o céu, a luz dourada do céu refletindo em tudo, completa a obra de arte que passeia sobre os meus olhos.

Olho extasiada para aquela explosão de vida, o lugar da qual fui tirada, o lugar que eu deveria ter vivido durante toda minha vida.

Estou nele agora.

Sinto meu coração acelerar.

Rurik me chama, e saindo do meu transe olho para a gruta que ele está, a carne está escondida entre algumas pedras e o chão coberto de areia trazida por enchentes anteriores é convidativa demais para ser recusada.

Hora de descansar um pouco mais.

Hello leitor 😊😊😊 obrigada se leu até aqui❤
P.s o capítulo pode estar estranho/desconexo pelo tempo que deixei essa história de lado, não me lembrava da maioria dos acontecimentos então já viu né 😂😂😂 espero que os outros fiquem melhores😉

Bye bye e desculpa por qualquer errinho.


Sobrevivente Where stories live. Discover now