Et non dico mendacium quaestiones

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Subo até ao meu quarto e os joelhos cedem simplesmente. Sinto a minha face a embater no chão e não me importo com a dor que isso provocou, com a marca com que a minha cara pode vir a ficar. Como é possível? Como posso eu ser tão idiota? Ser tão fraca? Eu nunca gostei do Marco, nunca o quis na minha vida e agora submeto-me a tudo o que ele me impõe? Como me tornei tão patética, tão lamentável?
Ouço o meu telemóvel a vibrar e vejo que recebi uma mensagem.

Espero que cumpras a promessa, eu preocupo-me contigo

Como pode ele preocupar-se se mal me conhece, pelo que ele sabe de mim até posso ser uma assassina em série à procura de uma próxima vítima. Sorrio momentaneamente até sentir o mundo a cair aos meus pés uma e outra vez. Aquele medo que não sentia à anos retorna ao meu corpo e sinto que não pertenço mais aqui. Que faço eu aqui sem ser estragar a vida das pessoas? Para que vivo aqui?
Ouço a campainha a tocar. Perdida nos meus sentimentos perdi a noção do tempo. É sábado e hoje era o dia em que eu e o Marco íamos "passear". E já amanheceu e eu nem dormi. Ouço a porta tocar novamente. Ignoro novamente. Até que ouço a porta a ser aberta. Raios esqueci-me que ele sabe onde está a chave.
" Maria"
Não faço nenhum barulho, não me mexo do chão. Pode ser que ele pense que cá não está ninguém. Sei que ele está furioso, ontem só recebia mensagens de amigas a dizer-me que ele só perguntava por mim e sei que vai correr mal.
"MARIA"
Quieta, não te mexas, penso mentalmente.
Mas é tarde demais. Ele já entrou pela porta e já me levantou do chão pelo colarinho da camisola
"Onde é que tu foste ontem? Tu pensas que me enganas? Eu sei que saiste de Coimbra onde foste?"
"A Lisboa", respondo a medo preparando-me para o pior
"A Lisboa? Tu foste ter com aquele rapaz outra vez não foste? Tu foste ter com ele? Tu andas a trair-me?"
"Não"
"MENTIROSA!"
Com isto sinto um estalo na minha face. Ele continua a fazer-me questões e eu simplesmente deixo de lhe responder. Ele fica ainda mais furioso e atira-me ao chão pontapeando-me repetidamente na face, na barriga e nas pernas. Sinto sangue a escorrer pelo meu nariz e pelo lábio. Com a força de um pontapé a minha cabeça bate no armário e sinto também aí sangue a escorrer.
Se calhar é desta, penso para mim.
Ele pega em mim e atira-me novamente ao chão dando-me murros repetidos pelo corpo. Pelo que sinto devo ter pelo menos uma costela partida e se não tiver uma perna é já uma vitória
"Marco, pára"
Mas ele continua até se fartar. Quando me vê já completamente caída, rodeada de sangue e sem me mexer levanta-se, limpa o meu sangue da sua roupa e olha-me
"Nós somos felizes, tu não devias ter olhado para ele"
Com isto fecha a porta e saí daquela casa sem chamar ninguém.
Tento mexer-me mas as dores impedem qualquer movimento. É então que vejo o meu telemóvel e marco o último número do qual recebi algo.
A voz do outro lado atende ao primeiro toque
"Maria, que bom ouvir a tua voz. Queres falar comigo"
Não consigo falar, o sangue na minha boca acumulou-se e impede-me de formar frases
"Marco...espancada...preciso...ajuda"
Com isto o telemóvel caí-me da mão e com ele o meu corpo. Ainda ouço no outro lado o Mário gritar por mim mas já tudo se tornou escuro demais.




Hey malta
Desculpem demorar mas queria aquecer a história e bem.
Estou muito agradecida pelo feedback e desculpem o capítulo pequeno o próximo compensa.
Adoro vos e um feliz natal e bom ano novo
Xx

Omnia fert aetasWhere stories live. Discover now