Capítulo XXXV

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  Quando vi aquele bebêzinho todo roxo e sujo sangue eu comecei a querer chorar mas as lágrimas foram interrompidas quando percebi que ele estava quietinho e não chorava como geralmente os bebês choram. Até que os médicos cortam o cordão umbilical e o levam para outro lugar.

- Aqui, senhorita. É para limpar seu suor. - diz uma das enfermeiras com um paninho.

- Para aonde levaram meu filho?

- Eles foram pesá-lo. Logo, logo estará aqui.
 
  Depois de uns dez minutos o médico voltou com o Henrique no colo.

- Senhorita White, s-seu... Seu filho está morto! - ele fala gaguejando.

  Eu não consegui dizer nada, parecia que aquilo era um pesadelo ou então que eu tinha entendido errado o que o médico dissera. Eu estava em choque.

- Você quer segurá-lo?

   Apenas assenti. Quando coloquei no braço aquele bebezinho pequenino, branquinho do cabelo louro eu não acreditei, ele era tão lindo, era uma cópia fiel do Calle. Eu não me conformava com o que estava acontecendo.

- Você teve um aborto provavelmente agora há pouco por causa da anemia. Os remédios que eu te dei não foram o suficiente. Eu sinto muito senhorita White. Você pode ficar aqui por mais alguns minutos enquanto eu aviso seus amigos.

  Eu abracei o Henrique. Aquilo não podia estar acontecendo, ele era tão pequenino, ele não tinha culpa de nada. Por quê? Por quê? Meu filhinho... Eu só queria poder ficar juntinha a ele para sempre.
   Agora eu tinha certeza, eu não nasci para ser feliz, porque toda vez que algo dava certo outra coisa dava errado. O Henrique foi a melhor coisa que me aconteceu e eu não conseguia acreditar que ele não teve a chance de viver fora da minha barriga.
  Acabei passando a noite no hospital enquanto a Margot ligava para a Rachel e para o Calle.

°°°°°°°°°°

   O funeral do Henrique estava sendo agora a tarde e eu não estava pronta para aquilo. Eu nunca estive pronta. A verdade era que eu preferia que eu que tivesse morrido ao invés do meu bebê, meu pobre Henrique. Enquanto eu olhava para o caixãozinho aberto com aquele bebêzinho eu só me perguntava o porque de tudo isso estar acontecendo.
   Lágrimas e mais lágrimas rolavam seguidas de soluços meus. Foi quando a Rachel me abraçou.

- Olha quem chegou. - e apontou para aquele cara loiro, alto, musculoso que entrava sozinho.

  Era o Calle. Ele olhou para o caixão e veio até mim com os braços estendidos. Eu o abracei.

- Por que isso está acontecendo? - sussurrei em seu ouvido - Será que eu pequei tanto que isso tudo é um castigo? - digo chorando.

  Ele não disse nada, apenas me abraçou mais forte.

- Isa, meus sentimentos! - era o Jake.

  Depois que ele me beijara e logo após foi expulso da casa do Calle ele nunca mais conversou comigo.

- Chegou a hora. - era o moço fechando o caixão para irmos para o cemitério.

  O cemitério era uma quadra depois. Estava ficando cada vez pior. Sentei-me na grama quando fecharam o caixão do meu filho e colocaram no túmulo.

- Estamos aqui reunidos por esse bebê, o Henrique. Quando eu e a Isa descobrimos sua gravidez foi tão chocante e com o tempo percebemos que a vinda dele foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. Ninguém nunca saberá o porquê de Deus ter levado-no mas ele jamais será esquecido. Descanse em Paz, pequeno Henrique! - Rachel disse e logo após jogou uma rosa branca.

   E todos jogaram também.

- Adeus, meu pequeno Henrique! - digo enquanto um homem fechava o túmulo.

- Venha, White. Temos que ir. - o Calle diz colocando o braço ao redor do meu pescoço

  E eu fui pensando em como a vida estava sendo cruel comigo.

°°°°°°°

  Passamos a noite na casa do Calle e pela última vez entrei no meu quarto. Havia lembranças por toda a casa, como a primeira vez que senti o Henrique chutar, quando tive meu primeiro desejo, quando percebi que ele foi a melhor coisa que já me aconteceu. Arrumei minhas malas e enquanto a Rachel dormia decidi fazer algo.

" Querido Calle,

  Sabe quando você tem tudo planejado..."

   Eu escrevi uma carta para ele e coloquei embaixo do seu notebook na sua escrivaninha enquanto ele dormia. Eu não conseguia dormir e por isso decidi andar pela casa e relembrar tudo o que vivi aqui nestes nove meses. Às vezes parece que tudo aconteceu tão rápido, eu descobri a gravidez, vim para Los Angeles, passaram-se os nove meses e o Henrique morreu. É como se essa parte da minha vida fosse uma história de um livro ou filme de drama e que a qualquer momento alguém dissesse: "Ei, foi só uma história, aqui está seu filho." Eu daria tudo por mais um minuto com meu filho. Foi quando eu olhei para o colar em meu pescoço e vi a foto do ultrassom.

°°°°°°

  Havia chegado a hora. Estavam eu, Rachel, Margot, Silvestre, Hanna, o motorista e o Calle.

- Adeus, Isa! - diz o Silvestre - Vou sentir sua falta!

- Adeus.

- Minha menina - a Margot me abraça - quem diria que eu ia gostar tanto de você, eu não quero perder seu contato! Vai com Deus, eu nunca vou esquecer você e tudo o que vivemos aqui.

- Adeus, Isabela. - diz Hanna.

  E por último Calle. Apenas nos abraçamos. Eu precisava senti-lo.
- Adeus, Calle.

  E desviou o olhar e não disse nada.

- Obrigada por tudo, gente! - digo olhando para aquela turma de pessoas que eu jamais esqueceria.
   Quem diria que eu iria me apegar tanto a eles? Pois é, eles eram muito especiais para mim. Quando chego na porta de entrada olho para trás e dou um último "Tchau".
   Passei pelo portão da mansão pensando que dessa vez eu não estava indo dar um passeio por Los Angeles, dessa vez seria um passeio sem volta.

- Adeus, senhorita White! Foi muito bom tê-la aqui. - diz o motorista.

  Pela primeira vez ele falara algo.

- Adeus.

  Eu e Rachel seguimos para a sala de embarque. Já dentro do avião a comissário de bordo disse:

"... Senhores passageiros apertem os cintos e tenham uma excelente viagem..."

  E me veio um déjà vu. Quando eu estava vindo para Los Angeles, mal sabia eu o que aconteceria. Quando o avião decolou eu só consegui dizer: Adeus, Los Angeles.

Grávida de um Super StarWhere stories live. Discover now