Non male sedit qui bonis adhaerit

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As horas custam mais a passar quando desejas que passem, não custa? Esperamos que as horas passem e o olhando para o relógio parece que este impede os segundos de avançar fazendo com que uma hora pareça uma manhã ou um dia. As horas são uma coisa muito engraçada, o Homem criou-as para gerir melhor o seu tempo e ter tempo para tudo. Mas passa a vida constantemente a reclamar que as horas não chegam e não consegue fazer nada. Não seria melhor não ter criado as horas então? Deixar os dias correr sem limites ou sem programação vivendo somente? Não serão as horas só mais uma perca de tempo neste mundo onde o tempo já nos é tão escasso?
Mas aquelas 72 horas passaram por mim. Não que tenham sido horas felizes. Mas passaram. O Marco insistia cada vez mais que eu e o Rapaz da festa teríamos uma relação e que eu era só dele. Resultado deste embate? Uma nódoa negra enorme no meu braço, o meu lábio ferido e um olho meio roxo. Nada que uma boa dose de maquilhagem não disfarce ou tape.
Como o prometido, decidi ir ao concerto daquela banda tão recente. Aparentemente uma das condições para entrarem no concurso era terem um álbum já escrito. E já que ganharam chega a altura de esse mesmo album, ainda só com 4 faixas ser lançado ao público e ver a reacção do mesmo.
Decido então apanhar o comboio e ir até Lisboa sozinha ver o tal concerto. Com a ajuda de uma amiga sou capaz de entreter o Marco durante aquela noite e evito assim chamadas e mensagens indesejadas no meu telemóvel durante toda a noite.
Visto-me para o concerto da maneira mais casual que posso. Uma sweat dos Nirvana, umas calças e uns tênis daqueles com padrões estranhos mas espetacularmente belos e sinto-me perfeita para aquela noite. Não é a questão de ser perfeita pois não o sou, só acho que aquelas roupas são o essencial para que mesmo que tudo corra mal eu me sinta bem por uma noite. Apanho o comboio e em poucas horas estou em Lisboa pela primeira vez naqueles últimos 6 meses.
Não é que eu não gosto de Lisboa, ou de viajar mas cada vez acho mais que a minha relação com o Marco me prende muito à minha cidade, que nunca vamos a lado nenhum. Até fiquei surpreendida por ele querer ir ver o concurso de bandas, ele costuma odiar essas coisas todas.
Passeio pelo Chiado quando uma mão toca no meu ombro. Congelo, não pode ser ele. Ele não me seguiria, ele não pode saber que estou aqui.
"Hey calma, sou só ele"
Aquela voz outra vez, aquela voz calma, aquele conforto.
Viro-me e vejo-o ali. O sol faz os seus olhos mais brilhantes, nunca tinha reparado nisso.
"Hey"
"Hey"
"Não devias estar no Colombo? E vocês chegam sempre assim tão cedo?"
"Primeiro nós temos também um no Chiado se quiseres ir assistir, segundo não normalmente chegamos mais tarde, terceiro é bom rever-te"
"Desculpa a minha falta de educação, também é bom rever-te"
"Queres caminhar comigo?"
"Se não te importares gostaria muito"
Caminhamos os dois juntos pelas ruas do Chiado. Quando chegam as 15 horas despede-se de mim e vai para a Fnac. Acho que vou acabar por ir ver os dois showcases e não só um.
Continuo a passear por Lisboa, vou ver o Marquês, El corte inglês, aquelas ruas tão diferentes e tão belas.
Quando se aproximam as 16:30 desço até ao Chiado novamente. Entro na fnac e vejo já algumas fãs sentadas e prontas a assistir ao concerto. Sento-me numa cadeira cá ao fundo.
Às 17 horas em ponto eles entram no palco. Após algumas apresentações básicas de todos os elementos, começam a cantar as suas músicas.
Nunca pensei dizer isto mas as harmonias daquela banda são puramente divinais. Não falham uma nota, não erram um tempo, não há um acorde desafinado. A sua forma de tocar e de cantar é simplesmente perfeita.
