Fallacia alia aliam trudit

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Escuridão; Pesadelo; Guerra; Indiferença.
A minha mente está vazia, sem ponto ou sem nexo e sem vontade. E pela primeira vez sinto a escuridão fora de mim. Que aconteceu mesmo? Porque é que não há luz à minha volta? Escuridão, desilusão e indiferença.
Tento abrir os olhos e não consigo, não ouço, não sinto. Que se passa?
Calma, não stresses, não te enerves, deve ser algo normal. Mas que aconteceu?
Um bip soa nos meus ouvidos, outro bip e outro e outro. Um bip periódico e que sinto que sustenta tanto e tão pouco.
Os olhos fechados. Tenho de os abrir, tenho de os abrir, tenho!
Abro os olhos e sinto uma luz estranha à minha frente. Começo a focar a imagem. Estou no hospital? As paredes e estes sons são de hospital mas porque raio estou num?
Sinto um toque na minha mão e o meu corpo arrepia-se com aquele toque. Na minha mente vivo os últimos momentos conscientes. A promessa ao Mário, a queda no quarto, o Marco a... Então foi isso que me trouxe aqui. Foi ele que me colocou aqui...
Viro a cabeça lentamente receosa que a pessoa que ali se encontre seja ele outra vez. Mas os meus olhos contemplam uma outra figura. O cabelo preto cai-lhe sobre a cara e a barba já grande parece ainda maior. Vejo que dorme calmamente apesar de ter a parte debaixo dos seus olhos escura, sinal de que o descanso ou não tem existido ou tem sido muito curto. Sem pensar a minha mão é levada ao meu rosto para também eu sentir que estou viva, que o meu fim ainda está longe de ocorrer. Com a mesma mão procuro o telemóvel e vejo que muita gente já descobriu que estou no hospital. As minhas notificações explodiram e apesar de muitos deixarem mensagens de apoio, alguns afirmam mesmo que o Marco teve todas e mais algumas razões para me agredir de tal forma. O Marco bateu-me?
"Não ligues ao que o mundo lá fora diz"
Aquela voz. Aquele tom. Aquela melodia constante.
"Desculpa se te acordei"
"Estava eu desejoso que este momento acontecesse, que tu voltasses"
"Que aconteceu Mário? Porque estou aqui?"
"Não te lembras de nada?"
A sua mão toca o meu rosto passando pela minha bochecha e deixando a minha cabeça descair sobre a palma da sua mão
"Muito vagamente"
"De que te lembras?"
"Lembro-me de Lisboa, da viagem, da promessa, de cair no chão e do Março entrar. Nada mais"
"Queres mesmo saber?"
Olho para ele assustada mas este só me olha com delicadeza e carinho. O medo que me consome diminuí e sei que ouvirei esta história muito em breve e perfiro mil vezes que seja ele a contar-ma. Ele respira fundo e os seus olhos tocam os meus.
Ele está assustado. Eu nunca o tinha visto asustado, preocupado. E pelas olheiras diria que há já dois dias que não dorme o suficiente. Mas que o terá posto assim? Eu? Ele mal me conhece, nem entendo bem porque é que ele está aqui. Espera o que é que ele disse? O Marco bateu-me? O Marco meteu-me aqui? Como assim? Eu não fiz nada?
"Estiveste em coma durante dois dias inteiros Maria, só hoje é que melhoraste e aparentemente acordaste."
"Não fazia ideia."
"Estás bem?"
"Não sei. Mário porque dizes para não ligar ao mundo lá fora. Que se passa?"
Ele não responde, baixa a cabeça e fixa depois os seus olhos pela janela.
"Mário..."
"Ele andou a dizer que tu mereceste, que o andavas a trair. Mais de metade da faculdade acreditou e muitos afirmam que ele teve razão de te bater e te meter no hospital, que o devia ter feito melhor."
"Oh"
O meu mundo cai aos meus pés e não sei que dizer ou como me expressar. Tudo o que o Marco me ajudou a construir, ele derrubou agora com as suas próprias mãos.
"Não ligues às pessoas. Muitos estão contigo e eu estou aqui. Quando me ligaste estava a chegar a casa de carro. Dei meia volta e vim ter contigo"
"Isso é querido"
Mas continuo a fixar o meu olhar no que lá está fora como se isso fosse mais importante que tudo, até que a minha vida.
Ouço passos mas ignoro-os. A minha atenção está presa naquela janela. Só no momento em que o Mário arrasta a cadeira é que observo a entrada.
"Marco"
"Olá Maria, vinha ver se estavas bem"
"Sai daqui cretino. Tu meteste-a no hospital e tens a lata de vir pedir desculpas"
"Vejam só se não é o nosso encantado. Como está o seu palácio?"
No instante seguinte o Mário está sobre o Marco dando-lhe socos consecutivos. eu grito para ele parar mas ele segue aquele movimento constantemente.
"Mário, não vale a pena, larga-o"
O Mário olha então para mim e larga o Marco. O sobrolho do Mário está a sangrar assim como o lábio e sinto-me mal por ele estar assim por minha causa. O Marco foge do quarto mas não é com ele que me estou a preocupar agora
O Mário senta-se na cadeira junto à minha cama e fixa-me.
"Que foi?"
"Só agora entendi o quanto eu te adoro e que todas as pessoas te deviam ver assim"
Os meus olhos enchem-se de lágrimas e ele delicadamente apanha-as com o dedo tentando depois disto com carecatas animar o meu dia que está tão cinzento.
"Mário"
"Sim"
"Sei que é pedir demais mas podias deitar-te aqui comigo? Não quero ter pesadelos. Por favor"
Ele sobe então para a cama do hospital e tira aqueles tão famosos tênis. Quando se senta ao meu lado, a minha cabeça descai até assentar no seu ombro onde fico a dormir. Neste momento o mundo lá fora, o Marco, a banda... Nada disso importava.
Pois naquele momento só existia eu e o Mário, ali deitados após aqueles dias difíceis pensando ele numa maneira de salvar o mundo ou alguém e eu sentindo que tudo é possível por uma vez em anos de luta contra tudo. Tenho hipótese de recomeçar agora. Faz do sonho uma ideia e da ideia realidade.








Hey malta.
Obrigada por tudo mas comentem mais e leiam porque espero que estejam a gostar.
Feliz ano novo malta com saúde e sucesso e tudo mais
Tenham um 2016 completo.
Bye bye xx

Omnia fert aetasWhere stories live. Discover now