"Agora vamos tocar uma música que nos é muito especial. Não só porque é uma balada mas pela mensagem que queremos que sintam. Porque nós gostamos mesmo muito de vocês malta. Agora e só para vocês, aqui está a " Pouco de Sol""
Os acordes nessa música voaram pelos meus ouvidos, o meu coração bate mais forte. "Eu achei que no fundo gostavas de mim"
Sinto as lágrimas a escorrerem pela minha face. Esta música, ela descreve tão bem como me tenho sentido nos últimos tempos. Acho que sempre me senti estrangulada com o Marco, só nunca reparei no quanto isso me fazia infeliz. Não existe sol nesta relação, só existe escuridão. Ele nunca me diz algo de bom, ele só me rebaixa. Mas não posso, não posso deixá-lo apesar de me sentir assim.
Quando dou por mim já corri daquele lugar para a casa de banho. Vejo o olhar preocupado dele enquanto me vê a correr pela loja mas estando a tocar não pode interromper claro, e porque interromperia?
Chego à casa de banho e olho-me ao espelho. Não reconheço este reflexo, já não me conheço a mim mesma. Sou uma estranha até para mim.
Não sei quanto tempo fico ali mas só quando me sinto um pouco melhor é que levanto a cabeça e caminho para fora.
Quando passo as portas um rosto preocupado olha-me
"Estás bem? Saíste a correr e fiquei preocupado"
"Estou bem Mário,obrigada"
"Anda comigo. Não te vou largar mais hoje"
Assim dá-me o braço e vamos até à zona dos autógrafos. Encosto-me e espero que todas as fãs tenham aquela foto ou aquela dedicatória. É incrível ver como uma banda torna tanta gente tão feliz. Eles sal mesmo incríveis.
Uma hora depois estão despachados. O Mário aproxima-se de mim e apresenta-me aos outros membros das banda. O Guilherme, Rodrigo e João. Definitivamente nomes diferentes do usual numa banda. Apesar de que quase todas as bandas terem um João.
"Queres vir connosco para o Colombo?"
"Não posso aceitar isso rapazes."
"Porque não? Estás sozinha sem carro. E não te deixamos ir a pé simplesmente"
Assim ajudo-os a guardar os instrumentos e depois caminhamos para o exterior.
"Sabes que isto é uma loucura não sabes? Tu conheces-me há tipo 4 dias Mário."
"Errado menina, conheço-a à 5 dias. Não se lembra de me observar no centro"
"Whatever"
"No whatever"
Olho para ele confusa e ele simplesmente desata a rir-se da minha cara.
"Devias tão ver a tua cara agora, muito bom"
"O que disseste não faz sentido, sabes isso não sabes?"
"Se tudo na tua vida fizesse sentido, não serias tão feliz por viver"
"Okay Mário, o poeta"
Ajudo-os a arrumar tudo e vamos até ao Colombo. No showcase, e apesar de ser o segundo naquela tarde, a entrega em cada música é cada vez maior. Esta banda vai muito longe.
"És a Maria não és?"
Olho para a rapariga ao meu lado. Como é que ela sabe o meu nome?
"Sou, e tu?"
"Sari"
"Hey Sari. Como sabes o meu nome?"
"O Mário disse-me que tu vinhas e que precisas de uma companhia"
"Mas como me conheces?"
"Há 5 dias que o Mário só fala de ti. Eu sou amiga deles."
O Mário só fala de mim?
"Eu sei que estas a pensar que sou maluca."
"Acho-te é querida opa"
Com isto termina o showcase. Tanto eu como a Sari esperamos até irmos ter com eles.
"Heya grande Sari"
"Sua alteza"
"Como está rainha?"
"What?" ( digo surpreendida)
"Pois, para eles eu sou rainha das fãs dela só porque os apoio."
"Mas tu és a nossa rainha, sua alteza"
"Só tu João, só tu"
Continuamos as conversas e em breve já todas as fãs deixaram a sala. Tanto eu como a Sari ajudamos a arrumar tudo.
"Então Maria, ainda vais regressar hoje?"
"Sim, devo apanhar o comboio de madrugada e ainda chego a tempo de dormir 2 horas e ir para a faculdade"
"E se nós te deixássemos lá?"
Olho surpreendida para o Mário. Ele é mesmo um amor de pessoa e estar com ele hoje só me fez ver o quão querido e preocupado ele é. Quem um dia namorar com este rapaz vai ser a miúda mais sortuda do mundo. Ele é o oposto do Marco sempre distante, frio e ditador. Ele é tão maravilhoso...
"Não posso aceitar rapazes"
"E porque não? Nós vamos para Viseu, fazemos um ligeiro desvio e deixamos-te em Coimbra"
"Rapazes... Não posso..."
"Shiu, está feito, passamos em Coimbra"
Olho para o Mário como se estivesse ofendida por me ter mandado calar. Ele em resposta sorri e abraça-me levemente.
Com isto acabamos por entrar todos na carrinha deles e seguir viagem.
A viagem começa muito animada com eles a falar de como é estar numa banda, como é serem uma banda oficialmente com.dias e já terem tantas fãs que os seguem e vão para os seus concertos.
Apesar de a conversa ser interessante o sono apodera-se de mim. Seria de esperar já que há 4 dias que não durmo nada de jeito. Quando dou por mim estou a dormir profundamente no ombro do Mário.
Sabes que não devias ter ido não sabes? Eu tinha-te dito para não falares com ele. Eu sei que lá foste. Eu sei de tudo já te esqueceste
Mas vou te dar o benefício da dúvida desta vez. Não te esuqecas que só a mim me pertences
Acordo um pouco sobressaltada e olho em meu redor. O Marco não está ali, estou com outras pessoas que tenho quase a certeza que não me farão mal.
Quando dou por mim, estamos a chegar a Coimbra. Dou as indicações e eles deixam-me em frente à minha porta. O Mário acorda e sai à rua comigo. Está frio, aquele frio estranho de Coimbra que tanto nos arrepia como nos conforta.
O Mário sobe comigo até à minha porta.
"Estavas a sonhar com ele não estavas?"
"Com quem?"
"Com o Marco."
"É normal sonhar com ele, ele é o meu namorado."
"Mas não era um sonho feliz pois não?"
Olho para ele surpresa, julguei que dormia quando eu acordei e saber que ele me viu assustada, faz-me pensar que ele sabe de algo.
"És muito boa a esconder as marcas com maquilhagem mas quando saiste da casa de banho no Chiado ainda tinhas um pouco do olho roxo à mostra Maria"
Não respondo, simplesmente baixo a cabeça e começo a chorar.
"Porque não o deixas? Ambos sabemos que ele te assusta imenso"
"Porque é complicado"
"Estás a justificá-lo?"
Ouve-se a buzina da carrinha e ambos entendemos que a conversa fica por ali.
"Desculpa eu tenho de ir"
"Não faz mal, vai lá Mário"
"Mas vou-te ligar e vamos acabar esta conversa, ou então passo por cá em breve"
"Okay"
"Prometes-me uma coisa?"
"Depende"
"Não voltas a deixar que ele te bata e te deixe nesse estado. Independentemente das circunstâncias"
"Sim, acho"
Ele dá-me um abraço apertado e beija-me a bochecha.
"Independentemente de tudo mantêm-te viva okay? E liga-me ou manda mensagem eu respondo sempre"
"Obrigada Mário. Até breve"
"Mais breve do que podes imaginar"
Com isto sorri e corre pelas escadas abaixo. Vejo a carrinha a arrancar à distância e a sair do alcance do meu olhar




Oh meu deus obrigada por tudo
Obrigada pelos votos e comentarios, obrigada mesmo
Prometo por mais em breve :)
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Omnia fert aetasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora